Foto com dizeres de apoio a palestinos mostra Boulos com membros do PSOL, não do Hamas

“Olha o candidato a Prefeito de São Paulo na Faixa de Gaza com seus amiguinhos do grupo Hamas. Todos terroristas”, diz uma parte do texto sobreposto à foto que circula no Facebook, TikTok e X. 

Image

Captura de tela feita em 26 de janeiro de 2024 de uma publicação no TikTok (.)

Na imagem é possível identificar Boulos posando com mais dois homens ao lado de uma pedra pintada com os dizeres “PSOL com a Palestina”, em inglês. 

A alegação de que os homens da foto com Boulos são “terroristas do Hamas” circula nas redes sociais desde outubro de 2023, mês em que o grupo islamista palestino lançou um ataque sem precedentes contra Israel deixando 1.140 mortos e sequestrando 250 pessoas, das quais 132 permanecem reféns, segundo autoridades israelenses. 

Em represália ao ataque, o governo de Israel declarou guerra contra o Hamas e prometeu “esmagar" o grupo. Desde então, mais de 26.700 pessoas morreram no território palestino governado pelo Hamas, segundo o Ministério de Saúde de Gaza. 

Atualmente, os territórios palestinos são divididos entre a Faixa de Gaza, governada pelo grupo extremista Hamas desde 2007, e a Cisjordânia, que tem como governo o partido Al Fatah, de Mahmud Abbas.  

Mas, diferentemente do que apontam as peças de desinformação, os homens que estão na foto ao lado de Boulos não são integrantes do Hamas. 

Dirigentes do PSOL 

Uma busca reversa no Google pela imagem viral levou a uma publicação com uma foto similar no site do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), mobilização global que “trabalha para terminar com o apoio internacional à opressão dos palestinos por parte de Israel”, como afirmam em sua página oficial.

A nota, em árabe, traz a data de 8 de maio de 2018 e trata de uma viagem de Boulos com uma delegação do PSOL em abril desse ano, quando era pré-candidato à Presidência da República. 

Segundo o texto, Boulos visitou territórios palestinos para conhecer a realidade da região e estava acompanhado de Juliano Medeiros, presidente do PSOL, e Frederico Henriques, membro do partido. A notícia ainda afirma que a delegação se reuniu com comitês populares, com o comitê do BDS e com lideranças políticas, além de ter feito visitas a campos de refugiados.  

“O candidato presidencial abriu as rodadas internacionais de sua campanha visitando a Palestina acompanhado pelo presidente do partido, Juliano Medeiros, e pelo oficial de relações internacionais Frederico Henriques, confirmando seu apoio à causa palestina e ao movimento BDS”, diz um trecho do texto, em tradução para o português. 

Na ocasião da visita, Boulos chegou a declarar que incluiria em sua campanha presidencial uma proposta de embargo militar contra Israel. A viagem também foi noticiada pela imprensa brasileira em maio de 2018. 

Outra busca no Google com a frase “PSOL with palestine” levou a  uma publicação com a foto viral feita em 29 de abril de 2018 pela deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL) no Facebook. Na legenda, também é informado que Boulos está acompanhado de Frederico Henriques e Juliano Medeiros durante  “visita à Cisjordânia e Gaza”. 

A visita foi registrada por Boulos e Medeiros em suas redes sociais (1, 2, 3). Em uma das publicações, de 27 de abril de 2018, Boulos detalha que iria se reunir “com movimentos sociais e lideranças políticas da causa palestina e com representantes de organizações da esquerda israelense” em uma viagem de três dias.

Depois que a foto se tornou viral nas redes sociais falsamente associada a integrantes do Hamas, Boulos se pronunciou em seu perfil do X, em 8 de outubro de 2023. 

“Minha defesa dos direitos do povo palestino é pública. Cheguei inclusive a realizar uma visita à Cisjordânia em 2018, da qual os bolsonaristas estão utilizando imagens para propagar Fake News”, escreveu o parlamentar.  

Repúdio aos ataques

Nessa mesma publicação, feita logo após a retomada do conflito entre Hamas e Israel, Boulos condenou “ataques violentos a civis”, sem citar nominalmente o movimento islamista. 

A omissão levou a críticas, inclusive do então coordenador da área de saúde de sua pré-campanha, que nesse mesmo dia anunciou que deixava o cargo. No dia seguinte, o deputado fez uma nova declaração repudiando “os ataques propagados pelo Hamas” e destacando que o movimento “não representa o conjunto do povo palestino”. 

Em 31 de outubro de 2023, o PSOL divulgou uma nota em “solidariedade ao povo palestino”. No texto, além de condenar o ataque à Gaza, a sigla reafirmou sua posição favorável “à luta pela autodeterminação do povo palestino”. 

“Se por um lado condenamos os ataques a civis israelenses realizados no dia 7 de outubro pelo Hamas, por outro consideramos inaceitável o bombardeio indiscriminado a Gaza e a ofensiva terrestre com consequências devastadoras para dezenas ou centenas de milhares de civis”, afirmava o comunicado. 

Em 2021, o partido assinou uma nota em que alguns deputados e entidades se posicionavam contra a classificação do Hamas como organização terrorista. 

O Brasil é um dos países que não utilizam essa classificação para o grupo, uma vez que segue a definição usada pela Organização das Nações Unidas (ONU). 

O AFP Checamos já verificou outros conteúdos relacionados ao conflito israelense-palestino. 

Essa alegação também foi checada por Aos Fatos, UOL Confere, Reuters e Estadão Verifica. 

Referências 

• Notícia do BDS sobre a visita do PSOL
• Publicação da deputada federal Sâmia Bonfim em 29 de abril de 2018
• Publicações nas redes sociais sobre a visita (1, 2, 3)
• Pronunciamento de Guilherme Boulos