Foto não mostra Elmano de Freitas e Camilo Santana com líder do Comando Vermelho que teria morrido no RJ
- Publicado em 14 de novembro de 2025 às 20:34
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- Por AFP Brasil
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Semanas após a megaoperação contra o Comando Vermelho (CV), em 28 de outubro de 2025 no Rio de Janeiro, a ação continua gerando desinformação nas redes sociais. Não é verdade, como afirmam publicações com mais de 20 mil interações, que uma imagem mostre o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), e o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), com o suposto líder do CV no Ceará que teria morrido na ocasião. À AFP, a Secretaria da Casa-Civil do Estado negou a alegação, e um laudo pericial também descartou essa possibilidade.
“Líder do CV do Ceará, morto no RJ fez campanha para eleger o governador do Ceará - Elmano de Freitas e Ministro da Educação do Lula - Camilo Santana”, diz uma das publicações que circulam no X, no Instagram, no Facebook e no Threads.
A postagem original — já excluída — é atribuída ao ex-deputado federal Capitão Wagner (UNIÃO), como é possível ver na marca d’água da imagem.
A fotografia mostra o governador cearense Elmano de Freitas ao lado do ministro da Educação, Camilo Santana, posando com três homens — um deles, o do meio, com uma seta vermelha sobre a cabeça, indicando que seria o suposto líder do Comando Vermelho no Ceará.
Mas a alegação não procede.
Uma busca reversa pela imagem no Google levou a uma matéria de um veículo local indicando que o registro foi feito em 18 de agosto de 2022, durante um ato de campanha dos políticos em Pirambu, Fortaleza. Na ocasião, Elmano era candidato ao governo do Ceará apoiado por Santana, que já governou o estado por dois mandatos.
O portal informava que, naquele período, a imagem gerou críticas a Elmano de Freitas por supostamente mostrá-lo com suspeitos de integrar o crime organizado na região. No entanto, o texto não contém mais informações sobre a identidade do homem ao lado dos políticos.
Em 31 de outubro de 2025, a Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou a lista dos mortos na megaoperação contra o tráfico de drogas realizada no estado em 28 de outubro. De acordo com os dados oficiais, do total de 121 mortos, 4 eram policiais e 117 suspeitos. Desses, 115 haviam sido identificados, sendo quatro cearenses: Francisco Nataniel Alves Gonçalves, Luan Carlos Marcolino de Alcântara, Francisco Teixeira Parente e Josigledson de Freitas Silva. Nenhum deles era apontado pela Polícia Civil como chefe do Comando Vermelho no Ceará.
Uma consulta às fotos dos identificados não identificou o homem da fotografia viral entre os mortos no confronto com a polícia carioca.
Uma apuração do jornal O Globo mostrou que os dois corpos que não haviam sido identificados eram de indivíduos da Bahia e do Rio de Janeiro, que tiveram a identificação prejudicada porque um deles nunca havia feito biometria digital em vida e outro não tinha carteira de identidade. No entanto, eles foram reconhecidos por familiares. Não foi divulgada qualquer informação sobre eles terem ligação com o Comando Vermelho no Ceará.
Procurada pelo AFP Checamos, a Secretaria da Casa-Civil do Governo do Estado do Ceará confirmou que o registro viral foi feito em 18 de agosto de 2022 em Pirambu, Fortaleza. De acordo com a pasta, após o início das alegações, a imagem foi encaminhada para análise pela Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce). “O laudo, elaborado pelo órgão, fez o cruzamento dos dados com os cearenses mortos no Rio de Janeiro, e descartou qualquer possibilidade de o indivíduo da foto ser um dos integrantes da facção assassinados na operação do dia 28 de outubro”, informou a pasta.
Em 31 de outubro de 2025, o secretário-chefe da Casa-Civil do Ceará, Chagas Vieira, anunciou que iria processar o ex-deputado federal Capitão Wagner “por divulgar uma informação falsa nas redes sociais”.
À AFP, a secretaria disponibilizou, ainda, a decisão da Justiça de 5 de novembro de 2025, que determinou a remoção da postagem das redes sociais do ex-parlamentar.
No documento, o juiz não analisa se o suspeito seria ou não integrante de uma facção criminosa, mas reconhece que a postagem insinua uma relação de proximidade dos políticos com supostos traficantes sem apresentar provas, configurando calúnia.
O AFP Checamos entrou em contato com a Pefoce em busca de acesso ao relatório da perícia, porém não obteve resposta até a publicação desta checagem.
A Polícia Civil do Estado do Ceará também não retornou os contatos da equipe de checagem da AFP.
O AFP Checamos já verificou outras alegações sobre a megaoperação no Rio de Janeiro (1, 2).
Conteúdo semelhante foi checado por UOL Confere e Agência Lupa.
Referências:
- Matéria do portal Revista Central em 18 de agosto de 2022
- Reportagem do g1 com a lista dos mortos na megaoperação no Rio de Janeiro
- Decisão da Justiça do Ceará impondo a remoção da postagem pelo ex-deputado Capitão Wagner
- Matéria do Globo sobre o reconhecimento da família dos dois corpos não identificados
