Um cachorro foi colocado em quarentena em Hong Kong após dar positivo para o novo coronavírus
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- Publicado em 6 de março de 2020 às 19:26
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- Por AFP Espanha, Natalia SANGUINO, AFP Brasil
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Em publicações no Facebook com links para a informação sobre o cachorro cujo exame deu positivo para o coronavírus, várias pessoas expressavam suas dúvidas: “Gente moro na Itália e aqui o sistema sanitario confirmou que os animais não pegam esse vírus [sic]” e “Não tem nada comprovado que os animais transmitam esse vírus” foram os comentários de alguns usuários.
Outros, por sua vez, acreditam que o coronavírus detectado no cachorro é o canino, e não o novo coronavírus, embora nas respostas diferentes pessoas tentassem explicar: “GENTE ISSO SEMPRE EXISTIU ! CORONA VIRUS SEMPRE EXISTIU NOS ANIMAIS ! QUER PROTEJER SEUS PETS ? VACINEM CONTRA GRIPE ! E OUTRA ..... ‘NÃO É ZOONOSES’ NÃO TRANSMITEM PARA HUMANOS ! APENAS HUMANOS PODEM CONTAMINAR OUTROS HUMANOS!!!!!! [sic]” e “Os caes tem coronavirose canina e que tem vacina é e um vírus diferente desse humano [sic]”, escreveram usuárias.
Em espanhol (1, 2), as dúvidas eram muito semelhantes em uma série de publicações mencionando o contágio do animal.
O cachorro com o novo coronavírus
Diferentes meios de comunicação (1, 2, 3, 4, 5) informaram a respeito do animal de Hong Kong, incluindo a Agência France Presse (AFP), dado que as autoridades locais anunciaram uma quarentena de 14 dias para os animais cujos donos testaram positivo para o novo coronavírus.
O Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação e o próprio governo de Hong Kong, território semiautônomo chinês, informaram em seus sites sobre a quarentena dos animais com donos cujos exames deram positivo para Covid-19.
O comunicado assinala que no último 26 de fevereiro, “um cachorro de um paciente infectado com o vírus da Covid-19 ia ser entregue” ao Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação para a coleta de “amostras orais, nasais e retais para o teste do vírus”. “As amostras das cavidades nasal e oral deram positivo leve ao vírus da Covid-19. O cachorro não apresenta sintomas relevantes”, diz o texto oficial.
O organismo indicou que não dispõe “de prova de que os animais de estimação possam ser infectados com o vírus da Covid-19 ou que possam ser uma fonte de infecção para as pessoas” e assegurou que controlará o cão para “confirmar se realmente foi infectado com o vírus, ou foi efeito da contaminação do ambiente do focinho e da boca”.
A OMS continua dizendo em sua página na Internet que não está provado que o vírus possa ser transmitido de humanos para animais.
Como foi informado pela AFP, o cachorro com o vírus “não apresenta nenhum sintoma”, mas deu positivo “em níveis muito baixos”, sem que as autoridades explicassem as razões para realizar os testes em um animal.
Diferenças entre o coronavírus de 2019 e o coronavírus canino
O coronavírus ao qual alguns usuários fazem referência é de outro tipo, diferente do novo coronavírus, que surgiu em Wuhan, na China, no final de 2019. De acordo com a explicação dada à AFP por telefone pelo professor de Doenças Infecciosas na Faculdade de Veterinária da Universidade Complutense de Madri Víctor Briones: o coronavírus canino “é um quadro intestinal”, não respiratório, como o novo coronavírus.
“Esse cachorro entrou em contato com esse novo coronavírus e não sei se é capaz de transmiti-lo”, acrescentou.
“O coronavírus que até agora conhecíamos dos cachorros lhes causa uma diarreia bastante contagiosa” pelo ciclo fecal-oral, segundo o professor Briones, que assinalou que este coronavírus canino aparece, “sobretudo, em animais jovens”.
Este relatório da Associação de Veterinários Espanhóis Especialistas em Pequenos Animais (AVEPA) explica, assim como Briones, que o novo coronavírus é uma “pneumonia de causa desconhecida”, ou seja, localizada no sistema respiratório. O informe, com data de 29 de fevereiro, não incluía até 6 de março o caso do cão infectado em Hong Kong: “Ainda não sabemos se os animais podem ser infectados”, diz o relatório, advertindo, no entanto, que “esta é uma situação em rápida evolução”.
Em relação à vacinação de cães para prevenir o coronavírus, o informe da AVEPA explica: “As vacinas contra o coronavírus canino [...] NÃO estão autorizadas para a proteção contra infecções respiratórias”, como o novo coronavírus. “Os veterinários NÃO devem usar tais vacinas diante do surto atual pensando que pode haver alguma forma de proteção cruzada”, continua o texto, insistindo que não há “absolutamente nenhuma evidência de que a vacinação de cães com as vacinas comercialmente disponíveis forneça proteção cruzada contra a infecção” do novo coronavírus.
Até 6 de março, mais de 98.000 pessoas foram infectadas em 87 países e 3.300 morreram. Além da China, onde a doença surgiu, os países mais afetados são Irã, Itália e Coreia do Sul.
Em resumo, a informação do primeiro caso do novo coronavírus detectado em um cão é verdadeira. De fato, existe um coronavírus canino, mas este é diferente daquele que apareceu inicialmente em Wuhan, na China, no final de 2019: o primeiro afeta o sistema digestivo, e o segundo, o sistema respiratório.
A AFP já verificou outras desinformações relacionadas ao novo coronavírus.