Post engana ao usar vídeo antigo sobre urnas dos EUA para lançar dúvidas sobre eleições brasileiras
- Publicado em 18 de outubro de 2024 às 20:45
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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A reportagem em vídeo é compartilhada no Facebook, no Instagram, no Telegram, no Kwai e no X, junto às frases “Bolsonaro tinha razão” e “E agora TSE?”.
Na gravação, uma jornalista da RedeTV! reporta que a Election Systems and Software, citada como a maior fabricante de urnas eletrônicas dos Estados Unidos, “anunciou que mudou de opinião sobre a segurança eleitoral”. “Agora, a empresa pede que o governo torne obrigatório que todas as máquinas emitam comprovante de voto em papel”, diz a repórter.
Em seguida, há uma demonstração de como seria possível manipular o resultado de uma votação na máquina com um software de roubo de votos.
Uma pesquisa no Google pelos termos “Election Systems and Software”, “urna” e “RedeTV” mostrou que a reportagem foi publicada originalmente pela emissora no YouTube em 11 de junho de 2019, sob o título: “Fabricante de urnas eletrônicas dos EUA volta atrás sobre segurança eleitoral”.
Mas apesar da associação feita nas redes, o sistema norte-americano exibido na matéria não é equivalente ao brasileiro.
Uma consulta à página de informações técnicas da urna no site do TSE mostra que a Election Systems and Software nunca foi contratada para a fabricação dos equipamentos usados nas eleições brasileiras.
Em 2022, o órgão confirmou que “a empresa mostrada na reportagem não fornece urnas para o Brasil”, informando “que não é possível comparar o sistema norte-americano com o brasileiro, uma vez que os dois operam de formas distintas”.
TSE desenvolve hardware e software das urnas eletrônicas
Desde a implantação da urna eletrônica no país, tanto a máquina quanto o programa de votação são desenvolvidos pela Justiça Eleitoral brasileira.
Até 2005, havia uma licitação para contratar uma empresa para executar o projeto desenhado pelo TSE, mas a Seção de Voto Informatizado (Sevin) da Corte assumiu todo o desenvolvimento do software desde então. Apenas o hardware, a parte física do equipamento, é fabricada por empresas especializadas, que seguem as orientações do TSE. O modelo atual é fabricado pela Positivo.
Uma lei de 1997 estabelece que os sistemas usados na urna devem ser apresentados a entidades fiscalizadoras, que incluem partidos políticos, a Polícia Federal, entidades da sociedade civil e empresas privadas credenciadas. Depois de um ano, eles são assinados e lacrados — isto é, não podem ser alterados — em uma cerimônia pública. Após a lacração, se houver qualquer alteração no programa, a urna para de funcionar.
Mecanismos de auditoria
Na época da reportagem viralizada, o presidente da empresa norte-americana Electoral Systems & Software, Tom Burt, disse que a empresa não produziria mais urnas que não imprimissem comprovantes em papel, porque seria “difícil fazer uma auditoria significativa sem um registro impresso”.
Entretanto, as urnas eletrônicas brasileiras contam com diferentes mecanismos de auditoria, começando pela impressão da zerésima antes do início da eleição, para mostrar que nenhum voto foi depositado naquela máquina.
Além disso, o processo inclui um teste de integridade no dia da votação, em que algumas urnas são sorteadas e seu resultado é comparado com cédulas preenchidas a mão.
Com o objetivo de garantir a transparência do pleito eleitoral, também é possível consultar o boletim de urna, que contém informações como o total de votos por partido, por candidato, a identificação da seção e da zona eleitoral. Esse é um documento público e sua cópia é afixada no local de votação e pode ser conferida por qualquer pessoa.
Para fins de conferência, há também o registro digital do voto, que recupera os votos para recontagem eletrônica a qualquer momento.
Todas as atualizações do equipamento estão disponíveis ao público para consulta.
Esse texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas do Estado de Minas e do UOL. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.
Referências
- Reportagem de julho de 2019
- Nota da Justiça Eleitoral desmentindo conteúdo compartilhado nas redes
- Informações sobre o modelo de urna eletrônica
- Entidades fiscalizadoras do processo eleitoral
- Nota do TSE sobre o funcionamento das urnas
- Nota do TSE sobre a empresa vencedora da licitação
- Informações sobre o teste de integridade das urnas
- Explicação sobre o funcionamento das urnas