Até 2030, a ONU planeja que todos tenham identidade legal, o que não inclui chips
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- Publicado em 2 de março de 2021 às 18:26
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- Por AFP México
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“A informação de cada ser humano será armazenada em um banco de dados universal localizada em Genebra, Suíça”, continuam os textos (1, 2, 3). A mesma alegação voltou a ser compartilhada no Facebook (1, 2, 3) e Telegram em fevereiro deste ano, muitas vezes ilustrada pela foto de um artigo em um jornal impresso.
O conteúdo também circula amplamente em espanhol.
Captura de tela feita em 2 de março de 2021 de uma publicação no Facebook
A página de jornal que acompanha muitas das postagens tem a data de 1º de outubro de 2016 e um logo que diz “CCI Newsweek”.
Uma busca no Google pelo nome do periódico levou a uma publicação no Facebook feita em 4 de dezembro de 2013 por um perfil chamado CCI Celebra, de Heredia, na Costa Rica, e associado à organização Centro Cristão Internacional (CCI).
“Foi realizada a apresentação pública do que será o periódico semanal: CCI Newsweek”, diz a publicação, que inclui uma foto na qual é visto um logo idêntico ao da página de jornal compartilhada nas redes.
O único registro disponível do CCI Newsweek foi encontrado na plataforma Wayback Machine, que permite arquivar páginas da internet. No entanto, as capturas de tela do CCI Newsweek não incluem o texto sobre a ONU e o uso de chips de identificação.
Identidade biométrica
Os artigos compartilhados desde 2018 citam como fonte “um relatório da Localizar Biometrics”, tradução automática do nome do site Find Biometrics, uma plataforma de informações sobre identificação biométrica e sistemas de verificação de identidade.
Em alguns casos, os textos incluem um link para o relatório, intitulado “Banco Mundial e Accenture pedem identificação universal”. No texto, é mencionado um projeto no qual a Accenture, uma consultora internacional de tecnologia, trabalhou com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
O projeto, que começou a ser desenvolvido em 2013 e teve seus testes concluídos em 2015, consistia em “carteiras de identidade para grupos de pessoas deslocadas em campos de refugiados na Tailândia, no Sudão do Sul e outros lugares”, acrescenta o relatório do Find Biometrics.
Uma busca no Google pelas palavras-chave “refugiados”, “Tailândia”, “Acnur” e “identidade” levou a uma publicação da agência da ONU sobre um novo sistema de identidade biométrica para quase 110.000 refugiados de Mianmar, na área de fronteira da Tailândia, em 2015.
O texto da agência explica que, como parte deste sistema, são registradas as impressões digitais e a íris de cada um dos refugiados para armazenar esses dados em uma carteira de identidade. “Ser capaz de verificar identidades é extremamente importante e um assunto de dignidade humana”, destacou o Acnur, em um folheto sobre o tema.
Um documento da empresa Accenture sobre o mesmo projeto acrescenta que a iniciativa resolve o problema de “como identificar rápido e com precisão uma população de pessoas deslocadas em constante mudança” nos campos de refugiados do Acnur, mediante tecnologia de captura e reconhecimento de “impressão digital, íris e rosto”.
Nem os dados do programa publicados pelo Acnur, nem as informações difundidas pela Accenture mencionam a implantação de microchips.
Objetivo 2030
Os artigos viralizados afirmam: “A ONU prevê que até o ano de 2030 cada pessoa terá uma identificação biométrica, que será válida em todo o mundo”.
Uma busca no Google pelas palavras-chave “identidade”, “ONU” e “2030” levou ao site da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que estabelece no item 16.9: “Para 2030, proporcionar acesso a uma identidade legal para todos, incluindo registro de nascimentos”.
O Acnur define a identidade legal como “as características básicas da identidade de um indivíduo, por exemplo nome, sexo, lugar e data de nascimento, conferidas mediante o registro e a emissão de um certificado por parte de uma autoridade de registro civil”. Portanto, é um conceito distinto do de identidade biométrica, que utilizam as publicações viralizadas.
Em resumo, não há registro de que a ONU tenha estabelecido o uso de chips para identificar a população até 2030. Essa alegação é baseada em um projeto de identificação para refugiados, que não utilizou chips. Para 2030, a ONU planeja que todos tenham acesso a uma identidade legal, que não tem relação com identificação biométrica.