Verificamos o último debate presidencial antes do segundo turno das eleições de 2022
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 29 de outubro de 2022 às 07:16
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
O embate foi transmitido pela TV Globo e pode ser acessado em seu site.
1. Bolsonaro sugeriu que seu governo lidou melhor com o desmatamento na Amazônia: Enganoso
Bolsonaro questionou Lula sobre quem teria lidado melhor com a questão do clima, afirmando que o desmatamento na Amazônia nos primeiros quatro anos do governo do petista foi maior do que no mesmo período do seu governo.
Os dados citados pelo mandatário são corretos, mas sua interpretação é enganosa, alertam especialistas. Isso porque não levam em consideração qual era o patamar de desmatamento quando os dois mandatários assumiram o governo e qual foi a tendência ao longo de seus mandatos.
“Comparar os números brutos não faz sentido. [...] Essa comparação tinha que ser assim: os dois pegando o desmatamento no mesmo patamar e avaliar o que aconteceria com um e com outro. No caso do governo Lula houve redução, no caso de Bolsonaro teve aumento”, afirmou Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
De fato, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que quando Lula assumiu o governo a área desmatada na Amazônia era de 21,6 mil km² e quando saiu, 6,4 mil km² — uma redução de cerca de 70%. Já no governo Bolsonaro a área passou de 7,5 mil km² para 13 mil km², um aumento de aproximadamente 73%.
2. Lula disse que não houve aumento real do salário mínimo no governo Bolsonaro: Verdadeiro
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) mostram que, nos anos do governo de Bolsonaro, o aumento real do salário mínimo (com reajuste acima da inflação) foi realmente próximo a zero.
A maior taxa do período, de 1,14%, foi registrada em 2019, quando o reajuste era referente à gestão anterior, de Michel Temer.
Lula também afirmou que, em seu governo, todo ano houve aumento acima da inflação. A afirmação também é verdadeira, segundo a mesma nota técnica do DIEESE.
3. Bolsonaro disse que em seu governo “caiu o feminicídio”: Enganoso
De acordo com o Código Penal brasileiro, feminicídio é um tipo de homicídio praticado contra mulheres pelo fato de serem do sexo feminino.
Em 2018, antes de Jair Bolsonaro assumir a Presidência, houve um total de 1.229 feminicídios no país, segundo o Anuário de 2020, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Já os dados mais recentes, contidos no Anuário de 2022, mostram que houve 1.341 feminicídios em 2021. Ou seja, não houve queda no número de feminicídios de 2018 a 2021. A taxa de feminicídio a cada 100 mil mulheres também permaneceu a mesma nesses dois anos: 1,2.
A única queda registrada ao longo do mandato aconteceu de 2020 a 2021, quando o Anuário mostra que houve uma redução de 1,7%. O Anuário indica, no entanto, que apesar dessa redução, “praticamente todos os indicadores relativos à violência contra mulheres apresentaram crescimento” em 2021.
4. Bolsonaro sugeriu que foi o seu governo que criou o PIX: Enganoso
Embora o meio de pagamento instantâneo tenha sido lançado em novembro de 2020, durante o mandato de Bolsonaro, o projeto começou a ser elaborado em 2018, ainda na gestão de Michel Temer (MDB).
Em maio daquele ano, foi publicada uma primeira portaria do Banco Central instituindo um grupo de trabalho para desenvolver a ferramenta de pagamento instantâneo. Em dezembro de 2018 também foram aprovadas as características básicas da plataforma.
Quando o PIX foi efetivamente lançado, em novembro de 2020, Bolsonaro demonstrou desconhecer a ferramenta. Após um apoiador elogiar o meio de pagamento, o presidente respondeu: “Não tomei conhecimento, vou conversar esta semana com o Roberto Campos Neto [presidente do Banco Central]”.
5. Bolsonaro disse que todos os deputados do PT na Câmara “votaram contra a criação do Auxílio Brasil”: Falso
Não é verdade que a bancada do PT na Câmara dos Deputados tenha votado contra a criação do benefício. Os deputados se posicionaram, na realidade, contra a PEC dos Precatórios, uma proposta do Poder Executivo que permitiu o parcelamento de dívidas da União que já foram julgadas de forma definitiva.
O governo federal argumentou que a aprovação da PEC era necessária para pagar o Auxílio Brasil às famílias mais vulneráveis, já que o parcelamento das dívidas da União disponibilizaria mais espaço fiscal para financiar o programa. O PT, no entanto, era contra a proposta por argumentar que seria um “calote” das dívidas que a União possui.
Já o programa Auxílio Brasil foi criado a partir da Medida Provisória 1.061/2021. Portanto, a proposta do governo passou a ter efeito imediato e foi posteriormente ratificada pelo Congresso.
A MP 1.061/2021 foi aprovada pela Câmara dos Deputados sem nenhum voto contrário em 25 de novembro de 2021. O PT, portanto, está entre os partidos que aprovaram o texto-base da medida na Câmara.
No Senado, a MP foi aprovada em uma votação simbólica, na qual não há registro individual dos votos. Notas taquigráficas da sessão, contudo, mostram que senadores do PT se posicionaram de maneira favorável à aprovação.