Espanha não decretou fim da pandemia em janeiro de 2022; autoridades debatem mudanças na gestão
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- Publicado em 17 de janeiro de 2022 às 16:01
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- Por AFP Brasil
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“A Espanha acaba de decretar fim a pandemia e considera ômicron como uma gripe comum. Todas as restrições foram retiradas!!!!”, dizem publicações no Twitter (1, 2, 3).
Conteúdo semelhante foi compartilhado no Facebook (1, 2, 3) e no Instagram (1, 2).
As publicações começaram a circular um dia após a ministra da Saúde da Espanha, Carolina Darias, participar de uma coletiva de imprensa, em 12 de janeiro de 2022.
Na ocasião, Darias afirmou que o Conselho Interterritorial de Saúde ⎼ entidade que reúne o governo central e representantes das regiões espanholas para debater questões sanitárias ⎼ discutiu a possibilidade de mudanças na abordagem do combate à covid-19.
Ela também falou sobre a hipótese de uma mudança no sistema de monitoramento do vírus, mas apenas quando fosse superada a onda que o país vive atualmente:
Embora as postagens indiquem que a Espanha decretou o fim da pandemia, o artigo compartilhado, escrito em francês, resume o que a ministra falou na coletiva em questão, e em momento algum assinalou que a Espanha tivesse decretado o fim da pandemia ou retirado todas as restrições.
Declarações do presidente do governo
Dias antes, em 10 de janeiro, o presidente do governo, Pedro Sánchez, falou em uma entrevista à emissora de rádio espanhola Cadena Ser sobre acreditar ser possível futuramente tratar a covid-19 como uma doença endêmica e não mais pandêmica. “Creio que temos também que ir avaliando a evolução da covid para uma doença endêmica de uma pandemia que vivemos até agora”, afirmou.
Ele ainda acrescentou que o caminho para se combater o vírus está ligado à vacinação: “Acredito que a Espanha tem respondido muito positivamente à vacinação e, portanto, temos que responder com novos instrumentos mais intimamente ligados à vacinação, com autoproteção graças à máscara, cooperação institucional, contribuição da ciência e, sem dúvida alguma, também tudo o que tem a ver com a solidariedade internacional”.
Ao ser questionado nessa mesma entrevista sobre uma possível condução da covid-19 como uma gripe comum ⎼ sem a testagem e o registro de todos os casos ⎼ ele respondeu que é algo que está começando a ser discutido: “Estamos trabalhando nisso há semanas (…) e acho que é um debate necessário porque a ciência nos deu a resposta para poder nos proteger e reduzir o contágio entre a população da melhor maneira possível, e de fato estamos vendo que a letalidade não é o que tínhamos no início da primeira onda”.
Em 10 de janeiro de 2022, data da entrevista de Sánchez, mais de 38 milhões de espanhóis haviam recebido o esquema completo de vacinas contra a covid-19, ou seja, 90,4% da população maior de 12 anos, segundo o Ministério da Saúde.
Segundo Sánchez, o país pode continuar debatendo o assunto de maneira técnica: “Acredito que temos condições para que, com cautela, pouco a pouco, abrindo este debate a nível técnico, a nível dos profissionais de saúde, mas também a nível europeu, comecemos a avaliar a evolução desta doença com parâmetros diferentes do que fizemos até agora”.
No último 13 de janeiro, em outra entrevista, o presidente reforçou a ideia de uma mudança, mas destacou que isso não ocorrerá de imediato. “Devemos começar a desenhar essa ponte que nos permita, quando for possível, do ponto de vista científico, avançar na gestão desta pandemia, rumo a uma doença endêmica. Não será da noite para o dia, não será imediato, mas esse momento chegará”, declarou.
Situação atual
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA), porém, em uma coletiva de imprensa em 11 de janeiro de 2022, após ser questionada sobre a posição de Sánchez, afirmou não considerar que a covid-19 tenha atingido um estado endêmico.
Na coletiva, Marco Cavaleri, chefe de Ameaças Biológicas para a Saúde e Estratégia de Vacinas da EMA, destacou:
Segundo ele, a emergência causada pela variante ômicron está mostrando “claramente” que “não devemos esquecer que ainda estamos em uma pandemia”.
Cavaleri afirmou, no entanto, que esse cenário pode mudar em breve. “Com o aumento da imunidade da população e com a ômicron, haverá muita imunidade natural ocorrendo além da vacinação”. Por isso, de acordo com ele, “estaremos avançando rapidamente para um cenário que estará mais perto da endemicidade”.
Apesar das afirmações virais de que a Espanha decretou o “fim a pandemia”, o país segue registrando diariamente casos de novos contágios e internações por covid-19. Dados do Ministério da Saúde atualizados em 13 de janeiro de 2022 mostram que mais de 1,3 milhão de casos foram notificados no país nos 14 dias anteriores.
Além disso, é falso que as restrições tenham sido retiradas na Espanha. Em dezembro de 2021, o uso de máscara em áreas externas voltou a ser obrigatório a partir de uma decisão do Conselho de Ministros. A medida ainda segue em vigor no país.
Na Catalunha, a justiça decidiu impor o toque de recolher noturno para conter a disseminação da variante ômicron. A medida restritiva começou a valer em 23 de dezembro de 2021 e foi estendida para até 21 de janeiro de 2022.
Outra medida como a exigência do “passaporte covid” para frequentar determinados locais como restaurantes, hotéis e ter acesso a outros serviços segue obrigatória em diversas regiões, de acordo com a mídia espanhola (1, 2).
Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.