Segundo metodologia do Datafolha, pesquisadores não podem entrevistar pessoas que se voluntariam
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- Publicado em 15 de setembro de 2022 às 22:59
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- Por AFP Brasil
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“Pesquisas. Credibilidade zero”, diz a legenda de uma publicação compartilhada no Twitter com um vídeo no qual se ouve um homem questionando de maneira incisiva uma mulher que seria pesquisadora do instituto: “Datafolha se for Bolsonaro ela não faz a pesquisa, tá fugindo, tá se escondendo. Se for Bolsonaro… ‘eu fui colocar lá que era Bolsonaro e eles não aceitaram não”. Entendeu? Se você fala que é Bolsonaro ele corre ó, correu, pra você ver a mentira, falcatrua”.
O mesmo vídeo foi enviado pelo WhatsApp ao AFP Checamos e circula no Facebook, Instagram, Telegram, Kwai e TikTok, a poucas semanas do primeiro turno das eleições gerais no Brasil.
Sequências compartilhadas em diversas plataformas têm o logo do TikTok e a inscrição da conta “israelrangel4978”. Uma busca por esse perfil levou a um vídeo no qual um homem reclama de ter tido a sua publicação apagada e detalha a interação com a pesquisadora do Datafolha.
Na gravação, ele assume que se voluntariou a participar da pesquisa: “Eu falei pra ela: ‘faz a pergunta’. Quando a gente falou que era Bolsonaro ela saiu correndo”.
No entanto, o pedido de participação em uma pesquisa é impedido pela metodologia do Datafolha.
“A abordagem dos entrevistados tem que ser aleatória, se aceitarmos pessoas que se oferecem, independentemente da posição política, teremos um viés na amostra”, explicou à AFP em 14 de setembro de 2022 a diretora do instituto, Luciana Chong.
Ela confirmou que a cena viral envolve uma pesquisadora do Datafolha e que aconteceu em 13 de setembro em São Paulo. “No episódio em questão, a pesquisadora foi abordada por um segurança de um estabelecimento comercial, na Vila Leopoldina, após realizar uma entrevista em frente a este local. Esse segurança estava filmando a pesquisadora quando a abordou, perguntou se ela trabalhava para o Datafolha e solicitou que ela o entrevistasse”, disse.
Assim, Chong reiterou que a abordagem foi correta e que, além do pedido de participação que tornaria a amostra enviesada, a funcionária tinha cotas de idade a cumprir, que a pessoa em questão não atenderia.
A assessoria de imprensa da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) explicou à AFP em 2 de agosto de 2022 que cada filiado tem seu critério de aferição, mantendo preservados a qualidade e o alcance da amostra, e ressaltou: “Ninguém que se voluntaria responde pesquisa sobre qualquer assunto. A escolha dos respondentes segue critérios técnicos estabelecidos pela metodologia da pesquisa”.
Equipes do Datafolha têm sido hostilizadas ao realizar pesquisas eleitorais. No mesmo dia em que a pesquisadora que teve a imagem difundida nas redes correu para se distanciar de ataques, outras nove intercorrências foram registradas nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Alagoas, Maranhão, Goiás, Pará, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O AFP Checamos já verificou (1, 2, 3) outros conteúdos falsos ou enganosos a respeito de pesquisas eleitorais.