Publicação defendendo assaltantes atribuída à Maria do Rosário é falsa; deputado já se retratou

  • Publicado em 17 de outubro de 2024 às 18:05
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Os candidatos Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT) disputam a Prefeitura de Porto Alegre no segundo turno das eleições de 2024, que será realizado em 27 de outubro. Nesse contexto, publicações nas redes sociais com mais de 7 mil visualizações recuperam um vídeo de 2016 em que o então deputado estadual Cabo Júlio (MDB) alega que Rosário, na época deputada federal, fez uma publicação defendendo assaltantes que morreram após um policial militar reagir a um assalto em São Paulo. Contudo, a publicação citada pelo parlamentar é falsa; ele mesmo se retratou e pediu desculpas à hoje candidata. 

“ESSA VACA KKKKK OLHA ELA AÍ, DEFENSORA DE BANDIDOS…”, diz um texto sobreposto a um vídeo que circula no Facebook, no Instagram, no Kwai, no X, no TikTok e no YouTube

O conteúdo circula desde 2016, mas ganhou força meses antes do primeiro turno das eleições municipais, realizadas em 6 de outubro, nas quais Maria do Rosário e Sebastião Melo foram os mais votados, passando ao segundo turno

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Captura de tela feita em 15 de outubro de 2024 de uma publicação do Facebook
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No canto superior da sequência, é possível identificar a marca d’água da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), além da data 9 de novembro de 2016, assim como o nome do então deputado estadual Cabo Júlio, que fala no vídeo. 

Em seu pronunciamento, ele cita um caso em que três homens tentaram assaltar um motorista de carro de aplicativo em São Paulo, mas foram mortos após o motorista, que era um policial militar aposentado, reagir. 

Segundo o ex-deputado, Maria do Rosário, na época deputada federal, teria feito uma publicação em sua página no Facebook sobre o caso com a seguinte afirmação: “Hoje temos três famílias chorando em razão da ação desse PM opressor. Caso ele não tivesse reagido apenas uma família choraria, assim, o prejuízo seria menor para a sociedade”. Devido à suposta declaração, ele chama a deputada de “vaca” em diferentes trechos de sua fala. 

No entanto, a mensagem atribuída à candidata é falsa e o próprio político reconheceu isso em retratações posteriores. 

Publicação falsa 

Uma busca no Facebook pela mensagem atribuída a Maria do Rosário permitiu encontrar uma captura de tela da suposta publicação feita pela petista. 

O conteúdo apresenta indícios de falsidade. 

A mensagem supostamente publicada por Rosário é datada de 4 de novembro às 10h46. No entanto, o caso a que ela faz referência aconteceu no dia 5 de novembro daquele ano, como reportado na época por diferentes veículos de comunicação (1, 2).

É possível observar, ainda, que o texto possui letras com tipografias distorcidas e um cursor de edição ao final da última palavra: 

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Capturas de tela feita em 15 de outubro de 2024 de uma publicação do Facebook (E) e da notícia do portal g1 com detalhes assinalados pela AFP
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À época, o perfil de Rosário no Facebook publicou uma nota desmentindo que ela seria a autora da mensagem. 

Ex-deputado se retratou

Uma busca no Google com os termos “Cabo Júlio” e “Maria do Rosário” levou a uma notícia do portal g1, publicada em 14 de setembro de 2017, com o título “Cabo Júlio pede desculpa à deputada Maria do Rosário por ter se referido a ela como ‘vaca’”. 

No texto é informado que o deputado, agora inelegível devido a condenação por corrupção, se retratou em uma reunião no Plenário da ALMG após notificação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). 

Segundo o texto, o órgão foi acionado pela candidata e o processo havia sido instaurado para apurar a postura do ex-deputado em agosto daquele ano. 

A mesma busca também levou a outra notícia de retratação feita pelo ex-deputado em plenário, dessa vez em 6 de março de 2018, também por determinação do MPMG. 

Ao acessar as retratações do parlamentar na íntegra pelo site ALMG (1, 2), é possível notar que em ambas ele reconhece que a publicação atribuída à candidata era falsa. 

“Confesso que fui induzido a cometer esse erro contra a deputada por notícias falsas que foram veiculadas, prejudicando sua imagem com pronunciamentos divulgados como se fossem seus. No entanto, não posso deixar de reconhecer que em nenhuma circunstância tinha o direito de ofendê-la”, disse o parlamentar em sua retratação de março de 2018. 

Esse conteúdo também foi checado pela Agência Lupa

O AFP Checamos já verificou outras alegações sobre as eleições de 2024. 

Referências

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