É uma montagem a foto que mostra Lula correndo de militares durante a ditadura

  • Publicado em 12 de julho de 2023 às 22:33
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
A imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) supostamente sendo perseguido por militares durante a ditadura em 1964 é uma montagem. O conteúdo tem sido compartilhado mais de 15 mil vezes por usuários nas redes sociais desde 30 de junho. O registro original, do fotojornalista Evandro Teixeira, mostra na verdade um participante de um protesto organizado por movimentos estudantis em junho de 1968, que teve forte repressão e ficou conhecido como “Sexta-feira sangrenta”.

“Tem que fazer um quadro e eternizar essa foto em um museu. Militares botando Lula pra correr desde 1964. Esta foto não tem preço”, diz o texto sobreposto à imagem que foi compartilhada por usuários no Facebook, no Kwai e no TikTok.

Alegações similares já haviam sido compartilhadas anteriormente, desde setembro de 2017.

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Captura de tela feita em 10 de junho de 2023 de uma publicação no Facebook (.)

Na imagem, Lula supostamente aparece caindo no chão durante uma perseguição por dois militares, que portam cassetetes.

Mas o conteúdo foi manipulado: o rosto do presidente foi colocado no manifestante que tenta fugir dos policiais. Além disso, o registro não ocorreu em 1964, como alegam alguns usuários.

“Sexta-feira sangrenta”, em 1968

Uma busca no Google por notícias sobre uma suposta perseguição a Lula durante a ditadura, filtrando por imagens, levou a matérias publicadas sobre o dia conhecido como “Sexta-feira sangrenta”, quando pelo menos 28 pessoas foram mortas e mais de mil foram presas após a forte repressão a um protesto contra o regime militar no centro do Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1968.

Entre os registros desse dia, se encontra a imagem original, em que é possível perceber não ser Lula a pessoa perseguida pelos militares na ocasião.

Uma nova busca por palavras-chave utilizando o nome do autor da foto presente nos créditos, Evandro Teixeira, levou a mais informações sobre o registro. Sob o enunciado “Dois objetos e um objetivo”, a instantânea foi publicada originalmente sem crédito no pé da primeira página do Jornal do Brasil, em 22 de junho de 1968.

A imagem também faz parte do acervo digital do Instituto Moreira Salles (IMS).

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Captura de tela feita em 11 de junho de 2023 do acervo digital do Instituto Moreira Salles (.)

Sem identificação

Teixeira contou em entrevista à Folha de S. Paulo que no dia da “Sexta-feira sangrenta” trabalhava no Jornal do Brasil e estava encarregado de cobrir os protestos.

Após o registro da cena, os agentes correram em direção a Teixeira, que conseguiu escapar, segundo a mesma entrevista. O jovem perseguido não chegou a ser identificado.

O AFP Checamos já verificou outras imagens relacionadas à ditadura militar anteriormente (1, 2).

Esse conteúdo também foi checado por Agência Lupa, Aos Fatos e UOL Confere.

Referências

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