Sequência feita com IA manipula imagem de pesquisadora indígena para criticar Luciano Huck

  • Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 18:38
  • 2 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil

Um registro da gravação do programa “Domingão com Huck” em uma aldeia indígena no Mato Grosso viralizou no início de dezembro de 2025 após o apresentador, Luciano Huck, pedir que a comunidade guardasse os celulares para não “mexer na cultura originária”. Desde então, um vídeo em que uma mulher indígena critica a fala de Huck foi visualizado mais de 1,8 milhão de vezes em publicações nas redes sociais. Mas o conteúdo foi gerado por inteligência artificial (IA) e manipula uma imagem da pesquisadora e educadora Márcia Mura, que confirmou à AFP que o suposto depoimento é falso.

“Se até os índios, revoltados com a manipulação – especialmente após o caso Luciano Huck – estão 'acordando', não vai demorar para a esquerda massa de manobra, também se dar conta que são manipulados. Tenho fé na virada”, diz uma das publicações que compartilha o conteúdo viral no Facebook, no Instagram, no Threads, no X e no TikTok.

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Captura de tela feita em 10 de dezembro de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

Na sequência viralizada, uma mulher indígena, com pinturas faciais e usando cocar de penas azuis e amarelas, diz: “O Luciano esteve aqui e pediu para eu não usar o celular. Também pediu para a gente esconder os carros. Também pediu para a gente usar roupa suja. Disse que precisamos resgatar nossa história”.

Ela continua: “Luciano, aqui não é palco, não é novela da Globo. Demagogo sem vergonha, nós queremos evoluir! Na cabeça deles, temos que ser selvagens, sermos usados como escada. A Rede Globo é um lixo!”.

O conteúdo circula após a viralização, em dezembro de 2025, de um vídeo gravado na aldeia Ipatse, na região do Xingu, no Mato Grosso, quando o apresentador Luciano Huck gravava um episódio de seu programa “Domingão com Huck” com a cantora Anitta. Na filmagem, Huck pede que os indígenas guardem seus celulares para “limpar” a sua cultura, declaração que gerou revolta nas redes sociais.

Contudo, a gravação viral foi gerada com inteligência artificial.

Vídeo de IA

Uma observação dos detalhes da sequência permite identificar que a fala da mulher não encaixa perfeitamente com os movimentos de sua boca.

Submetido à análise da ferramenta Hiya, do plug-in de verificação InVID-WeVerify, o áudio da gravação viral apresentou uma probabilidade de 99% de ter sido produzido com IA. 

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Captura de tela feita em 10 de dezembro de 2025 de uma análise de áudio da ferramenta Hiya (.)

Uma busca reversa por fragmentos do vídeo no Google encontrou uma fotografia de Márcia Mura, educadora indígena e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), publicada em um artigo de abril de 2023 do portal g1. A imagem exibe o mesmo cenário e os mesmos detalhes vistos na sequência viral.

Uma pesquisa pelos termos “Márcia Mura” e “Luciano Huck” não encontrou manifestações públicas da pesquisadora sobre o assunto.

Contatada em 11 de dezembro de 2025, Mura confirmou ao AFP Checamos que a voz e a fala vistas no vídeo viral não são suas, embora tenha “críticas sobre o ato colonizador e etnocêntrico” de Huck. “Nem uso esse termo resgate e nem evolução. Os gestos, as expressões e a fala nada têm a ver comigo”, afirmou.

Apesar de a gravação viral não ser autêntica, as falas de Luciano Huck de fato suscitaram notas de repúdio de organizações indígenas, como da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Em resposta, o apresentador afirmou que seus comentários foram limitados a questões de direção de arte do programa e se classificou como um “defensor dos povos originários”.

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