Discurso de Xi Jinping de 2018 circula falsamente como resposta à guerra tarifária com os EUA

A China anunciou aumento de tarifas sobre os produtos dos Estados Unidos para 125%, em meio à guerra comercial desencadeada pelo presidente Donald Trump em 2 de abril de 2025. Nesse contexto, publicações visualizadas mais de 40 mil vezes nas redes sociais desde 8 de abril de 2025 compartilham um discurso de Xi Jinping com a alegação de ser uma retaliação do líder chinês às medidas anunciadas pelo mandatário norte-americano. Mas o vídeo é de 2018 e mostra uma resposta da China à disputa econômica com os Estados Unidos durante o primeiro mandato de Trump.

“Xi Jinping acaba de anunciar tarifas de 180% sobre produtos dos EUA a partir de amanhã”, diz uma das publicações compartilhadas com a gravação no Facebook, no Instagram, no Threads e no X.

Outras postagens afirmam que as declarações de Xi Jinping no vídeo viral teriam sido feitas “em sinal de aviso às jogadas tarifárias de Trump”.

Alegações similares circulam em tailandês e inglês.

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Captura de tela feita em 10 de abril de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

Na sequência viral, o presidente chinês, Xi Jinping, diz, em mandarim: “A economia chinesa é um oceano, não uma pequena lagoa. O oceano tem tempos calmos e tempos tempestuosos. Sem tempestades, não seria um oceano”.

Ele continua: “Tempestades podem arruinar uma lagoa pequena, mas não podem arruinar um oceano. Após incontáveis tempestades, o oceano ainda está lá! Após mais de 5 mil anos de adversidades, a China ainda está aqui! Olhando para o futuro, a China sempre estará aqui!”

Tarifas "recíprocas"

As publicações circulam após o anúncio de 2 de abril de 2025 feito pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que impôs tarifas “recíprocas” a dezenas de países. Em 9 de abril, a medida foi suspensa por 90 dias, com exceção da China, contra a qual a Casa Branca elevou a 145% as taxas impostas.

Como resposta, em 11 de abril, a China anunciou que aumentará para 125% as tarifas sobre os produtos importados dos Estados Unidos.

Anteriormente, o país havia pedido um acordo de “meio-termo” para encerrar a guerra comercial que terá um "grave impacto" na estabilidade da economia mundial. A porta-voz do Ministério do Comércio da China, He Yongqian, afirmou que “a porta para o diálogo está aberta, mas este deve ser baseado no respeito mútuo e ser conduzido de maneira igualitária”. E advertiu que, em caso contrário, a China promete “lutar até o fim”.

Contudo, o conteúdo viral não mostra uma declaração do líder chinês em 2025.

Discurso de 2018

Uma pesquisa no Google pelas palavras-chave, em inglês, “Xi Jinping”, “oceano” e “lagoa” encontrou o vídeo viralizado publicado pelo portal chinês China Daily em 8 de abril de 2025 — dias após Trump anunciar as primeiras medidas tarifárias.

Dizeres sobrepostos à sequência indicam que o discurso de Xi Jinping teria sido feito na cerimônia de abertura da primeira Exposição Internacional de Importação da China, em 5 de novembro de 2018.

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Comparação feita em 11 de abril de 2025 entre capturas de tela de uma publicação no Facebook (E) e de um vídeo publicado pelo China Daily em 8 de abril de 2025, em que se indica que a gravação não é atual (.)

Também ao final da gravação viral, é possível ver dizeres sobrepostos à imagem que indicam que o discurso do presidente chinês foi feito em 5 de novembro de 2018, quando Pequim e Washington enfrentavam um conflito tarifário havia 10 meses.

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Captura de tela feita em 10 de abril de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

A AFP também encontrou a transcrição em inglês do discurso do mandatário nesse dia, publicada pela agência de notícias estatal Xinhua, na qual é possível encontrar as mesmas falas exibidas no vídeo viral.

O presidente chinês não mencionou um aumento de taxas contra os Estados Unidos em nenhum momento do discurso. Xi prometeu uma abertura maior do mercado chinês às importações e fez uma repreensão velada ao governo de Trump.

Os países “não devem apontar para os outros para esquecer dos seus próprios problemas”, disse o mandatário na ocasião, denunciando o “protecionismo”, o “isolacionismo” e a “lei da selva”.

Referências

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