Vídeo humorístico iraquiano é falsamente vinculado a vítimas do regime de Assad na Síria
- Publicado em 20 de dezembro de 2024 às 16:19
- 4 minutos de leitura
- Por Dounia MAHIEDDINE, AFP França
- Tradução e adaptação AFP México , AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“A CNN, na Síria, captou imagens de uma cura milagrosa. O homem da oposição libertado da prisão, que, segundo o mesmo meio de comunicação, foi ‘torturado quase até à morte pelo regime de Assad’, estava tão feliz com a sua libertação que, quando saiu do carro, saltou alegremente para cima da sua perna aleijada. Milagre, nada mais nada menos!”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no X e no Telegram.
Alegações similares circulam em espanhol, inglês, francês, chinês e italiano.
Os rebeldes sírios, liderados pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), tomaram Damasco em 8 de dezembro de 2024 e depuseram o presidente Bashar al-Assad, cuja família governou o país por mais de cinco décadas.
Desde então, imagens de prisioneiros torturados e testemunhos sobre a repressão instaurada pelos antigos dirigentes do país se espalharam na imprensa e nas redes sociais.
No vídeo viral, um homem sai de um táxi se apoiando na perna direita, supostamente engessada, antes de outro homem, que o está ajudando, indicar com a mão que ele troque de perna.
Contudo, o conteúdo não corresponde a um registro de prisioneiros libertados na Síria.
Vídeo humorístico
Uma busca reversa por fragmentos da sequência no Google conduziu a uma versão mais nítida, na qual é possível observar os dizeres “x_hayder_r” em um cartaz na janela do táxi.
Uma pesquisa no Google por essa indicação levou ao registro mais antigo da gravação: uma publicação de 8 de dezembro de 2024 no Instagram, no perfil do usuário “@x_hayder_r”.
Na descrição do perfil, o usuário menciona ter uma loja próxima a um corpo de bombeiros no bairro de al-Kadhimiya, em Bagdá, capital do Iraque. A ferramenta de tradução do Google Lens traduziu a palavra “falafel”, em árabe, em uma das fachadas dos edifícios vistos ao fundo do vídeo.
Uma busca no Google Earth Pro por restaurantes de falafel no bairro de al-Kadhimiya, em Bagdá, permitiu identificar o local exato onde a sequência foi gravada (1, 2).
Uma nova pesquisa no Google, dessa vez pelas palavras-chave “Síria”, “homem ferido” e “vídeo”, não encontrou registros da sequência viral tanto nos sites da emissora CNN em espanhol, inglês ou árabe, quanto em suas redes sociais.
Desinformação recorrente
O mesmo vídeo já havia sido usado para difundir informação enganosa nas redes, com alegações de que o homem seria um ator palestino tentando se passar por um ferido no contexto da guerra na Faixa de Gaza.
“Outro Pallywood! Um ator de Gaza se faz passar por uma ‘vítima’, mas acidentalmente usa o pé errado ao mancar com um pé supostamente quebrado. Isso é o que eles chamam de genocídio!”, escreveu em francês, por exemplo, um usuário no X em 13 de dezembro de 2024.
Com a viralização das imagens, o autor do vídeo publicou em 14 de dezembro um desmentido, assegurando que a sequência foi gravada em Bagdá, que tinha um objetivo humorístico, e que não tinha nenhuma relação com a situação em outros países.
“Este vídeo foi gravado no Iraque, em Bagdá, mais precisamente no bairro de al-Kadhimiya”, afirmou no Instagram o usuário x_hayder_r. “O vídeo foi visto 25 milhões de vezes. Um vídeo humorístico que vocês atribuem a jovens palestinos e que compartilham como se fosse em Gaza. O que isso tem a ver com Gaza? Digam-me”, acrescentou.
Desde o início da guerra entre Israel e Hamas, em 7 de outubro de 2023, vídeos e imagens retirados de contexto (1, 2, 3) têm sido compartilhados erroneamente como supostas encenações de palestinos que estariam tentando exagerar suas perdas humanas, uma acusação frequentemente acompanhada do termo “Pallywood” — uma contração de “Palestina” e “Hollywood”.