É falso que Janja promoveu encontro com dança da “umbanda” na Catedral de Brasília

  • Publicado em 29 de novembro de 2023 às 18:13
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Não é verdade que a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, conhecida como Janja, tenha promovido um encontro na Catedral de Brasília com dança da “umbanda”, diferentemente do que apontam publicações visualizadas mais de 3 mil vezes nas redes sociais desde 20 de novembro. O evento foi realizado pelo Instituto Brasileiro de Direito do Seguro e a dança ocorreu de forma inesperada por espectadores após apresentação da Orquestra Mundana Refugi, segundo nota conjunta da arquidiocese de Brasília com o maestro. A assessoria de Janja confirmou à AFP que ela não teve nenhum envolvimento com o evento.

“O altar da catedral de Brasília virou terreiro de Umbanda em evento promovido pela ‘1ª’ dama Janja. Uma grave profanação de um templo católico. Envie para seus amigos católicos que fizeram o L ou foram isentões. A situação geral do país piora a cada dia !!!!”, diz a mensagem que acompanha o vídeo compartilhado no Instagram, no Facebook, no Kwai, no TikTok e no X (antes Twitter).

A alegação também circula em outro formato com mensagem similar.

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Captura de tela feita em 27 de novembro de 2023 de uma publicação do TikTok ( .)

A gravação mostra uma mulher com vestes azuis claras dançando no altar da Catedral Metropolitana de Brasília enquanto os demais assistem e batem palmas.

Contudo, diferentemente do que as publicações alegam, o evento registrado pelo vídeo não foi promovido pela primeira-dama, que não aparece na gravação, e tampouco tinha em sua programação a dança vista no vídeo viral.

Uma busca pelo nome do usuário de TikTok que aparece na sequência levou a uma publicação feita em 9 de novembro de 2023. Outra pesquisa no Google com as palavras-chave “catedral de Brasília” e “apresentação” levou a uma matéria sobre uma apresentação da Orquestra Mundana Refugi na catedral, no mesmo dia, em comemoração do III Congresso Internacional de Direito do Seguro e IX Fórum de Direito do Seguro José Sollero Filho.

Outra pesquisa, dessa vez pelo nome do congresso, resultou na página de eventos do Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde se detalha a programação do evento e se informa que ele foi realizado pelo Instituto Brasileiro de Direito do Seguro (IBDS).

No site do IBDS, o instituto cita a apresentação da orquestra como uma atividade cultural do congresso, mas não há menção à primeira-dama em nenhuma das notícias (1, 2, 3, 4, 5) sobre o evento ou na página em que o instituto apresenta sua diretoria e associados.

Em um dos textos sobre o encontro, o IBDS informa que ele é organizado pelo “ministro Moura Ribeiro, pelo advogado Ernesto Tzirulnik ETAD e pelo professor João Nuno Calvão da Silva”. O congresso e o fórum, que tiveram duração de três dias, visavam discutir temas relativos ao ramo de seguros no Brasil.

O AFP Checamos entrou em contato com a assessoria da primeira-dama, que informou, em 27 de novembro, que “Janja não teve nenhuma participação ou envolvimento no evento citado”.

A AFP tentou entrar em contato com o IBDS, mas não obteve resposta do instituto até a publicação deste texto.

“Manifestação espontânea”

A mesma busca no Google com as palavras-chave “catedral de Brasília” e “apresentação” levou ainda a uma nota da Arquidiocese de Brasília, responsável pela catedral, publicada em 13 de novembro, após o vídeo começar a circular, inclusive em outros idiomas (1, 2), com alegações de “profanação religiosa”.

O texto aponta que tanto a organização como os músicos e a orquestra que se apresentavam não tinham conhecimento prévio da dança que aparece na gravação viral.

“Ao final da apresentação, ocorreu uma manifestação espontânea por parte de uma pessoa presente na plateia, surpreendendo não só a nós, mas, também, aos organizadores e ao maestro responsáveis pelo evento, gerando o episódio divulgado. No entanto, mesmo no fato ocorrido inesperadamente, não há elementos concretos que caracterizem, moralmente e canonicamente, profanação do templo”, afirma a nota assinada pelo Gabinete Episcopal.

Uma carta do diretor e maestro da orquestra, Carlos Antunes, também compõe o comunicado. Ele detalha que a dança foi feita por dois espectadores africanos que assistiam à apresentação e que “o fizeram em agradecimento ao espetáculo (…) Isso faz parte da sua cultura e não demonstra, de forma alguma, desrespeito para com a religião católica”.

A Orquestra Mundana Refugi é formada por músicos brasileiros, imigrantes e refugiados de diversas partes do mundo que apresentam músicas tradicionais de seus países.

Outras alegações envolvendo a primeira-dama já foram verificadas pelo AFP Checamos (1, 2, 3).

Referências

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