Em vídeo, Kamala Harris fala sobre remover patentes de medicamentos, não de indivíduos

Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos e candidata pelo Partido Democrata para disputar as eleições presidenciais de 2024, não afirmou em um vídeo que deseja “confiscar patentes pertencentes a indivíduos e empresas”, ao contrário do que alegam publicações visualizadas mais de 5 mil vezes desde o dia 20 de agosto. Na verdade, nessa gravação, de 2019, a política falava sobre fixar o preço dos medicamentos e retirar as patentes das empresas farmacêuticas com financiamento público que se recusassem a reduzir o custo dos remédios para o consumidor. 

“Kamala Harris quer confiscar patentes pertencentes a indivíduos e empresas, ameaçando retirar-lhes os direitos sobre seus próprios produtos”, afirmam publicações no Facebook, no Telegram e no X.

O conteúdo também circula em inglês e espanhol

Image
Captura de tela feita em 26 de agosto de 2024 de uma publicação no X (.)

Harris garantiu a nomeação de candidata à Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata após o presidente norte-americano, Joe Biden, anunciar em 21 de julho de 2024 que não concorreria mais à reeleição.

Patentes após financiamento federal

Na gravação compartilhada nas redes sociais, com 18 segundos de duração, Harris aparece discursando a um público que não se vê e diz: “Vou confiscar sua patente para que possamos assumir o controle. Sim, podemos fazer isso. Sim. Sim, podemos fazer isso. Sim, podemos fazer isso. A questão é: eles têm vontade de fazer isso? Eu tenho a vontade de fazer isso”.

Na sequência é possível ver a logomarca da rede C-Span e a indicação da data do evento, 22 de novembro de 2019. À época, Harris era senadora e estava em campanha pela indicação presidencial democrata nas eleições de 2020. No canto superior esquerdo do vídeo se indica que o registro foi feito em Muscatine, cidade no estado norte-americano de Iowa.

Uma pesquisa nos arquivos da C-Span mostrou que, na íntegra do vídeo, Harris falava sobre fixar o preço dos medicamentos e retirar as patentes de empresas que tivessem recebido financiamento público e se recusassem a reduzir o preço dos remédios para o consumidor. 

A partir de 31 minutos e 39 segundos da gravação original, Harris afirma: “O meu plano como candidata à Presidência, em relação à questão dos preços dos medicamentos, é o seguinte: vamos fixar os preços dos medicamentos com base nas condições de mercado (...) Mas, essencialmente, o que faremos é definir os preços dos medicamentos de modo que seja cobrado aos consumidores americanos um preço que seja o preço médio cobrado em todo o mundo. E tem uma grande diferença, a insulina é um exemplo”

E prossegue: “A outra coisa é esta. Se as pessoas não quiserem cooperar com isso, também farei o seguinte. Muitos medicamentos prescritos nasceram graças ao financiamento federal para a pesquisa e desenvolvimento desse medicamento. Dinheiro dos contribuintes. Portanto, para qualquer medicamento que não tenha seguido as nossas regras, e se esse medicamento surgiu devido a financiamento federal para o que se chama I&D, investigação e desenvolvimento, retirarei a sua patente, para que possamos assumir o controle”, e na sequência é exibido o trecho viral compartilhado nas redes sociais em 2024.

Porém, em toda a gravação, com duração total de uma hora e sete minutos, Harris não menciona em nenhum momento a ideia de retirar patentes de qualquer outro tipo de negócio.

Na gravação do mesmo evento publicada no Facebook pela Fox News, também não se vê a política fazendo menção a algo desse teor.

De acordo com artigos publicados em meios de comunicação como o jornal The Washington Post sobre as medidas anunciadas por Harris durante sua campanha em 2019, a então senadora falou diversas vezes sobre revogar a patente de um medicamento criado com ajuda de recursos governamentais e concedê-la a uma empresa que o ofereça a um preço mais justo ao consumidor.

Durante o governo de Joe Biden, no qual Harris é vice-presidente, o preço da insulina foi estabelecido em um máximo de 35 dólares para alguns consumidores.

O AFP Checamos já verificou outras alegações ligadas às eleições norte-americanas.

Referências

Há alguma informação que você gostaria que o serviço de checagem da AFP no Brasil verificasse?

Entre em contato conosco