Foto de carros na neve foi tirada em Chicago e veículos elétricos resistem ao frio

Uma foto de veículos presos na neve nos Estados Unidos foi visualizada mais 1,3 mil vezes nas redes sociais desde 7 de dezembro de 2023 como se mostrasse carros elétricos que pararam de funcionar por conta do frio na Alemanha. Mas a imagem mostra uma nevasca histórica na cidade de Chicago em 2011, que imobilizou todos os tipos de veículos. Embora o frio possa afetar a capacidade das baterias dos carros elétricos, especialistas indicam que, usadas corretamente, elas funcionam por muitas horas em condições extremas.

“Más não tinha aquecimento global ? Os carros elétricos da Alemanha fica sem energia no frio. Rodovias bloqueadas”, diz a legenda de uma foto compartilhada no X.

A imagem também circula no Facebook, no Instagram, no Telegram, no Kwai e em publicações em inglês, espanhol e francês.

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Captura de tela feita em 22 de dezembro de 2023 de uma publicação no X ( .)

Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), “três tecnologias contribuem principalmente para a redução das emissões” de gases de efeito de estufa: energia solar, energia eólica e veículos elétricos.

A mesma agência aponta que a venda de veículos elétricos aumentou 240% desde 2020 e estima que mais de um terço dos novos carros em 2030 terão motor elétrico.

Na União Europeia, onde as vendas de carros elétricos ultrapassaram pela primeira vez os carros a diesel em junho passado, a venda de novos veículos movidos a combustíveis fósseis está prevista para terminar a partir de 2035.

Além disso, no início de dezembro de 2023, três pessoas morreram na Alemanha em vários acidentes de trânsito causados por condições meteorológicas, gelo e neve. No entanto, a imagem compartilhada nas redes sociais não está relacionada com as nevascas no país europeu.

Rodovia em Chicago

Uma busca reversa pela fotografia com a ferramenta In-Vid-WeVerify* resultou em artigos com a mesma imagem publicados pela mídia norte-americana em 2011 (1, 2, 3). Nenhum dos textos se refere a uma falha no sistema de veículos elétricos.

Nos artigos, o registro é creditado à Associated Press (AP). Uma busca no banco de imagens da agência levou à mesma fotografia vista nas publicações nas redes sociais. A descrição indica que a foto foi tirada pelo fotógrafo Kiichiro Sato em 2 de fevereiro de 2011 na via expressa Lake Shore Drive, na cidade norte-americana de Chicago, em condições climáticas extremas.

“Uma tempestade de neve de inverno de proporções históricas abalou Chicago, já acostumada com a neve, deixando centenas de motoristas presos por até 12 horas durante a noite na principal via à beira do lago da cidade”, detalha a legenda.

Uma busca no YouTube pelas palavras-chave em inglês “neve”, “tempestade”, “Chicago” e “carros”, limitada a fevereiro do mesmo ano, resultou em um vídeo intitulado “Chicago blizzard 2011 closes Lake Shore Drive HD”, que mostra veículos parados na estrada e cobertos de neve.

A descrição da sequência diz: “Lake Shore Drive, em Chicago, se tornou um cemitério de carros no dia seguinte a uma enorme tempestade de neve que trouxe mais de 20 polegadas [50 centímetros] de neve e ventos de mais de 60 mi/h [37 km/h]. Os motoristas ficaram presos quando a tempestade atingiu a tarde de 1º de fevereiro de 2011”.

Outros artigos sobre a mesma tempestade publicados na mídia norte-americana (1, 2) indicam que os veículos ficaram parados durante horas devido à nevasca, a acidentes de trânsito próximos, a engarrafamentos atrás deles e à neve caindo ao seu redor, e não por causa de uma suposta falha no sistema de veículos elétricos.

Veículos elétricos

Alegações sobre a suposta falta de confiabilidade dos veículos elétricos no frio não são novidade nas redes sociais.

A AFP explicou em um artigo publicado em agosto de 2022 que embora a temperatura possa influenciar a capacidade da bateria, e os veículos térmicos continuem a apresentar vantagens no reabastecimento, especialistas e testes indicam que, quando usados corretamente, os carros elétricos podem funcionar durante muitas horas em condições extremas.

“Duas coisas devem ser distinguidas: o condicionamento de temperatura da bateria e de temperatura da cabine. Embora seja necessário aquecer tanto a bateria quanto a cabine, o sistema de aquecimento não será potente o suficiente para descarregar a bateria em três horas”, detalhou Adrien Lomonaco, engenheiro especializado em pesquisa e desenvolvimento térmico e energético.

E acrescentou: “Nos carros a combustão, utilizamos o calor do motor para aquecer a cabine porque ele libera calor naturalmente. (...) Nos veículos elétricos, o calor que as baterias podem liberar é muito baixo. Existem duas soluções: uma resistência elétrica, ou uma bomba de calor. É importante compreender que esses sistemas (...) funcionam com bateria, porque é a única fonte de energia disponível. Portanto, consomem eletricidade e irão reduzir a autonomia dependendo do tamanho da bateria”.

*Uma vez instalada a extensão InVid-WeVerify no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisa da mesma em vários buscadores.

Referências

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