Vídeo de treinamento militar nos Estados Unidos é falsamente ligado ao conflito no Oriente Médio

Uma gravação que mostra aeronaves militares norte-americanas sendo carregadas em uma pista exibe um treinamento militar, e não tem relação com o ataque do Irã a Israel de 13 de abril de 2024. Desde pelo menos 16 de abril, o vídeo foi compartilhado dezenas de vezes nas redes sociais com a alegação de que mostraria bombardeiros B-52H de longo alcance carregados com ogivas nucleares, em meio ao conflito no Oriente Médio. No entanto, o vídeo é anterior ao ataque contra os israelenses, e autoridades disseram à AFP que o exercício visto na sequência havia sido agendado com bastante antecedência.

“As tensões no Oriente Médio aumentam: bombardeiros B-52H de longo alcance carregados com ogivas nucleares”, diz uma das publicações compartilhadas no X. O conteúdo circula também no Facebook, no Instagram, no Telegram e no Kwai.

Publicações semelhantes também foram difundidas em inglês, espanhol, turco e árabe.

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Captura de tela feita em 25 de abril de 2024 de uma publicação no X (.)

Os Estados Unidos anunciaram sanções generalizadas contra o programa militar de drones do Irã em 18 de abril de 2024, em resposta ao ataque de Teerã a Israel.

O ataque iraniano de 13 de abril elevou as tensões regionais a novos níveis, mais de seis meses após o início do conflito entre Israel e o grupo militante palestino Hamas.

O bombardeio com mais de 300 drones e mísseis iranianos, contido com o apoio dos Estados Unidos e de outros aliados de Israel, ocorreu em retaliação ao ataque de 1º de abril, amplamente atribuído aos israelenses, que atingiu o consulado do Irã em Damasco, capital da Síria.

Após o ataque, a Casa Branca prometeu defender Israel, mas afirmou que não apoiaria um contra-ataque israelense.

O vídeo viral, porém, não tem relação com esse cenário.

Gravação de treinamento militar

Uma busca reversa no Google por fragmentos da sequência levou ao vídeo original no site do Serviço de Distribuição de Informações Visuais de Defesa (DVIDS) do Pentágono, com data de 7 de abril de 2024.

A descrição do vídeo diz: “Aviadores designados para o 705º Esquadrão de Munições conduzem operações de comboio durante o Exercício Prairie Vigilance/Bayou Vigilance 24-3 na Base Aérea de Minot, Dakota do Norte, 7 de abril de 2024.”

O Exercício Prairie Vigilance, que ocorreu de 6 a 12 de abril, envolveu aviadores da base de Dakota do Norte e de outra base na Louisiana. Tratou-se de “uma missão de treinamento de rotina que melhora a segurança e a confiabilidade da parte dos bombardeiros da tríade nuclear dos EUA”, segundo a Base Aérea de Minot.

“Prairie Vigilance fornece um ambiente de treinamento realista para os aviadores de Ataque Global exercerem poder aéreo flexível e estratégico”, acrescentou o comunicado de imprensa da base, publicado em 15 de abril.

Brus Vidal, diretor de relações públicas do Comando de Ataque Global da Força Aérea, disse à AFP em um e-mail de 17 de abril que as imagens compartilhadas online mostram “uma série de exercícios planejados há muito tempo, programados muito antes de qualquer acontecimento mundial atual”.

“Treinamos rotineiramente para uma variedade de cenários para garantir que o Comando de Ataque Global da Força Aérea esteja sempre preparado e pronto para apoiar nossos comandos combatentes e a autoridade de comando nacional”.

Charles Hoffman, chefe de operações de mídia do Comando de Ataque Global da Força Aérea, disse em uma entrevista em 18 de abril que os exercícios Prairie Vigilance e Bayou Vigilance "foram planejados há meses e anos" e que "simplesmente não é verdade" que as cenas vistas no vídeo sejam uma “resposta aos eventos atuais".

“Sempre treinamos para estarmos prontos a qualquer momento”, disse Hoffman à AFP, acrescentando que os mesmos exercícios são feitos “pelo menos uma vez por ano”.

De fato, comunicados de imprensa e outros registros públicos mostram que as formações ocorreram várias vezes em meses e anos anteriores (1, 2, 3).

O AFP Checamos já verificou outras alegações falsas sobre o conflito no Oriente Médio.

Referências

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