Vídeo mostra separatistas presos no Azerbaijão, não “generais israelenses capturados pelo Hamas”

Em 7 de outubro de 2023, combatentes do movimento islamista palestino Hamas se infiltraram em Israel a partir de Gaza, assassinando mais de 1.400 pessoas, a maioria civis, e fazendo 220 reféns, de acordo com autoridades israelenses. Mas um vídeo, visualizado mais de 82 mil vezes nas redes sociais, não mostra “generais israelenses capturados” pelo movimento islamista. A sequência, na verdade, mostra o Serviço de Segurança do Estado do Azerbaijão detendo líderes da região separatista de Nagorno-Karabakh. O Exército de Israel disse à AFP em 17 de outubro que não havia generais entre os reféns do Hamas em Gaza.

“Notícias de última hora Israel: Vários generais de alto escalão do #IDF foram vistos capturados com #HamasTerrorists #Gaza #IsraelUnderAttack Seu destino é atualmente desconhecido”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Kwai e no X (antes Twitter).

Alegações similares também circulam em espanhol, birmanês, tailandês e bengali.

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Captura de tela feita em 23 de outubro de 2023 de uma publicação no X ( .)

Militantes do Hamas entraram em Israel a partir da Faixa de Gaza em 7 de outubro e mataram ao menos 1.400 pessoas, principalmente civis que foram baleados, mutilados ou queimados no primeiro dia do ataque, segundo as autoridades israelenses. De acordo com Israel, cerca de 1.500 combatentes do Hamas foram mortos em confrontos até que o Exército retomou o controle da área atacada.

Mais de 5.000 palestinos, em sua maioria civis, foram mortos na Faixa de Gaza em bombardeios incessantes por parte de Israel como retaliação aos ataques do grupo islamista palestino, segundo o último dado divulgado pelo Ministério da Saúde do Hamas em Gaza.

O Secretário Geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, pediu ao Hamas a “libertação imediata e incondicional” dos reféns feitos no ataque; de acordo com Israel, um total de 220 pessoas.

Ele também solicitou que Israel permita “acesso irrestrito e imediato à ajuda humanitária” após a sua campanha de cerco e bombardeio levar a uma crescente crise humanitária.

Mas os presos na sequência viral não são generais israelenses, e sim líderes dissidentes de Nagorno-Karabakh – região separatista da qual o Azerbaijão retomou o controle em setembro.

Líderes separatistas

No vídeo, pessoas mascaradas usando uniformes militares marcados com as letras “DTX” carregam três homens algemados.

Uma busca reversa por fragmentos da sequência levou a uma versão mais extensa publicada em 5 de outubro no canal oficial do Serviço de Segurança do Estado do Azerbaijão no YouTube.

O serviço de segurança é conhecido como DTX – as mesmas letras dispostas nos uniformes exibidos na filmagem.

O vídeo nas publicações virais corresponde ao publicado no YouTube a partir do minuto 2:27.

A sequência publicada no YouTube também foi incorporada a um informe do Serviço de Segurança do Azerbaijão sobre a prisão dos três homens, publicado no mesmo dia. Segundo o documento, eles eram acusados de formar grupos armados ilegais e de lhes fornecer armas e munição.

Dois homens foram identificados como Arkadi Arshaviri Ghukasyan e Bako Sahaki Sahakyan – ambos autodenominados ex-presidentes de Nagorno-Karabakh. O terceiro era Davit Rubeni Ishkhanyan, ex-presidente do Congresso separatista da região.

A prisão dos três ocorreu após o Azerbaijão retomar o controle de Nagorno-Karabakh em setembro, depois de uma operação militar relâmpago de 24 horas que pôs fim a três décadas de controle por parte de separatistas armênios.

A AFP publicou fotos (1, 2) da prisão dos três homens, nas quais é possível vê-los vestindo as mesmas roupas do vídeo viral.

A bandeira do Azerbaijão também pode ser vista no uniforme de um dos oficiais do DTX aos 25 segundos da sequência compartilhada nas redes.

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Captura de tela feita em 23 de outubro de 2023 de uma publicação no X

O Exército israelense disse à AFP em 17 de outubro que não havia generais reféns do Hamas em Gaza.

O AFP Checamos já verificou outros conteúdos falsos ou enganosos que circulam atrelados ao conflito entre o Hamas e Israel em 2023.

Referências

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