Pessoas observam o espaço com um telescópio em 9 de agosto de 2013, em Villeneuve-d'Ascq, França ( AFP / Philippe Huguen)

Nasa não alertou que um asteroide traria "perigo real para a humanidade" em 6 de maio de 2022

Publicações nas redes sociais asseguram que a Nasa informou que em 6 de maio de 2022 o asteroide 2009 JF1 impactaria a Terra causando o que considerou como um “perigo real para a humanidade”. As postagens, embasadas em um artigo de um blog, foram compartilhadas mais de 900 vezes desde 29 de abril. Mas embora a agência espacial norte-americana tenha registrado um corpo celeste com previsão de passar "perto" da Terra nessa data, ela não mencionou qualquer risco grave sobre um possível impacto. Especialistas da Nasa disseram à AFP que o 2009 JF1 provavelmente não colidirá com o planeta.

“Caros amigos e amigas seguidores de nossa página. tudo leva ah crêr estamos no fim dos tempos, Nas últimas horas os principais meios de comunicação estão publicando uma notícia realmente alarmante. O asteroide ‘2009 JF1’ foi considerado pela NASA como um perigo real para a humanidade.E a agência espacial norte-americana já anunciou oficialmente a data para o impacto deste asteroide: 6 de maio de 2022 às 8h34 da manhã (CMT +1)”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook e acompanhada pelo link de um artigo com a suposta notícia.

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Captura de tela feita em 6 de maio de 2022 de um artigo no site Chave dos Mistérios ( . / )

Conteúdos semelhantes também circulam em inglês e espanhol.

Os asteroides são objetos rochosos menores que os planetas, formados há cerca de 4,5 bilhões de anos. A maioria orbita o Sol, geralmente entre as órbitas de Marte e Júpiter.

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( AFP / Jonathan STOREY, Maria-Cecilia REZENDE)

O 2009 JF1 foi descoberto em 4 de maio de 2009 e é classificado pela Nasa como um "pequeno objeto" e um "asteroide próximo à Terra" (NEO, na sigla em inglês). 

No entanto, não é verdade que a agência espacial dos EUA tenha considerado que esse corpo celeste seja “um perigo real para a humanidade”.

Pesquisas feitas pela AFP no site da agência espacial não levaram a resultados sobre essa afirmação. Também não há registro de aviso semelhante no Wayback Machine ou no Archive, plataformas que permitem arquivar cópias de conteúdo mesmo que posteriormente ele seja deletado.

Baixa probabilidade de impacto

De acordo com o Centro de Estudos de Objetos Próximos à Terra (CNEOS), a agência da Nasa que monitora a probabilidade de impacto de asteroides, o 2009 JF1 tem uma probabilidade muito baixa de colidir com o planeta, 0,00074% ou um em 140.000. Em outras palavras, o corpo rochoso tem 99,99926% de chance de não tocar a Terra. 

De fato, o 2009 JF1 não aparece ao utilizar as configurações padrão da lista Sentry, ferramenta da agência espacial norte-americana que monitora possíveis impactos contra o planeta.

Uma busca feita no site do CNEOS pelos termos “perigo real para a humanidade” em inglês não levou a qualquer aviso sobre um impacto possível. Tampouco foram encontrados artigos na seção de notícias, ou em suas versões arquivadas.

Consultado pela AFP em 5 de maio de 2022, o Dr. Paul W. Chodas, diretor do CNEOS, confirmou que "as chances de 2009 JF1 impactar são extremamente, extremamente pequenas (...) e o asteroide é tão pequeno que definitivamente não deve ser motivo de preocupação".

"Quem anunciou nossos cálculos para 2009 JF1 aparentemente teve que procurar muito para encontrá-lo em nossa lista de mais de mil outros impactos potenciais", disse o diretor sobre as publicações que circulam nas redes sociais.

Chodas também afirmou que o 2009 JF1 não aparece nas configurações padrão da lista Sentry para monitorar impactos potenciais "porque é extremamente improvável e o asteroide é muito pequeno".

A Agência Espacial Europeia informou inicialmente em 14 de fevereiro de 2022 que a probabilidade de impacto do 2009 JF1 era de 1 em 4.000, tornando-o "um dos eventos mais previsíveis" em sua lista de riscos. Após uma nova investigação, a probabilidade "foi reduzida para apenas 1 em 1.700.000" e, consequentemente, o corpo foi "relegado junto com outros objetos mais rotineiros que representam uma ameaça mínima", acrescentou a instituição.

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Um cientista observa pelo telescópio Swope no Observatório Las Campanas, no deserto do Atacama, no norte do Chile, em 14 de outubro de 2021 ( AFP / Martin Bernetti)

Sobre o asteroide

Luis Barrera, doutor em Astrofísica e acadêmico da Universidade Metropolitana de Ciências da Educação do Chile, explicou à AFP que “quando a Nasa calcula e indica que há objetos próximos à Terra, isso não significa um impacto”, já que o asteroide está “muito longe”

"Os dados indicam que esse objeto [2009 JF1] está bem longe da Terra em comparação com outros que estão mais próximos", acrescentou.

Segundo Barrera, o 2009 JF1 pode ser classificado como um “Apolos”, ou seja, corpos celestes que “não têm um tamanho que possa produzir um fenômeno [de destruição] em escala global”. Se 2009 JF1 fosse uma ameaça, seria classificado como Asteroides Potencialmente Perigosos (PHA, na sigla em inglês).

A AFP não encontrou o 2009 JF1 no site do CNEOS dentro dessa classificação porque devido às suas medidas, 10 metros de diâmetro, também não cumpre as condições para ser registado dessa maneira. Barrera explicou que asteroides potencialmente perigosos têm um diâmetro superior a um quilômetro.

Chodas concordou que o asteroide é “muito pequeno” e que, caso impactasse a Terra em 6 de maio de 2022, “queimaria na atmosfera, produzindo pouco mais do que uma chuva de pequenos meteoritos”.

A AFP já fez outra verificação sobre o risco de um asteroide impactar a Terra. 

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