Após megaoperação no RJ, circula post falso atribuído a Flávio Dino com defesa a desmilitarização da PM

  • Publicado em 30 de outubro de 2025 às 22:20
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil

Em 28 de outubro de 2025, uma megaoperação policial contra a facção Comando Vermelho nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, deixou ao menos 121 mortos. Diante disso, publicações nas redes sociais com centenas de interações compartilham uma suposta declaração do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino no X, em que ele pediria a desmilitarização da polícia e diria que a operação foi “um dos maiores crimes contra a humanidade”. Mas o post é falso. Dino publicou na rede social pela última vez em 2024 e negou que tenha feito a declaração viral. 

“O que a polícia do Rio de Janeiro fez hoje, é um dos maiores crimes contra a humanidade já vista na face da terra. Tomaremos medidas drásticas contra os criminosos! Chegou a hora de discutir sobre a desmilitarização das policiais do país. A população pobre e preta desse país não pode ser refém desse tipo de força”, diz o suposto tuíte atribuído a Dino, cuja captura de tela é compartilhada no X, no Instagram e no Facebook

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Captura de tela feita em 30 de outubro de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

A suposta declaração refere-se à megaoperação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, em 28 de outubro de 2025, contra a facção criminosa Comando Vermelho, que deixou ao menos 121 mortos e 113 pessoas detidas.  

A ação foi considerada a mais letal do país. Moradores dos locais atingidos recuperaram dezenas de corpos em uma área de mata nas horas seguintes à operação e denunciaram execuções. 

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, declarou estar “muito preocupado” com o número de mortos e pediu que se investigue "imediatamente"

O ministro do STF Alexandre de Moraes também determinou que o governo do Estado apresente informações detalhadas sobre a ação, classificada pelo governador fluminense, Cláudio Castro (PL), como um “sucesso”

Mas a imagem viral com a suposta declaração do ministro Flávio Dino não é verdadeira. 

Publicação falsa 

Uma consulta à conta oficial do ministro no X não identificou publicações sobre a megaoperação que ocorreu no Rio de Janeiro. A última publicação feita por Dino em sua conta é de 21 agosto de 2024. 

Outra consulta, dessa vez à plataforma Wayback Machine, que salva versões antigas de páginas da internet e pode conter registros mesmo de conteúdos apagados, tampouco identificou qualquer indício da publicação viral. 

Uma análise da suposta publicação atribuída à Dino identificou erros gramaticais e inconsistência com a interface atual da rede social X. No canto superior direito da imagem, nota-se a falta do ícone do Grok, ferramenta de inteligência artificial da plataforma: 

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Comparação de telas feita em 30 de outubro de 2025 de uma publicação no Facebook (E) e outra do perfil oficial de Dino no X (.)

A primeira declaração pública do ministro sobre o ocorrido no Rio de Janeiro foi feita em 28 de outubro, durante o Fórum Nacional Brasil Export Infraestrutura. 

Na ocasião, Dino atribuiu a situação da cidade à “ultracapitalização” das facções criminosas. 

Um dia depois, em uma sessão do STF que discutiu a responsabilidade estatal por danos às vítimas de uma ação policial em uma manifestação no Paraná, Dino chamou de "circunstância terrível” e “trágica” a situação no Rio de Janeiro.

O ministro também declarou, de forma geral, que “não se trata jamais de julgar a favor ou contra a polícia como instituição”, ao defender o uso proporcional da força policial em operações. 

No mesmo dia, Dino fez uma publicação no seu Instagram em que desmente ser autor da declaração viral. 

Em nenhuma dessas declarações o ministro defendeu a desmilitarização da polícia militar.

Montagens como essa podem ser feitas com sites e aplicativos que simulam publicações no X ou alterando o código HTML de uma página. Esse último tipo de manipulação só é capaz de modificar o que é exibido no computador da pessoa que a realizou, mas é o suficiente para que seja feita uma captura de tela e, assim, difundir conteúdos falsos.

Esse conteúdo também foi verificado por UOL Confere, Reuters e Fato ou Fake

Referências 

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