Sob Bolsonaro, Amazônia registra tendência de alta no desmatamento
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- Publicado em 26 de outubro de 2022 às 18:35
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- Por AFP Brasil
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Em entrevista em 21 de outubro de 2022, Bolsonaro foi questionado: “O senhor sugeriu que o desmatamento era maior durante o governo Lula, mas isso não responde ou justifica o aumento que está acontecendo na sua gestão”. Exibindo um gráfico, o mandatário respondeu: “Os dados têm mostrado que em outros governos foram maiores [...] o nosso governo foi muito melhor que os anteriores”.
A imagem exibida por Bolsonaro tem sido compartilhada nas redes sociais por apoiadores (1, 2), como a deputada Carla Zambelli, desde 16 de outubro de 2022.
Os números citados foram retirados da base de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e são reais, mas se referem a áreas queimadas, não sendo usados para dimensionar o desmatamento total de uma zona, que pode acontecer por diversos fatores.
Para a mensuração da taxa de desmatamento, especialistas explicaram que é utilizado o sistema Prodes, também do Inpe, que monitora via satélite a Amazônia Legal.
Uma consulta aos dados do sistema mostra que a área total de floresta destruída durante os três primeiros anos do governo Lula (2003-2010) realmente foi maior em comparação com o mesmo período de Bolsonaro.
No entanto, ao comparar a taxa do ano imediatamente anterior ao início do governo do petista (21,6 mil km²) com a deixada ao final de seu mandato (6,4 mil km²), percebe-se que, ao longo de sua gestão, houve uma redução de cerca de 70% no desmatamento.
O mesmo cálculo com os números relativos a Bolsonaro mostra a tendência contrária: de 2018 (7,5 mil km²) a 2021 (13 mil km²), o desmatamento aumentou em cerca de 73%, como demonstrado no gráfico abaixo.
Em números absolutos, a área desmatada na Amazônia nos três primeiros anos do governo Lula foi de 25,4 mil km², 27,8 mil km² e 19 mil km².
Entre 2006 e 2015 a superfície desmatada foi reduzida significativamente e chegou aos menores patamares históricos, sobretudo no período em que Dilma Rousseff (2011-2015) esteve à frente da Presidência. A partir de então, a área destruída do bioma só aumentou: com exceção de 2017, todos os anos recentes registraram um aumento segundo os dados do Inpe.
Em 2019, o primeiro ano do governo Bolsonaro, a área desmatada foi de 10,1 mil km². Os indicadores continuaram em ascensão em 2020 (10,9 mil km²) e em 2021 (13 mil km²). Os dados de 2022 ainda não foram disponibilizados pelo órgão.
Dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostram que a área de desmatamento na Amazônia Legal foi de 9.069 km² de janeiro a setembro deste ano, a maior dos últimos 15 anos para esse período.
Dados absolutos vs. tendência
O site ClimaInfo, especializado em mudanças climáticas, confirma esses dados e avalia: “Mais que os números absolutos, o dado mais importante que a série histórica de desmatamento da Amazônia mostra são as tendências: são elas que mostram o que efetivamente cada governante fez”.
Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), concorda:
Tasso de Azevedo, coordenador do MapBiomas, iniciativa do Observatório do Clima que mapeia a cobertura e uso da terra do Brasil, também destacou em entrevista à AFP que é importante considerar qual era o patamar de desmatamento quando os dois governos começaram. Para o especialista, comparar os números absolutos dos governos Lula e Bolsonaro é como equiparar a taxa atual de inflação com os índices da década 90, quando os valores chegavam a 25% ao mês.
“Você vai dizer que a performance do governo Fernando Henrique em relação à inflação foi pior do que no [governo] Bolsonaro? Não. Porque é outro patamar, é outro momento da história. A gente jamais poderia estar ultrapassando 10 mil km² [de área desmatada]. É a mesma coisa que comparar a inflação hoje com a fase pré Plano Real. No Plano Real era outro país, outra história”, disse.
“A questão é inequívoca: o Brasil desmata mais”, conclui.
A atual tendência de aumento do desmatamento pode ser explicada, afirma Paulo Barreto, co-fundador do Imazon, pelo enfraquecimento da legislação ambiental no Brasil e a aceleração do desmatamento a partir do governo de Michel Temer (2016-2018), agora impulsionada por Bolsonaro.
“Bolsonaro potencializa isso que já estava acontecendo junto de um discurso agressivo contra os órgãos ambientais”, afirma.