Vídeo não mostra jornalista encenando ataque do Hamas; ela seguia protocolo de segurança
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- Publicado em 6 de novembro de 2023 às 16:41
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- Por AFP França, AFP Romênia, AFP Brasil
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“E o Oscar vai para… Jornalista romena encena estar sob bombardeio palestino”, diz a legenda de uma publicação no X (antes Twitter). Conteúdo semelhante também é compartilhado no Facebook, no Telegram, no Kwai e no TikTok.
A sequência também circula em inglês e francês.
A sequência é compartilhada depois que, em 7 de outubro de 2023, o movimento islâmico palestino Hamas atacou Israel, que respondeu bombardeando a Faixa de Gaza. O conflito já deixou milhares de mortos.
Neste contexto, o vídeo mostra uma mulher deitada no chão, onde se vê um carro ao fundo, no qual ela relata, em romeno, a escalada do conflito. No início da gravação também vê-se um ciclista passando pela repórter ainda deitada de bruços e ao fundo pessoas caminhando.
A repórter diz: “Eles estão bem perto de nós agora... E parecem ter parado. Certamente o Exército israelense está interceptando todas essas bombas. Vamos ficar assim, por um tempinho, porque nunca se sabe exatamente quando o bombardeio para... e mesmo assim é isso, está tranquilo, vamos tentar levantar”.
No entanto, a alegação compartilhada nas redes distorce a reportagem e omite o contexto.
Sequência completa
No canto inferior esquerdo da gravação vê-se a inscrição “Digi24 HD”. Uma pesquisa no Google mostra que trata-se de um canal televisivo da Romênia. Uma busca reversa por imagens com fragmentos do vídeo retornou reportagens que informam que a mulher vista na gravação é a jornalista Cristina Cileacu. Uma busca por palavras-chave no site do canal romeno mostrou a matéria original, veiculada em 22 de outubro de 2023.
Na gravação, feita em Ascalão, cidade localizada no norte da Faixa de Gaza, Cileacu informa, a partir do minuto 5:05, que “o exército israelense goza de grande confiança [da população] e que todos sabem o que fazer”. A partir do minuto 5:13, ouve-se o barulho de sirenes.
Logo após avisar no ar que as sirenes estão “tocando novamente”, ela chama o profissional que a está filmando para se abrigar, como ela, atrás do carro mais próximo.
Ela deita-se no chão, e enquanto as sirenes continuam a soar, continua: “A recomendação [dada] é ficar abaixado se não tiver onde se refugiar, e é isso que estamos fazendo neste momento. Podemos ouvir os bombardeios, o alarme ainda está soando. Essa é a única coisa que você pode fazer, se abaixar e esperar até que o bombardeio pare”, afirma.
Aos 5 minutos e 35 segundos da gravação, vê-se um homem vestido de preto, ao fundo, abrigando-se atrás de um banco.
O homem vestido de preto refugia-se atrás do banco por 13 segundos e depois se levanta e caminha (a partir de 5 minutos e 52 segundos). É quando um ciclista passa por Cristina Cileacu, que ainda está deitada: é nesse momento que a sirene para de tocar e é também o trecho compartilhado nas redes sociais.
A sequência de imagens publicada fora de contexto repercutiu na Romênia e foi compartilhada pelo ex-primeiro-ministro Victor Ponta, que atacou a jornalista em uma publicação no Facebook.
Em reação, Cristina Cileacu o criticou em publicações nas redes sociais (1, 2), por espalhar “notícias falsas” sobre o seu trabalho e “especialmente por ridicularizar a guerra em Israel”.
O canal Digi24 também publicou um editorial, em 23 de outubro de 2023, explicando que “em Israel, o protocolo exige que qualquer alarme [aéreo] seja levado a sério e que você deve reagir a ele em poucos segundos. Se você estiver em um campo aberto, deve deitar-se no chão. Foi o que fizeram os nossos colegas quando foram surpreendidos por esse alarme”.
Em 17 de outubro, em Tel Aviv, após o som de uma sirene de alerta de foguete, o chanceler alemão Olaf Scholz e sua equipe desembarcaram às pressas do avião e também se deitaram no chão, seguindo o protocolo, como comprovam as imagens filmadas no local.
Milhares de mortos desde 7 de outubro de 2023
Em 7 de outubro de 2023, dia de descanso semanal do Shabat para os judeus, o movimento islamista palestino Hamas invadiu Israel por terra, mar e ar.
Mais de 1.400 pessoas, a maioria civis, foram mortas em Israel pelo ataque do Hamas, que também fez mais de 200 reféns, segundo as autoridades israelenses.
O Hamas relatou que 9.770 pessoas, a maioria civis, morreram nos incessantes bombardeios na Faixa de Gaza.
O AFP Checamos já verificou outros conteúdos que circulam sobre o conflito entre o grupo Hamas e Israel em 2023.