Falha em máquina de votação de Kentucky não prova fraude eleitoral; o dispositivo não emite votos

O vídeo de um eleitor com dificuldades em selecionar o nome de Donald Trump em uma máquina de votação no estado norte-americano de Kentucky circula com a alegação de que o dispositivo “não permitiu” o voto no candidato nas eleições de novembro de 2024 nos Estados Unidos. Mas o dispositivo não emite votos, e sim preenche digitalmente a cédula de votação que é posteriormente impressa, como explicou um especialista à AFP. O secretário eleitoral do condado de Laurel, onde foi feita a gravação, afirmou que o dispositivo foi investigado e que se tratou de um erro único. 

“URGENTE - Eleitores estão denunciando que algumas urnas eletrônicas, em Kentucky, NÃO PERMITEM que os eleitores selecionem o nome de Trump na hora de votar! Em vez disso, quando tocam em “Trump”, Kamala Harris acaba sendo selecionada”, lê-se nas publicações que acumulam mais de 25 mil interações no X, no Facebook, no Instagram, no Threads e no TikTok 

O conteúdo também foi compartilhado em outros idiomas, como inglês, espanhol, grego e alemão

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Captura de tela feita em 5 de novembro de 2024 de uma publicação no X
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A sequência começou a circular dias antes da eleição presidencial dos Estados Unidos, realizada em 5 de novembro de 2024, e em meio à votação antecipada, no qual mais de 80 milhões de cidadãos votaram. 

Mas, diferentemente do que alegam as publicações, a sequência não mostra uma máquina que “não permite” votar em Trump. 

Marcador de cédula

James Young, especialista em eleições e soluções de inclusão para eleitores com deficiência, explicou à AFP que o dispositivo visto no vídeo é um marcador de cédulas, uma máquina que auxilia os eleitores a marcarem as opções digitalmente, sem a necessidade de utilizar uma caneta ou lápis tradicional.

“Basicamente, é uma caneta digital. Não conta os votos, simplesmente está preenchendo uma cédula de papel para o eleitor”, explicou Young, que também trabalhou como diretor eleitoral e secretário adjunto do condado de Jefferson/Louisville, Kentucky, além de ter sido assistente especial do secretário de estado do condado. 

Ele explica que o dispositivo é uma ES&S ExpressVote e que, para acionar o sistema, o eleitor deve inserir uma cédula, o que leva à tela vista na sequência viral. Em seguida, deverá marcar suas escolhas e, então, a cédula será impressa.

Após a impressão, a cédula em papel deverá ser colocada em um tabulador ou scanner. É somente nesse momento que a cédula é contabilizada como voto. 

“É importante entender isso porque o vídeo em si dá a impressão de que a máquina está ‘invertendo votos’. No entanto, é só um dispositivo para marcar as cédulas. Não emitiu ou contou nenhum voto. O eleitor teria sido questionado diversas vezes antes de votar se estava correto”, ressaltou Young.

Esses dispositivos são certificados pela Comissão de Assistência Eleitoral dos Estados Unidos, pelo Conselho Eleitoral do Estado de Kentucky, e são utilizados regularmente em aproximadamente 30 condados da cidade, de acordo com Young. 

Ainda segundo ele, os dispositivos não são conectados à internet e são mantidos em “segurança física” durante todo o ano, inclusive com selos de segurança eleitoral. Também são monitorados pelas autoridades policiais e pelo escrivão do condado, sendo que somente esses agentes podem operar os equipamentos, segundo a lei estadual.

“O processo de votação de Kentucky é absolutamente seguro”, apontou o especialista. “Este vídeo em particular não mostra nenhuma atividade fraudulenta ou ‘mudança de votos’”, finalizou.

 Máquina foi investigada

Uma pesquisa na plataforma X pelos termos “votação” e “Kentucky”, em inglês, levou ao perfil do suposto autor do vídeo. Em uma publicação de 31 de outubro de 2024, o usuário afirmou que o vídeo foi gravado no condado de Laurel.

Tony Brown, secretário eleitoral do condado, ressaltou em sua conta do Facebook que a máquina vista no vídeo viral é utilizada para marcar cédulas. Ele também informou que após a viralização do conteúdo, o gabinete do Procurador-geral fez testes no mesmo dispositivo usado pelo eleitor do vídeo.  

No vídeo compartilhado por Brown, todos os nomes são marcados normalmente quando selecionados. Na legenda, é explicado que foram feitas tentativas para recriar o erro visto na sequência viral: 

“Em total transparência, após vários minutos tentando recriar o cenário, ele ocorreu. Isso foi feito batendo em alguma área entre as caixas. Depois disso, tentamos por vários minutos fazer isso de novo e não conseguimos”.

O secretário também explicou o funcionamento da máquina e ressaltou que ela confirma duas vezes as opções selecionadas antes de imprimir a cédula. Caso o eleitor preencha algum campo errado, é possível solicitar uma nova cédula. 

O Conselho Eleitoral do Estado de Kentucky também explicou o incidente em um comunicado, ressaltando que a máquina ExpressVote da Election Systems & Software é um marcador de cédulas que não emite votos.  

“Segundo as declarações feitas pelo eleitor ao escrivão, ele finalmente conseguiu utilizar corretamente a tela sensível ao toque para marcar o campo de Donald Trump e todos os outros candidatos da sua preferência”, o texto também informa que o escrivão não conseguiu replicar o que o eleitor alegou, mas que a máquina foi retirada de serviço até o investigador da Procuradoria chegar ao local. 

O comunicado informa que mais de 1.700 eleitores emitiram corretamente seus votos na data do vídeo viral e que “nem o Conselho Eleitoral do Estado, nem o secretário do condado de Laurel foram informados de quaisquer outros problemas com as telas sensíveis ao toque ExpressVote do condado ou scanners de cédulas DS200 naquele dia”.

A ES&S, empresa que fornece equipamentos eleitorais, explicou à AFP que “as máquinas de votação com tela sensível ao toque não alteram o voto” e que “na maioria das vezes, os casos relatados são devidos a um eleitor não tocando na caixa de texto no lugar certo"

O AFP Checamos já verificou outras alegações sobre as eleições estadunidenses. 

Esse conteúdo também foi verificado por Aos Fatos, Uol Confere e Estadão Verifica

Referências 

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