Publicações alegam falsamente que Trump baniu vacinas de mRNA contra covid-19

Desde que o presidente norte-americano, Donald Trump, nomeou Robert F. Kennedy Jr. — que já espalhou alegações falsas sobre vacinas — para a área da saúde em seu governo, peças de desinformação sobre os imunizantes circulam nas redes sociais. Recentemente, publicações compartilhadas quase 2 mil vezes alegam que Trump proibiu vacinas de mRNA contra a covid-19 e ordenou prender seus fabricantes. Isso é falso: até a publicação deste texto, Trump não emitiu nenhuma ordem executiva proibindo essas vacinas, e uma especialista disse à AFP que não há projetos de lei para criminalizá-las no Congresso.

“ÚLTIMAS NOTÍCIAS: TRUMP CONTRA-ATACA — PENA DE MORTE PARA CRIMES DE mRNA AGORA ESTÁ NA MESA!”, diz o conteúdo que circula no Facebook e no Threads

“Trump PROIBIU todas as vacinas de mRNA, emitiu ordens para PRISÕES EM MASSA e está preparando TRIBUNAIS MILITARES para os criminosos por trás da pandemia. Bill Gates, Fauci, CEOs da Big Pharma — seus dias estão contados. A PENA DE MORTE agora está em jogo para crimes contra a humanidade”, continua o texto, que circula também em inglês e francês.

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Captura de tela feita em 14 de março de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

Fundação de Bill Gates contribuiu para programas de desenvolvimento de vacinas em todo o mundo. Já Anthony Fauci, também citado no texto viral, foi uma importante autoridade de saúde que liderou a campanha dos Estados Unidos contra a covid-19 e se aposentou em 2022.

Sem proibição

Trump elogiou publicamente as vacinas de mRNA contra a covid-19 quando elas foram desenvolvidas no final de seu primeiro mandato.

Até o momento, a segunda administração de Trump não fez nenhum anúncio proibindo as vacinas da covid-19, sejam elas de mRNA ou de outros tipos. 

A AFP analisou as ordens executivas de Trump e não encontrou nenhuma proibindo as vacinas de mRNA nem punindo seus fabricantes ou defensores.

No entanto, o republicano emitiu ordens relacionadas à obrigatoriedade das vacinas.

Em 27 de janeiro de 2025, Trump assinou uma ordem executiva reintegrando membros das forças armadas que haviam sido dispensados por se recusarem a tomar vacinas contra a covid-19. Em 15 de fevereiro de 2025, ele também assinou uma ordem executiva proibindo instituições educacionais de exigirem vacinas contra a covid-19 de seus alunos.

“Não, Trump não baniu as vacinas de mRNA. A FDA [Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos] ainda as mantém licenciadas e também as tem sob autorização de uso emergencial”, disse Dorit Reiss, professora da Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia, em São Francisco, cuja pesquisa se concentra em questões legais e políticas relacionadas a vacinas.

Reiss disse à AFP em 13 de março de 2025 que não há nenhum projeto de lei criminalizando o uso da vacina contra a covid-19 no Congresso dos Estados Unidos, acrescentando que "para tornar o uso da vacina uma infração criminal, o Congresso teria que aprovar uma lei, e o presidente Trump teria que assiná-la".

A AFP também entrou em contato com a Pfizer, que desenvolveu a vacina de mRNA contra covid-19 junto à BioNTech comercialmente chamada de Comirnaty.

“Autoridades regulatórias ao redor do mundo autorizaram a vacina Pfizer-BioNTech contra a covid-19, e comitês médicos especialistas recomendaram e seguem recomendando seu uso”, disse a Pfizer à AFP em 5 de março de 2025.

O termo “mRNA” é uma abreviação de “RNA mensageiro”. Vacinas que usam essa tecnologia diferem dos imunizantes tradicionais: ao invés de injetar formas enfraquecidas ou mortas de um vírus, fazendo com que o sistema imunológico o reconheça e crie anticorpos, as vacinas de mRNA entregam instruções às células para construir uma parte inofensiva da "proteína spike" encontrada na superfície do vírus que causa a covid-19. Depois de criar essa proteína spike, as células podem reconhecer e combater o vírus real.

Referências

  • Ordens executivas assinadas por Donald Trump em 2025 (1, 2, 3)

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