Matéria da Record sobre morte de Celso Daniel é de 2019; caso prescreveu em 2022

  • Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 21:41
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Em 2019, a TV Record exibiu uma matéria sobre um depoimento do empresário Marcos Valério que supostamente implicaria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como mandante do assassinato de seu então coordenador de campanha, o político Celso Daniel. O trecho da reportagem voltou a circular em 24 de janeiro de 2024 em publicações com mais de 31 mil compartilhamentos, como se fosse recente. Mas o caso prescreveu em 2022. As investigações foram encerradas e apontaram apenas um mandante, que morreu antes de ser julgado.

ENQUANTO A GLOBO SE CALA, A RECORD FAZ REPORTAGEM SOBRE A DELAÇÃO DE MARCOS VALÉRIO EM QUE ELE AFIRMA: ‘LULA É O MANDANTE DO CRIME’”, diz a legenda de um vídeo que circula no Instagram, no Facebook e no TikTok

Nas publicações, é possível ver uma matéria do Domingo Espetacular, da TV Record, sobre o assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. O político petista foi encontrado morto em janeiro de 2002, na cidade de Juquitiba, em São Paulo, após ser sequestrado. As investigações sobre o crime foram concluídas e reabertas três vezes ao longo dos anos.

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Captura de tela feita em 30 de janeiro de uma publicação no TikTok (.)

No trecho viral, um repórter diz que o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) reabriu o caso e que o depoimento de Marcos Valério, preso por envolvimento no Mensalão, faria parte dessa nova investigação. O empresário teria relacionado o presidente Lula e o PT ao assassinato.

No entanto, a reportagem é de 2019 e as investigações foram encerradas em 2021, apontando apenas um mandante, que morreu antes de ser julgado.

Delação de Marcos Valério

Por meio de uma busca pelas palavras-chave “Marcos Valério”, “Celso Daniel” e “Domingo Espetacular”, o AFP Checamos localizou a reportagem original em uma publicação de outubro de 2019 no canal do YouTube do Domingo Espetacular. O vídeo viral, contudo, foi editado, com cortes de elementos que indicavam se tratar de um conteúdo anterior a 2024. Por exemplo, no vídeo original, o apresentador diz que o “caso Celso Daniel está de volta às manchetes 17 anos depois” e o repórter chama Lula de ex-presidente.

A matéria da Record afirma que Ministério Público de São Paulo (MP-SP) reabriu o caso em 2018 por não concordar com a tese da Polícia Civil de que o assassinato teria sido um crime comum e que o depoimento de Marcos Valério faria parte da nova investigação, conduzida pelo promotor Roberto Wider Filho.

Valério teria afirmado que o empresário Ronan Maria Pinto, condenado por lavagem de dinheiro em 2017, disse em uma reunião que apontaria Lula como mandante do assassinato de Celso Daniel.

O suposto trecho do depoimento de Marcos Valério também foi divulgado em uma reportagem da Veja.

Mas, no mesmo período, o jornal El País publicou uma entrevista com Wider Filho, em que o promotor diz que enviou um depoimento de Valério ao Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), mas que não ouviu a versão que apontaria Lula como mandante do crime.

Investigações encerradas

Em 2012, o MP-SP acusou o segurança de Celso Daniel, Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, de ser o mandante do crime. No entanto, ele morreu em 2016, antes de ser julgado. Outras seis pessoas já tinham sido condenadas à prisão por envolvimento no assassinato.

De acordo com uma matéria da revista Veja, publicada em julho de 2022, investigações conduzidas pelo MP-SP e pelo Gaeco foram encerradas em dezembro de 2021 e teriam concluído que o assassinato não foi um crime comum. No entanto, as investigações não apontaram outros possíveis mandantes.

Não foram encontradas informações sobre uma reabertura recente do caso.

Procurada, a assessoria de imprensa do MPSP informou ao AFP que as investigações “estão encerradas porque operou-se a prescrição do crime, após  20 anos do seu cometimento”.

Referências

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