Vídeo de 2024 em que Netanyahu critica Lula circula como se fosse de 2025, após bombardeio entre Israel e Irã

“PRONUNCIAMENTO DO PRIMEIRO MINISTRO DE ISRAEL BENJAMIN NETANYAHU NESTA NOITE DE SE SEXTA FEIRA: REPUDIA A FALA DO PRESIDENTE LULA! VAI PAGAR CARO POR SUAS OFENSAS A ISRAEL”, diz a legenda de publicações no Facebook e no Instagram que atribuem a fala a uma suposta declaração feita em 13 de junho de 2025.

Alegação similar, que afirma que o vídeo seria de 15 de junho, foi compartilhada no Kwai. 

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Captura de tela feita em 16 de junho de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

As publicações começaram a circular após Israel atacar infraestruturas militares e nucleares do Irã, em 13 de junho de 2025, matando vários funcionários iranianos de alto escalão. No mesmo dia, Teerã respondeu com ondas de mísseis balísticos. 

Em 10 dias de conflito, foram registrados mais de 400 mortos no Irã, segundo um balanço oficial iraniano. Por sua vez, o ataque iraniano contra Israel matou 24 pessoas, segundo autoridades israelenses.

O Exército israelense afirma ter matado em um bombardeio Ali Shadmani, chefe iraniano do Estado-Maior em tempos de guerra e comandante militar de mais alta patente, próximo ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, no cargo desde 1989.

Em 18 de junho, Khamenei advertiu que seu país “nunca se renderá” a Israel.

Um dia antes, em 17 de junho, durante um discurso na Cúpula do G7, realizada no Canadá, o presidente Lula criticou os ataques de Israel ao Irã e afirmou que o Oriente Médio pode se transformar em um campo de batalha. 

O governo brasileiro já havia condenado a ofensiva em uma nota do Itamaraty de 13 de junho de 2025. 

Mas o vídeo viral não mostra uma resposta atual do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ao mandatário brasileiro.

Declaração de 2024

Uma busca reversa por fragmentos da sequência no Google levou a reportagens de veículos de imprensa (1, 2), datadas de 18 de fevereiro de 2024, sobre uma crítica feita por Netanyahu a uma declaração de Lula durante uma coletiva de imprensa no final de uma viagem do brasileiro à Etiópia e ao Egito. 

Outra busca reversa por fragmentos da reportagem televisiva que acompanha algumas publicações virais confirma que a gravação original é de fevereiro de 2024.

Na ocasião, o mandatário brasileiro disse que o que “está acontecendo na Faixa de Gaza não é uma guerra, mas um genocídio”, e comparou a situação com a campanha de Adolf Hitler para exterminar os judeus.

Em resposta no mesmo dia, Netanyahu fez uma declaração na Conferência dos Presidentes das Principais Organizações Judaicas Americanas, publicada no canal oficial do primeiro-ministro de Israel no YouTube. 

“Ao comparar com o Holocausto a guerra de Israel em Gaza contra o Hamas, uma organização terrorista genocida, o presidente Lula desonra a memória dos seis milhões de judeus assassinados pelos nazistas e demoniza o Estado judeu como o mais virulento dos antissemitas. Deveria sentir vergonha”, afirmou. 

O premiê israelense também disse em sua conta no X que “isso é a banalização do Holocausto e uma tentativa de prejudicar o povo judeu e o direito de Israel de se defender”. 

No dia seguinte, o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, informou que Lula foi declarado persona non grata no país. O mandatário brasileiro, por sua vez, convocou o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, para retornar ao país.

Mas, tanto em sua declaração em vídeo como na publicação no X, Netanyahu não afirmou que Lula “irá pagar” pelo que disse.

Uma busca pelas palavras-chave “Netanyahu”, “repudia”, “pagar caro” e “Lula” no Google não levou a nenhum resultado sobre críticas feitas nesses termos pelo primeiro-ministro israelense ao presidente brasileiro em junho de 2025. 

Referências

• Matérias sobre declaração de Netanyahu em 18 de fevereiro de 2024  (1, 2, 3)
• Declaração de Netanyahu publicada no canal do primeiro-ministro no YouTube
• Convocação do embaixador brasileiro em Israel
• Publicação feita por Netanyahu em 18 de fevereiro de 2024