Soldados de Israel não cantaram “Dias de Elias” antes da guerra; vídeo circula nos EUA desde 2014

  • Publicado em 24 de outubro de 2023 às 18:17
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
O conflito armado entre Israel e o Hamas, desencadeado após um ataque surpresa do movimento islamita palestino em 7 de outubro de 2023, provocou milhares de mortes. Nesse contexto, um vídeo de militares cantando a música “Dias de Elias” somou milhares de interações nas redes sociais desde 15 de outubro, como se mostrasse soldados israelenses a caminho da guerra. Mas a sequência não tem relação com o atual confronto. O registro circula, pelo menos, desde 2014, vinculado a um culto de fuzileiros navais norte-americanos na Califórnia.

“Soldados de Israel antes de ir para a guerra”, diz o texto sobreposto ao vídeo em publicações que circulam no Facebook, no Kwai e no TikTok.

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Captura de tela feita em 19 de outubro de 2023 de uma publicação no Facebook ( .)

Na gravação, militares aparecem cantando “Days of Elijah” (“Dias de Elias”, em tradução para o português), do compositor irlandês Robin Mark.

De acordo com o site oficial do músico, a canção faz alusão a uma passagem do Antigo Testamento sobre uma caminhada de 40 dias do profeta Elias até o Monte Horebe, simbolizada como um período de provação do profeta israelense e que reflete momentos difíceis.

O conteúdo passou a circular em meio ao confronto entre Israel e o Hamas, desencadeado em 7 de outubro de 2023 quando militantes do movimento islamita entraram em Israel a partir da Faixa de Gaza e mataram ao menos 1.400 pessoas. O número inclui principalmente civis que foram baleados, mutilados ou queimados no primeiro dia do ataque, segundo as autoridades israelenses. De acordo com Israel, cerca de 1.500 combatentes do Hamas foram mortos em confrontos até que o Exército retomou o controle da área atacada.

Na Faixa de Gaza, quase 5.800 palestinos, em sua maioria civis, foram mortos em bombardeios israelenses em retaliação aos ataques do grupo islamita palestino, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas em Gaza.

Mas a sequência não está relacionada a esse conflito.

Uma busca por palavras-chave no Google com os termos “militares” e “Dias de Elias” levou a publicações (1, 2) que compartilhavam o mesmo conteúdo em 2014. Nas publicações, os usuários afirmam que os militares seriam norte-americanos.

Uma nova busca, desta vez utilizando os mesmos termos em inglês, levou a um artigo do portal The Christian Post em setembro do mesmo ano, além de outras publicações de usuários (1, 2) e canais religiosos. Na matéria, o Christian Post afirma que o registro ocorreu durante um culto na base militar de Pendleton, na Califórnia, em 2014.

Ainda de acordo com o veículo, o conteúdo foi difundido originalmente por Merrie K Baldwin, integrante da Igreja da Irmandade Cristã Arbor, em Lake Forest, na Califórnia, em uma publicação no Facebook, em 12 de maio de 2014. Ao portal, ela afirmou que os cultos eram realizados aos domingos por fuzileiros navais conhecidos como “Guerreiros da fé”.

Segundo Baldwin, a intenção dos militares era rezar pelas tropas norte-americanas que na ocasião combatiam o Estado Islâmico no Oriente Médio.

À época, o conteúdo também foi reproduzido por meios de comunicação e publicações militares dos Estados Unidos (1, 2, 3).

Conflito com o Estado Islâmico

Em 2014, os Estados Unidos anunciaram que estavam em guerra contra o Estado Islâmico, após ameaças de novos ataques terroristas. Em um pronunciamento em 10 de setembro daquele ano, o então presidente Barack Obama afirmou que o país seria o líder de uma coalizão internacional contra o grupo, em uma campanha que não envolveria soldados em solo estrangeiro, mas ataques aéreos e o apoio a forças aliadas, com o objetivo em comum de “destruir” o Estado Islâmico.

Naquele período, os Estados Unidos ainda mantinham tropas no Iraque e no Afeganistão. A retirada por completo da presença norte-americana nesses países foi concluída somente no atual governo de Joe Biden (1, 2).

O AFP Checamos já verificou outros conteúdos que circulam atrelados ao conflito entre Israel e o Hamas em 2023.

Referências

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