Beber água não faz parte das medidas de prevenção contra o novo coronavírus
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- Publicado em 4 de fevereiro de 2020 às 19:23
- Atualizado em 5 de fevereiro de 2020 às 13:12
- 3 minutos de leitura
- Por Julie CHARPENTRAT, AFP Brasil
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As postagens circulam amplamente no Facebook (1, 2, 3) e no Twitter ao menos desde 29 de janeiro, aparecendo também em francês e espanhol. De acordo com o texto, o “Departamento de Saúde do Canadá” emitiu um boletim oficial com recomendações de como se proteger do novo coronavírus, detectado na China no final de 2019.
Entre as indicações, a mensagem afirma que “o método de prevenção agora é manter a garganta úmida”, caso contrário “o vírus invadirá seu corpo dentro de 10 minutos”. Por isso, aconselha-se beber água morna em quantidades precisas “sempre que sentir a garganta seca”.
A orientação não consta, no entanto, em listas oficiais de medidas de prevenção do 2019-nCoV.
Não há, ainda, uma entidade chamada “Departamento de Saúde do Canadá”, como a citada nas publicações viralizadas. A autoridade sanitária canadense se chama Health Canada, ou Saúde Canadá, em tradução livre.
Procurada pela equipe de checagem AFP, a autoridade sanitária do Canadá negou ter emitido as orientações replicadas nas redes sociais. De fato, a recomendação de beber água morna não aparece na seção de seu site que ensina como se prevenir do novo coronavírus.
Como se prevenir do novo coronavírus
Em sua página no Facebook, o Ministério da Saúde brasileiro publicou uma lista de recomendações de como se prevenir da nova variedade do vírus, entre elas lavar as mãos com frequência, não compartilhar objetos de uso pessoal e evitar contato próximo com pessoas que apresentem os sintomas da doença. O consumo de água não é mencionado.
Como não existe nem remédio, nem vacina contra o 2019-nCoV, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também divulga recomendações, em inglês, para limitar os riscos de contaminação. As orientações - as mesmas difundidas por autoridades locais em diversos países -, incluem lavar as mãos, evitar pessoas doentes, cobrir a boca e o nariz com um lenço ao espirrar e, em zonas de risco, evitar o contato com animais de fazenda ou selvagens.
Entre outras afirmações, as publicações viralizadas também recomendam não ir a lugares lotados “até o final de março”, um prazo que não possui fundamento científico ou epidemiológico, uma vez que as autoridades sanitárias não podem prever qual será a duração de uma epidemia.
Em 2003, a epidemia da SRAS - relacionado a um coronavírus da mesma família do atual - foi contida em alguns meses devido a uma grande mobilização internacional. A China impôs rígidas medidas de higiene à população, incluindo o uso de máscaras, e utilizou dispositivos de isolamento e de quarentena.
Em 30 de janeiro, a OMS declarou emergência internacional ante a propagação do novo coronavírus. No dia seguinte, centenas de estrangeiros foram retirados de Wuhan, cidade onde começou a epidemia.
Segundo os dados oficiais de 4 de fevereiro de 2020, o novo vírus deixou mais de 400 mortos e mais de 20.000 pessoas contaminadas na China, um balanço maior do que o registrado durante a crise do SRAS entre 2002 e 2003. O 2019-nCoV também deixou um morto em Hong Kong e um nas Filipinas.
Em resumo, não é verdade que a autoridade sanitária do Canadá recomendou o consumo de água morna para se prevenir do novo coronavírus. A orientação não consta, ainda, nem nas recomendações oficiais da Organização Mundial da Saúde,(OMS) nem nas orientações Ministério da Saúde brasileiro.