PGR não apresentou denúncia contra Moro em dezembro de 2023; vídeo circula fora de contexto

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  • Publicado em 26 de dezembro de 2023 às 19:41
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  • Por AFP Brasil
Uma gravação que mostra o senador Sergio Moro (União Brasil) se pronunciando após a Procuradoria-Geral da República (PGR) pedir a sua prisão não é de dezembro de 2023, como alegam usuários nas redes sociais. As publicações foram compartilhadas milhares de vezes desde 18 de dezembro, após a polêmica envolvendo um suposto voto do senador a favor da indicação de Flávio Dino (PSB) ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o discurso, feito em uma coletiva de imprensa, é de abril deste ano, quando, de fato, a PGR fez uma denúncia contra Moro por calúnias contra o ministro do STF Gilmar Mendes.

“PGR PEDE PRISÃO DE SÉRGIO MORO!”, diz o texto de uma das publicações que circulam no X, no YouTube, no Facebook e no Kwai.

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Captura de tela feita em 20 de dezembro de 2023 de uma publicação no X ( .)

Na gravação que acompanha algumas publicações, o senador Sergio Moro aparece em uma coletiva de imprensa se defendendo de uma denúncia feita pela PGR.

“Eu quero registrar a minha indignação com a denúncia oferecida pelo procurador-geral da República nessa data. Na sexta-feira, pessoas que eu desconheço, mas mal-intencionadas, editaram fragmentos de uma fala, tiraram essas falas de contexto, e publicaram na internet com o único objetivo de me indispor com o Supremo Tribunal Federal”, diz Moro no trecho inicial da sequência.

Em seguida, o senador explica, ainda, que a denúncia feita pelo procurador-geral da República incluía um pedido de prisão por uma suposta fala sua tirada de contexto contra um ministro do STF.

O conteúdo passou a circular após a polêmica envolvendo o possível voto de Moro a favor da indicação de Lula do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, ao cargo de ministro do STF, aprovada pelo Senado em 13 de dezembro de 2023.

Moro não revelou seu voto publicamente. Nas redes sociais, contudo, usuários criticaram (1, 2, 3) a postura do ex-ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PL) durante a sabatina de Dino na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, principalmente após a divulgação de imagens de um abraço entre os dois e de uma conversa de Moro com um assessor.

Mas a denúncia da PGR contra Moro não faz parte desse contexto.

Uma busca por palavras-chave no Google com os termos “PGR”, “prisão” e “Moro” levou a matérias publicadas por meios de comunicação em abril de 2023 (1, 2, 3), quando o órgão era comandado por Augusto Aras. De acordo com a manifestação, a PGR denunciou Moro ao STF após uma declaração do senador sobre “comprar um habeas corpus do Gilmar Mendes”, ministro da Corte.

A sequência com a fala de Moro sobre o magistrado também foi divulgada pela CNN Brasil, em 14 de abril de 2023.

Uma busca reversa por fragmentos do vídeo com a entrevista concedida por Moro a jornalistas levou a uma gravação da TV Senado no YouTube, em 17 de abril de 2023. Nela, do minuto inicial a aproximadamente 2:19, é possível identificar o mesmo trecho presente no vídeo que acompanha as publicações.

Além disso, alguns elementos nas imagens também permitiram indicar que se tratava da mesma ocasião.

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Comparação feita em 20 de dezembro de 2023 entre uma publicação no X (E) e a transmissão da TV Senado ( .)

Procurada pelo AFP Checamos, a assessoria de imprensa do STF informou o número para acompanhamento processual da denúncia feita contra Moro pela PGR.

No site do Supremo vê-se que o processo se encontra em fase de avaliação pela relatora do caso, a ministra Cármen Lúcia. Nesta ação, o ministro Gilmar Mendes está impedido de participar por ser considerado parte interessada na condenação de Moro.

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