A mamografia não foi proibida na Suíça nem suspensa na Itália, Escócia, Austrália ou no Canadá

As mamografias ajudam a detectar precocemente o câncer de mama e são um exame médico padrão em todo o mundo. No entanto, desde maio de 2024, publicações com mais de mil visualizações nas redes sociais afirmam que a Suíça proibiu a prática e que Canadá, Itália, Escócia e Austrália a suspenderam. As mensagens também apontam que a mamografia “promove o crescimento do tumor” e “a disseminação de metástases”. Todas essas afirmações são falsas, como detalharam especialistas em câncer à AFP.

“A SUÍÇA É O PRIMEIRO PAÍS DO MUNDO A PROIBIR A MAMOGRAFIA. Os serviços de visualização também foram suspensos em partes do Canadá, Itália, Escócia e Austrália”, diz a legenda de publicações no Facebook, no Telegram e no X

O conteúdo também circula em espanhol, inglês, francês e romeno.

Image
Captura de tela feita em 3 de junho de 2024 de uma publicação no X (.)

A mamografia é um exame de radiografia da mama, que pode ser usada para detecção do câncer de mama ou para fins de diagnóstico, como para investigar sintomas ou achados incomuns encontrados em outros exames de imagem.

Pesquisadores detectaram um aumento recente nas taxas de câncer de mama em pessoas jovens. Em 2022, a Comissão Europeia recomendou a redução da idade mínima para programas de detecção mamária para 45 anos, com o objetivo de identificar casos mais precoces. No Canadá, estão sendo realizadas campanhas para mudar a idade mínima para 40 anos.

Nem banida, nem suspensa

Os médicos e profissionais da saúde continuam debatendo qual a melhor idade para começar a fazer o exame de mamografia, mas é falso que a prática seja proibida na Suíça.

Tanto o Departamento Federal de Saúde Pública suíço quanto a Liga Suíça contra o Câncer, uma organização sem fins lucrativos, confirmaram à AFP em 14 de maio que o país continua oferecendo o procedimento.

“Estes são rumores completamente falsos”, disse um porta-voz da Liga Suíça contra o Câncer. “Na Suíça, a mamografia é atualmente o principal método para detectar o câncer de mama em estágio inicial ”, explicou.

Também é falso que o estudo tenha sido suspenso “em partes do Canadá, Itália, Escócia e Austrália”, como afirma o conteúdo compartilhado nas redes sociais.

“A mamografia é a única técnica que se mostrou segura e eficaz na detecção do câncer de mama, e a (...) única técnica de imagem autorizada pela Health Canada para a detecção do câncer de mama”, afirma a Health Canada, instituição de saúde do país, em seu site.

Nesse país, cada província e território estabelece as suas próprias diretrizes para o rastreamento do câncer.

As autoridades sanitárias da Ilha do Príncipe Eduardo e da Colúmbia Britânica, ambas províncias canadenses, confirmaram à AFP que o serviço de saúde não foi suspenso ali. O site da Sociedade Canadense do Câncer mostra a existência de exames de mamografia em todas as outras províncias e territórios, exceto em Nunavut, cujas políticas são baseadas no programa de exames do Hospital de Ottawa.

Em relação a Austrália, Escócia e Itália, uma busca no Google por palavras-chave exibiu publicações em sites governamentais indicando que todos os três países têm programas de detecção do câncer de mama por meio da mamografia (1, 2, 3).

“Falso positivo”

As publicações também afirmam que “50-60% dos resultados ‘positivos’ estão incorretos”.

Um estudo de março de 2022 publicado pela Universidade da Califórnia em Davis cita números semelhantes ao analisar exames positivos que levaram a mais estudos diagnósticos, mas sem diagnóstico final de câncer de mama.

A radiologista Paula Gordon, professora clínica do departamento de Radiologia da Universidade da Colúmbia Britânica, disse à AFP para esta verificação que o termo “falso positivo” não se refere a um diagnóstico incorreto, mas sim a um “alarme falso”. Ou seja, é usado quando uma mamografia de rastreamento detecta uma anormalidade que justifica um estudo mais aprofundado.

Anna Wilkinson, oncologista geral do Centro Oncológico do Hospital de Ottawa, disse que a terminologia está mudando para não chamar esses resultados de “falsos positivos”. “Quando uma mamografia é realizada, mas não há informações suficientes sobre ela, é solicitado que a paciente retorne para obter mais imagens”, disse Wilkinson. “Não estamos dizendo a essas mulheres que elas têm câncer.”

Ela também comentou que tais pacientes podem repetir uma mamografia ou fazer um ultrassom antes de passar a uma recomendação de biópsia para determinar o diagnóstico de câncer.

Baixo risco de radiação

As mensagens também citam a compressão mamária, afirmando que o “tecido mamário saudável e muito sensível é bombardeado com radiação radioativa”.

Paula Gordon disse à AFP que, embora a compressão durante uma mamografia possa ser desconfortável, o exame é rápido.

“A compressão é necessária durante a mamografia para expandir o tecido e detectar tumores, mas também para afinar a mama para que seja necessária menos radiação”, explicou a especialista.

Um estudo sueco de 2013, que avaliou se a compressão poderia causar a propagação de células tumorais, não encontrou evidência de tal fenômeno e concluiu que as mamografias não são perigosas.

Health Canada informa que o corpo pode reparar células que podem ser danificadas pela dose da radiação recebida durante uma mamografia.

“O benefício do diagnóstico precoce e do tratamento do câncer de mama supera em muito o risco da pequena quantidade de radiação recebida durante uma mamografia”, afirma a agência.

“Sobrediagnóstico”

Wilkinson, do Hospital de Ottawa, também refutou as alegações de que a mamografia leva a um “sobrediagnóstico” e explicou que, quando a doença é detectada precocemente, as pacientes têm “taxas de sobrevivência mais altas do que o câncer de mama em estágio avançado e os tratamentos pelos quais você tem que passar são muito menos intensivos.”

Ela também observou que esta alegação falsa sobre a mamografia geralmente se baseia no Estudo Nacional Canadense de Detecção Mamária realizado na década de 1980.

O artigo concluiu que as mamografias geralmente não reduzem as taxas de mortalidade e que as pacientes são “sobrediagnosticadas”. Porém, a metodologia da pesquisa foi questionada posteriormente porque as participantes com suspeita de câncer de mama foram colocadas no grupo de controle da mamografia (1, 2).

“É o único ensaio que apresenta mais casos de câncer de mama no grupo de detecção do que no grupo sem detecção. E é o único ensaio que mostrou danos com a mamografia, e não benefícios”, afirmou Wilkinson.

Outros estudos analisaram o problema do sobrediagnóstico, particularmente em pacientes com mais de 70 anos, e aconselharam os médicos a levarem em consideração os fatores de risco pessoais ao recomendar exames adicionais. O Instituto Nacional do Câncer na França informa que continua o trabalho para identificar câncer de progressão lenta, a fim de oferecer um tratamento adequado.

A AFP já verificou outras afirmações sobre o exame de mamografia.

Referências

Há alguma informação que você gostaria que o serviço de checagem da AFP no Brasil verificasse?

Entre em contato conosco