A estampa do vestido de Melania Trump é obra de estudantes, não de vítimas de abuso sexual
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- Publicado em 3 de agosto de 2020 às 19:27
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- Por W.G. DUNLOP, AFP Estados Unidos, AFP Colômbia
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“A imprensa debochou do vestido de Melania Trump dizendo que parecia que @realDonaldTrump havia rabiscado nele com um marcador. Acontece que é um vestido desenhado por Alexander McQueen, usando esboços desenhados por VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL INFANTIL para descrever seus sentimentos”, dizem as legendas das publicações, compartilhadas no Facebook (1, 2, 3, 4) mais de 3,6 mil vezes desde o último dia 5 de julho.
Em algumas postagens também é possível ler ao fim: “A 1ª-Dama é incrível, não é? É inveja que chama??? Despeito?”.
A imagem da primeira-dama norte-americana também viralizou com essa afirmação no Instagram (1) e no Twitter (1, 2, 3), e foi replicada em espanhol e em inglês.
Melania Trump usou este vestido no último dia 3 de julho, na celebração prévia ao Dia da Independência dos Estados Unidos, para assistir - junto com o presidente Donald Trump - os fogos de artifício no Monte Rushmore, uma atração turística localizada na Dakota do Sul, onde os rostos de ex-presidentes norte-americanos estão talhados em granito.
Uma busca reversa da fotografia no Google mostra em seus resultados um artigo da revista Vogue de outubro de 2019 no qual afirma-se que o desenho foi produto de “esboços de estudantes do Central Saint Martins MA durante uma aula de desenho realizada na loja [do falecido designer inglês Alexander] McQueen”.
A mesma informação está na página oficial no Facebook da maison McQueen, na qual compartilham um vídeo sobre a peça e detalham que os esboços são estampas de bailarinas. O vestido também aparece no site do designer como parte da coleção primavera/verão 2020.
Um artigo de 24 de outubro de 2019 publicado na página da Universidade de Artes Central Saint Martins, em Londres, explica o processo de elaboração do desenho da peça.
De acordo com o texto, durante a aula de desenho, os estudantes do mestrado em Moda trabalharam “pegando carvão na extremidade dos pincéis, usando a sua mão não dominante, ou desenhando nas páginas do outro”.
“Inspirado no esboço coletivo resultante, a equipe da McQueen transformou-o em uma peça bordada para a sua coleção SS20 [primavera/verão, em tradução para o português]”, indica, ainda, o artigo.
Nem a universidade nem a maison de moda fizeram qualquer referência ao fato do desenho do vestido estar relacionado com vítimas de abuso sexual infantil. A equipe de checagem da AFP tentou falar com ambas as instituições para ter um posicionamento direto, mas não obteve resposta até o momento da publicação desta verificação.
A maison Alexander McQueen continua em operação, apesar da morte do seu fundador em 2010.
A primeira-dama Melania Trump tem sido alvo de críticas e teorias sobre as mensagens de seu vestuário. Em 2018, uma jaqueta que usou durante uma visita a um centro de detenção de crianças migrantes na fronteira com México gerou diversas interpretações. A frase vista em suas costas dizia, em grandes letras brancas, “Eu realmente não me importo. E você?”. Naquele momento, a porta-voz de Melania assegurou que não havia nenhuma “mensagem escondida”.
Em resumo, o vestido usado pela primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, não foi desenhado por vítimas de abuso sexual. De acordo com a Universidade de Artes Central Saint Martins e com a maison de moda Alexander McQueen, a estampa foi elaborada com base em esboços feitos por estudantes desta instituição educacional londrina durante uma aula.