Os dados utilizados para acusar uma fraude em Wisconsin nas presidenciais dos EUA são de 2018
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 5 de novembro de 2020 às 21:27
- 3 minutos de leitura
- Por Manon JACOB, AFP Estados Unidos
- Tradução e adaptação AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2024. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“Wisconsin foi pra recontagem. Inexplicavelmente tem mais votos computados do que eleitores registrados. EUA não é Brasil, gente! Já estão descobrindo a fraude”, dizem postagens compartilhadas no Facebook, acompanhadas por uma parte de uma captura de tela que também circulou amplamente em inglês.
Essa afirmação foi igualmente encontrada em sites (1), no Twitter (1, 2) e no Instagram (1). Várias publicações compartilham capturas de tela com cifras similares: 3.129.000 eleitores registrados e 3.239.920 ou 3.170.206 votos contabilizados segundo a publicação.
A acusação de fraude em Wisconsin viralizou também em inglês (1, 2) e espanhol (1, 2).
Contudo, as estatísticas não são corretas: em 1º de novembro de 2020, Wisconsin registrava 3.684.726 eleitores ativos, segundo os dados da Comissão Eleitoral do estado.
Segundo uma busca por palavras-chave realizada pela equipe de checagem da AFP, a cifra fornecida pelas postagens viralizadas parece ter origem em um site especializado em estatísticas populacionais, o World Population Review. Coincidem com algumas das publicações compartilhadas o desenho e a ordem da tabela.
Algumas postagens em inglês, inclusive, direcionam a esta página.
A tabela da qual os dados foram retirados é intitulada “Número de eleitores registrados por estado 2020”, mas, na realidade, o link da fonte para estes dados levava a um registro do censo norte-americano vinculado aos eleitores registrados em 2018.
No último dia 4 de novembro, a página corrigiu as cifras e informou em uma mensagem: “uma versão anterior desta página continha dados de 2018. Os dados atuais são os mais recentes fornecidos por cada estado”.
As mesmas estatísticas de registro de eleitores aparecem no Balllotpedia, página que cita o Escritório do Censo Norte-Americano “na eleição de novembro de 2018” e fornece a cifra de 3.129.000 eleitores registrados em Wisconsin.
O encarregado de informação pública da Comissão Eleitoral de Wisconsin, Reid Magney, assinalou à equipe de checagem da AFP que os dados publicados na Internet podiam estar desatualizados em vários dias. “Normalmente centenas de milhares de pessoas se registram para votar no próprio dia [da eleição] em todo o estado”, detalhou.
A diretora da mesma comissão, Meagan Wolfe, disse em entrevista coletiva no último dia 4 de novembro que o estado estava realizando “uma tripla comprovação” dos resultados à espera de transmitir os oficiais.
A diretora da Comissão Eleitoral do estado falou do “êxito” no processo de apuração como “resultado de anos de preparação e seguindo cuidadosamente a lei”. Segundo Wolfe, cada passo do processo pode ser comprovado: “temos um sistema realmente sólido”.
Na eleição presidencial anterior, em 2016, Wisconsin votou por Donald Trump. Assim, a vitória do democrata Joe Biden no resultado seria importante para o resultado. O magnata republicano já pediu recontagem dos votos em Wisconsin e também fala em fraude.
A missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), encarregada de observar o processo eleitoral nos Estados Unidos, por sua vez, não encontrou provas de fraude na votação e criticou a atitude de Trump.
Até o momento da publicação deste artigo, Biden lidera a corrida pela Casa Branca.
Em resumo, no estado de Wisconsin não houve mais votos do que eleitores registrados. As cifras mostradas nas publicações viralizadas com acusações de fraude na eleição deste ano não são de 2020, mas de 2018.