Vídeo de indígena pintando o rosto de pessoas em protesto não foi feito na COP30; cena é de 2024

  • Publicado em 24 de novembro de 2025 às 20:55
  • 2 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) mobilizou mais de 3 mil indígenas em Belém, no Pará, e foi marcada por atos em defesa dos povos originários e do meio ambiente. Neste contexto, um vídeo em que um indígena pinta o rosto de pessoas em uma plateia foi visualizado mais de 600 mil vezes nas redes. De acordo com os posts, a gravação teria sido feita na COP30. Mas isso não é verdade: o registro é de maio de 2024 e mostra um protesto contra a construção da Ferrogrão, em um evento que discutia a viabilidade do projeto férreo que visa ligar o Mato Grosso ao Pará.

“Viva a COP30. O cara nunca mais volta”, é a legenda de publicações no Facebook, no Instagram, no Threads, no TikTok, no Kwai e no X.

Os posts compartilham um vídeo que mostra um indígena pintando o rosto de pessoas em uma plateia. “Pelos povos que vivem no Tapajós. Ferrogrão NÃO!”, lê-se em um cartaz na parede. 

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Captura de tela feita em 19 de novembro de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

O conteúdo começou a circular em meio à conferência climática realizada entre 10 de novembro e 22 de novembro, em Belém, no Pará. O evento foi marcado por atos em defesa dos povos originários e do meio ambiente. 

De acordo com o Ministério dos Povos Indígenas, “mais de 3.500 indígenas” participaram da Aldeia COP, espaço que recebeu membros de povos originários do Brasil e de outros países durante o período.

Mas a gravação viralizada não foi feita neste contexto.

Vídeo de 2024

Uma busca no Google pelos termos “Tapajós”, “indígenas” e “protesto” exibiu o mesmo vídeo publicado nas redes do site Metrópoles, em 7 de maio de 2024. O portal de jornalismo repercutia o protesto de indígenas da aldeia Muruary, localizada na região do Baixo Tapajós (PA), contra a construção da ferrovia EF-170 (1, 2), conhecida como Ferrogrão.

De acordo com a legenda do post, o registro foi feito “durante um seminário sobre a viabilidade da ferrovia” e a autoria do vídeo é atribuída a João Kumaruara, membro da aldeia. 

Uma pesquisa no perfil de João Kumaruara no Instagram levou à publicação original, também datada de 7 de maio de 2024. “Esse gesto representou uma oposição veemente a essa proposta de desenvolvimento que busca abrir uma extensão de 900 mil hectares entre o Mato Grosso e o Pará na Amazônia”, diz a legenda da postagem. 

“Os impactos desse empreendimento afetarão diretamente não apenas as aldeias indígenas que residem na região, como os povos Munduruku e Kayapó Paranã, mas também acarretarão danos significativos à fauna e flora local”, complementa. 

A publicação informa que, na ocasião, a liderança indígena Naldinho Kumaruara pintou com urucum o rosto de representantes do governo e de instituições para demonstrar a oposição dos povos originários à proposta.

O registro foi feito durante o Seminário Técnico sobre a Ferrogrão, promovido pela subsecretaria de Sustentabilidade do Ministério dos Transportes em Santarém, no Pará, sobre a viabilidade dos aspectos socioambientais da construção da ferrovia em questão,  que se estenderia do Mato Grosso ao Pará e atravessaria a floresta amazônica. 

O protesto também foi noticiado por outros veículos (1, 2). À época, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) informou à imprensa que o “o urucum simboliza a resistência dos 14 povos do Baixo Tapajós, representando a luta ancestral dos povos indígenas que estão em risco caso o referido projeto seja aprovado”

Durante a COP30, em 2025, indígenas também protestaram contra a construção da Ferrogrão.

A AFP verificou outras alegações sobre a COP30 (1, 2, 3). 

Este conteúdo também foi verificado pelo Aos Fatos.

Referências

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