Vídeo de soldado sendo atingido após rir não tem relação com o conflito entre Israel e Hamas

  • Publicado em 27 de dezembro de 2023 às 18:24
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
A gravação em que um homem ri logo antes de ser atingido por um armamento já circulava anos antes da guerra entre Israel e o grupo islamista palestino Hamas, em 2023. Mesmo assim, desde pelo menos 24 de outubro, o vídeo circula junto a alegações de que mostraria um “terrorista do Hamas rindo de Israel”. Em outra versão, publicações afirmam que o homem, na verdade, seria um “soldado sionista”. Juntas, as alegações acumulam mais de 47 mil visualizações, mas ambas são falsas: a gravação circula ao menos desde 2014 e é associada ao conflito na Síria.

Terroristas do Hamas rindo de Israel e seu povo… logo, logo, chegou a resposta”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook. O conteúdo também circula no Instagram e no Kwai.

Já no X, usuários compartilharam a gravação alegando que o homem seria um soldado de Israel.

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Captura de tela feita em 22 de dezembro de 2023 de uma publicação no Facebook ( .)

O conteúdo circula no contexto do conflito entre Israel e o grupo Hamas, que teve início em 7 de outubro de 2023, quando um violento ataque do Hamas contra Israel deixou pelo menos 1.140 mortos, a maioria civis. Quase 250 pessoas foram feitas reféns, segundo as autoridades israelenses. Atualmente, 129 reféns permanecem retidos em Gaza.

O Ministério da Saúde do Hamas, que governa o território palestino, afirma que mais de 20 mil pessoas, a maioria mulheres e menores de idade, morreram na ofensiva de Israel, destinada à destruição do Hamas.

Vídeo da Síria

A gravação já havia circulado e sido verificada pela AFP em 2020. À época, as publicações alegavam que o homem seria um guerreiro do Estado Islâmico e que o vídeo teria sido gravado na Líbia.

Porém, uma pesquisa por fragmentos do vídeo no Google levou à mesma gravação publicada em 2016 e 2017 em sites de compartilhamento de vídeos iranianos (1, 2) e também no YouTube (1, 2).

Em uma das versões localizadas no YouTube, a gravação é mais longa e é possível ouvir nos primeiros segundos que o homem grita a palavra “Zahraa”, que costuma ser associada aos xiitas. Já o Estado Islâmico é uma organização ultrarradical sunita.

Além disso, o homem do vídeo fala um dialeto iraquiano e usa um uniforme similar ao de forças iraquianas xiitas pró-Irã, com insígnias em preto e amarelo. Veja na comparação com as fotos da AFP (1, 2) abaixo:

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Comparação feita em 22 de dezembro de 2023 entre uma foto da AFP tirada em Bagdá em 10 de julho de 2015 e o vídeo viral ( .)
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Comparação feita em 22 de dezembro de 2023 entre uma foto da AFP tirada no Iraque em 8 de março de 2015 e o vídeo viral ( .)

Uma pesquisa por fragmentos da imagem no motor Yandex levou ao mesmo vídeo viral publicado em dezembro de 2014 em um site turco.

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Captura de tela feita em 8 de janeiro de 2020 do site turco Haksoz Haber ( .)

O texto que acompanha o vídeo no site Haksoz Haber indica que as imagens mostram “o fim trágico de um extremista xiita” depois de ameaçar combatentes que lutavam contra o regime de Bashar al-Assad, na Síria.

Ainda segundo o site turco, o homem seria um militante xiita que estaria lutando do lado das forças de Assad, e foi atingido pelos rebeldes. O caso teria ocorrido na região das cidades de Nubl e Al-Zahraa, que têm maioria xiita e ficam localizadas no norte da Síria.

As cidades xiitas de Nubl e Al-Zahraa, na zona rural do norte de Aleppo, foram sujeitas a um cerco imposto por combatentes da oposição e de facções islâmicas durante cerca de três anos, entre 2012 e 2016, até a intervenção do exército sírio. Em fevereiro de 2016, as forças sírias do regime de Assad, aliadas à Guarda Revolucionária Iraniana e com apoio de bombardeios aéreos russos, retomaram o controle da região.

Referências

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