Anúncio contra prostituição infantil é associado erroneamente a programa de TV holandês
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 28 de agosto de 2023 às 20:09
- 3 minutos de leitura
- Por Adrià LABORDA, AFP Espanha, AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“Nosso mundo está doente! Programa de Televisão da Holanda ofereceu esses ‘brinquedos’ para as crianças! Deixe sua opinião!”, diz a legenda de publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no Kwai, no Telegram, no TikTok e no X (antes Twitter).
As postagens compartilham um vídeo, com pouco mais de 30 segundos de duração, onde crianças usando máscaras aparecem retirando brinquedos sexuais de caixas e perguntando sobre a sua utilidade.
O conteúdo também circula em espanhol, francês e italiano.
Algumas publicações associam as imagens à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que apresenta um roteiro para erradicar a pobreza no mundo, cujos objetivos têm sido interpretados erroneamente em diversas ocasiões e se tornaram alvo recorrente de desinformação (1, 2, 3).
A iniciativa aponta os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a serem cumpridos até o ano de 2030, entre os quais estão a erradicação da pobreza, a erradicação da fome, a ação climática e a igualdade de gênero.
Campanha de 2017 contra a exploração infantil
Uma busca reversa pelas imagens da sequência, obtidas por meio da ferramenta InVid-We Verify*, levou a um artigo em inglês, publicado em 10 de maio de 2017 pelo jornal britânico Daily Mail, que reproduz uma versão mais longa do vídeo.
“Este é o anúncio mais chocante de todos os tempos?”, lê-se na manchete do site. “Uma nova campanha chocante compara estudantes menores de idade desembrulhando brinquedos sexuais com imagens reais de uma menina de sete anos sendo vendida para ter relações sexuais”, diz o texto. A matéria indica que a filmagem é intitulada “Sexo não é brincadeira de criança”, de autoria da organização Free a Girl.
Uma busca pelo nome da associação levou ao seu site, em holandês. De acordo com o portal, a Free a Girl tem como missão combater a “exploração sexual infantil”, apoiando organizações ativistas em todo o mundo, combatendo a impunidade das redes de exploração infantil, oferecendo cuidados médicos e auxílio mental para as vítimas processarem os traumas.
O vídeo das crianças desempacotando os brinquedos sexuais não aparece na seção de campanhas do site. Mas outra busca por palavras-chave levou ao canal Free a Girl no Vimeo, plataforma de vídeos online, na qual a sequência foi publicada em 8 de maio de 2017.
“Free a Girl está soando o alarme”, diz a legenda do vídeo. A organização lembra, ainda, que de 15 a 21 de maio de 2017 aconteceria a semana contra a prostituição infantil, na qual a Holanda arrecadaria dinheiro para financiar o combate à exploração infantil em todo o mundo.
Uma responsável de comunicação da Free a Girl confirmou à AFP que o vídeo viral corresponde à campanha de 2017 da organização.
“Essa sequência chocante pretendia destacar a inocência de uma criança com o objetivo de transmitir que o sexo, a exploração sexual e o abuso infantil são inaceitáveis”, detalhou. Além disso, acrescentou que uma psicóloga infantil interveio durante o processo de gravação.
*Uma vez instalada a extensão InVid-WeVerify no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisa da mesma em vários buscadores.
