Entre cenas reais de violência, usuários compartilham imagens geradas por IA da megaoperação no Rio
- Publicado em 31 de outubro de 2025 às 20:15
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
A megaoperação policial no Rio de Janeiro contra o tráfico de drogas, realizada em 28 de outubro de 2025, deixou 121 mortos e é considerada a mais letal da história do Brasil. Fotos gráficas da ação multiplicaram-se nas redes sociais, mas entre registros reais usuários compartilharam também imagens criadas por inteligência artificial (IA). Análise da AFP identificou que ao menos duas imagens, visualizadas mais de 18 milhões de vezes em diferentes publicações, foram manipuladas com a ferramenta Gemini, assistente de IA do Google.
“O dia amanheceu tenso no Rio de Janeiro” é a frase sobreposta a um vídeo compartilhado no YouTube, no TikTok e no Instagram. As imagens mostram carros de polícia, caminhões blindados, helicópteros e policiais supostamente se aproximando de uma comunidade.
Uma outra imagem de colunas de fumaça preta sobre casas circula com a legenda “Rio de Janeiro, 28/10/25, ‘Brasil Soberano’” no Facebook, no Instagram, no Threads e no X, sendo associada à operação policial no Rio de Janeiro.
O conteúdo circula após a megaoperação policial, ocorrida no dia 28 de outubro de 2025, contra o tráfico de drogas nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro.
A ação, considerada a mais letal da história do estado do Rio de Janeiro, deixou ao menos 121 mortos, 117 apontados pela polícia como criminosos e quatro policiais.
Imagens de dezenas de corpos enfileirados no chão após a operação deram a volta ao mundo, levando a pedidos de investigação sobre o uso da força na ação policial.
Imagem real manipulada por IA
Diante dos registros de violência, publicações nas redes sociais compartilham uma imagem que mostraria os efeitos da megaoperação, com grandes colunas de fumaça preta sobre casas. Mas, no canto inferior direito, é possível observar o símbolo do Gemini, ferramenta de IA do Google.
Uma busca pela imagem no Google Lens exibiu uma reportagem do Valor Econômico, publicada em 29 de outubro de 2025, com a legenda: “Incêndios marcam locais de confronto entre policiais e integrantes da facção Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha”, mostrando imagem semelhante à viralizada, creditada à TV Globo.
Uma comparação entre o conteúdo viralizado e o registro feito pela imprensa permite observar elementos semelhantes:
Uma nova busca no g1, site de notícias do Grupo Globo, exibiu uma transmissão do mesmo dia da megaoperação, que registrou cenário semelhante ao que é exibido no conteúdo viralizado, mas com diferente intensidade da fumaça.
O Checamos submeteu a imagem à ferramenta de detecção IA Hive Moderation. A plataforma indicou 99,4% de manipulação.
Vídeo criado com IA no TikTok
Um outro registro viralizado nas redes sociais supostamente mostra carros de polícia, caminhões blindados, helicópteros e policiais se aproximando de uma comunidade. Os posts atribuem as imagens à megaoperação.
“Olha o batalhão da polícia no Complexo da Penha, RJ, totalmente equipado para atuar em uma das operações mais complexas da cidade”, diz texto sobreposto ao vídeo em uma das publicações.
Uma nova busca no Google Lens pela imagem exibiu um vídeo no TikTok, publicado pelo usuário “@impactoreal3” em 29 de outubro de 2025, com as hashtags “#riodejaneiro” e “#casoreal”, sugerindo se tratar de uma imagem verídica na capital fluminense. Contudo, o registro está sinalizado como “Marcado pelo criador como gerado por IA”.
Nesse caso também é possível observar o símbolo do Gemini, ferramenta de IA do Google, no canto inferior direito da sequência.
Além da sinalização de que o conteúdo foi criado por IA, há indícios de que se trata de um conteúdo manipulado digitalmente: os policiais que aparecem nas extremidades das telas parecem deslizar, não andar. O movimento das hélices dos helicópteros também parece robotizado e nos carros está escrito “Polici”, não Polícia, como destacado abaixo.
O Checamos também submeteu as duas imagens à análise do SynthID Detector, ferramenta que identifica marcas d’água do programa de inteligência artificial do Google. De acordo com a ferramenta, os conteúdos foram feitos com IA e foi identificada manipulação “em todo ou parte do conteúdo carregado”.
A AFP também verificou outra alegação falsa sobre a megaoperação no Rio.
