Vídeo de tsunami no Japão é falsamente relacionado às enchentes no RS em 2024
- Publicado em 22 de maio de 2024 às 20:21
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Enchente capturada por câmera de segurança. 04/05/2024 Rio Grande do Sul”, lê-se no texto sobreposto a um vídeo que circula no X, no TikTok, no Facebook, no Kwai e no Instagram.
A sequência, que mostra uma estrada sendo coberta rapidamente por água e destroços de casas, começou a circular em meio às enchentes que atingem o Rio Grande do Sul desde o final de abril. A tragédia já deixou até o momento mais de 160 mortos, mais de 80 desaparecidos e mais de 2,3 milhões de pessoas afetadas.
Contudo, o vídeo viralizado não foi gravado no Brasil.
Tsunami no Japão
Por meio de uma busca reversa no Google pelos fragmentos da gravação, o Checamos localizou o mesmo vídeo em uma publicação de janeiro de 2020 no YouTube. Segundo a descrição, tratam-se de imagens capturadas por câmeras de segurança (“CCTV security footage”) durante um tsunami no Japão, em 2011.
Em março daquele ano, um terremoto atingiu o país, causando um tsunami e deixando cerca de 28 mil pessoas mortas ou desaparecidas.
Com uma busca pelas palavras-chave em inglês “2011 Japan tsunami” e “CCTV cameras”, o Checamos encontrou a mesma sequência viral, postada no YouTube em abril de 2013. A descrição informa que a gravação foi retirada do site memorial do terremoto mantido pelo Ministério da Terra, Infraestrutura e Transportes, do Departamento de Desenvolvimento Regional da região de Tohoku.
A publicação indica também a localização da filmagem, feita na cidade de Yamada.
No Google Maps, as imagens mais antigas da estrada são de novembro de 2011, oito meses após o tsunami, mas ainda foi possível identificar elementos presentes no vídeo viral.
Situação das barragens
Alguns dos vídeos são compartilhados com a alegação de que cinco barragens foram abertas no Rio Grande do Sul “sem autorização” (1, 2, 3).
Em 2 de maio de 2024, a usina 14 de Julho, localizada na cidade de Cotiporã, sofreu um rompimento parcial e a Defesa Civil orientou que os moradores da região procurassem abrigos ou locais de segurança.
Em 4 de maio, data que as publicações alegam que o vídeo teria sido gravado, a Companhia Energética Rio das Antas (Ceran), que administra a 14 de Julho, comunicou a abertura gradual e controlada das comportas da usina “com o objetivo de reduzir a pressão sobre a barragem e, consequentemente, mitigar o risco do aumento do problema”.
A empresa explicou ainda que a operação não causaria “variação relevante no nível do rio e nem alterações para as comunidades abaixo da barragem” e que a Defesa Civil seria avisada sobre qualquer alteração.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que monitora as barragens de geração de energia, informou ao AFP Checamos que a vazão não seria capaz de intensificar as cheias dos rios. “As barragens das usinas do Rio das Antas são do tipo soleira livre, ou seja, não possuem capacidade de armazenamento e regularização de cheias, são usinas do tipo ‘fio d'água’. Em outras palavras, as vazões afluentes são totalmente defluidas, portanto não há como agravar as cheias”.
Também desde 4 de maio, o governo do Rio Grande do Sul publica atualizações sobre a situação das barragens. Na data, além da 14 de Julho, a barragem de São Miguel, na região de Bento Gonçalves, também estava em nível de emergência, quando há risco de ruptura iminente.
Dois dias antes, a Companhia Rio-Grandense de Saneamento (Corsan) havia emitido alerta de emergência para a barragem de São Miguel. No mesmo dia, foi realizada uma operação para retirar os moradores da região.
Em 21 de maio, data do último boletim publicado pelo governo do estado até o fechamento desta matéria, as barragens 14 de Julho e São Miguel estavam em nível de alerta. Somente a Usina Hidrelétrica de Bugres, em São Francisco de Paula, está em nível de emergência.
Referências
- Vídeo publicado em 2020 no YouTube
- Vídeo publicado em 2013 no YouTube
- Memorial do terremoto de 2011
- Imagens de novembro de 2011 da estrada em que o vídeo foi registrado
- Nota emitida em 4 de maio pela Ceran sobre a abertura das comportas da usina 14 de Julho
- Alerta da Corsan emitido em 2 de maio sobre a barragem de São Miguel
- Boletim de 4 de maio sobre a situação das barragens do Rio Grande do Sul