Cinco vídeos de protestos no Chile em 2019 circulam como se fossem atuais

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  • Publicado em 27 de setembro de 2022 às 20:50
  • Atualizado em 28 de setembro de 2022 às 14:56
  • 6 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Desde o último 25 de setembro circulam nas redes sociais cinco vídeos gravados em 2019 como se mostrassem protestos no Chile em 2022. Segundo os usuários que compartilharam o conteúdo mais de 13 mil vezes, as imagens teriam sido feitas durante o governo do atual mandatário chileno, Gabriel Boric. Mas os registros, que exibem prédios e meios de transporte em chamas, são de 2019, quando o país era governado pelo ex-presidente Sebastián Piñera.

“CHILE HOJE. PODE SER AQUI, É SÓ APERTAR 13 DOMINGO QUE VEM!”, diz um dos conteúdos publicados no Twitter e que mostra uma gravação de um vagão de metrô em chamas, fazendo referência ao primeiro turno das eleições gerais no Brasil, que acontecerão no próximo dia 2 de outubro. O vídeo também foi compartilhado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição.

Outra filmagem, que mostra um incêndio em uma estação de trem, também circula na plataforma. Uma terceira gravação, de uma série de ônibus incendiados, foi compartilhada no Facebook, e um quarto vídeo, no qual se vê um prédio em chamas, circula no Instagram. Este último conteúdo também foi enviado para verificação ao WhatsApp do AFP Checamos.

Usuários também compartilham no Twitter o vídeo de policiais com roupas em chamas dizendo ser a situação do Chile “após a mudança de governo”.

Os conteúdos também foram compartilhados no TikTok, Kwai e Telegram.

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Combinação de capturas de tela feita em 26 de setembro de 2022 de publicações no Twitter e Facebook ( .)

Mas, ao contrário do que sugerem as publicações, esses registros não são atuais, e sim de 2019, quando o presidente do país era Sebastián Piñera, e não o atual mandatário, Gabriel Boric, como alegam ou sugerem alguns dos conteúdos que associam as imagens à “esquerda” eleita no Chile.

Naquele ano, o Chile enfrentou uma série de protestos intensos que começaram em outubro. As manifestações foram inicialmente motivadas por um aumento na tarifa do metrô, mas logo passaram a reivindicar também mudanças estruturais no modelo político e econômico do país.

Os protestos levaram o então presidente, Sebastián Piñera, a convocar uma assembleia constituinte para elaborar uma nova constituição para o Chile, que ainda segue a Carta Magna elaborada durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Prédio em chamas

Um dos vídeos que circula nas redes é uma gravação de aproximadamente 11 segundos que mostra um prédio incendiado à noite.

Uma busca reversa por fragmentos da sequência usando a ferramenta InVID We Verify* e o buscador Google Lens trouxe como resultado diversas reportagens de veículos de imprensa datadas de outubro de 2019 (1, 2), que incluíam tuítes publicados nesse período com o mesmo vídeo.

Uma dessas publicações, feita em 18 de outubro de 2019 e incluída na reportagem do jornal El País, traz como legenda: “Queimam edifício enel”.

A Enel é uma companhia de eletricidade que atua no Chile. O incêndio no prédio da empresa, de fato, ocorreu em 18 de outubro de 2019 e foi noticiado pela AFP e por outros meios de comunicação à época (1, 2).

Vagão do metrô incendiado

Outra gravação viralizada, de cerca de 10 segundos, mostra um vagão em chamas.

Uma busca reversa no Google Lens pelas imagens levou a um artigo de outubro de 2019 com diversos vídeos dos protestos à época, incluindo essa mesma gravação. A legenda da filmagem dizia, em tradução livre: “No sábado, manifestantes queimaram um trem na linha do metrô de Santiago”.

Uma pesquisa pelas palavras-chave em espanhol “queman” + “tren” + “metro” + “Santiago” mostrou como resultado reportagens de veículos em espanhol que continham a mesma gravação e identificavam que o incêndio ocorreu na Estação Elisa Correa do metrô da capital chilena.

Imagens feitas pela CNN Chile na data também mostram um cenário semelhante ao do vídeo viral.

O vídeo já havia sido verificado pela AFP quando circulou em inglês como se mostrasse um protesto ocorrido nos Estados Unidos.

Ônibus queimados

Em outra filmagem viralizada, feita do alto de um edifício, é possível ver ônibus queimando e soltando fumaça nas ruas abaixo.

O conteúdo já havia sido verificado em 2019 pela AFP, quando circulou nas redes como se mostrasse um protesto na China.

Na época, a AFP identificou que a mesma gravação havia sido publicada no Facebook em 19 de outubro de 2019 com uma legenda informando que a filmagem foi registrada em Santiago.

Uma pesquisa por palavras-chave também identificou uma reportagem em vídeo do canal chileno 24 Horas, de 19 de outubro de 2019, que permite observar os mesmos elementos da gravação viral:

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Comparação feita em 26 de setembro de 2022 entre uma das publicações compartilhadas no Facebook (E) e um vídeo do canal 24 Horas de outubro de 2019 ( .)

Estação de trem em chamas

O quarto vídeo que circula nas redes é uma filmagem de 14 segundos que mostra o exterior de uma estação de trem em chamas.

Uma busca reversa pelas imagens no Google Lens levou a uma publicação no Twitter feita pelo perfil oficial do telejornal chileno Teletrece (T13) em 18 de outubro de 2019 com o mesmo vídeo e a legenda: “Outro incêndio atinge a estação Trinidad na Linha 4 do metrô de Santiago”.

Uma pesquisa pelas palavras-chave em espanhol “incendio”, “metro” e “Trinidad” mostrou outras notícias de outubro de 2019 a respeito do incêndio na estação que continham imagens semelhantes (1, 2).

Policiais queimados

O vídeo de alguns policiais tentando apagar o fogo que atingiu suas roupas também circula nas redes como se fosse atual.

Entretanto, uma busca reversa pelas imagens no Google trouxe como resultado diversas notícias datadas de novembro de 2019, quando os protestos no Chile ainda ocorriam, com a mesma filmagem do evento (1, 2, 3).

As notícias informavam que duas policiais ficaram com queimaduras graves no rosto ao serem atacadas com coquetéis molotov durante os protestos.

A conta oficial da força policial chilena no Twitter também se pronunciou sobre o ocorrido à época:

*Uma vez instalada a extensão InVid-WeVerify no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisa da mesma em vários buscadores.

28 de setembro de 2022 Atualiza título

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