O vídeo de um astro que escurece mostra um eclipse, não a conjunção de Júpiter e Saturno
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- Publicado em 12 de fevereiro de 2021 às 21:12
- Atualizado em 12 de fevereiro de 2021 às 21:12
- 4 minutos de leitura
- Por Ana PRIETO, AFP Argentina
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“No Chile já podem observar o fenômeno da conjunção de Júpiter e Saturno, formando a Estrela de Belém…”, assinala a legenda de uma das publicações compartilhadas milhares de vezes no Facebook (1, 2, 3), que incluem um vídeo de 30 segundos de duração.
A sequência acompanhada da mesma alegação circulou igualmente no Instagram, no Twitter (1, 2, 3) e no YouTube (1, 2, 3), assim como em espanhol.
O vídeo mostra diversas pessoas reunidas em uma praia, olhando para o céu, onde se pode ver um grande ponto luminoso que, após alguns segundos, escurece, enquanto a multidão ovaciona.
Mas a gravação não corresponde à conjunção de Júpiter e Saturno, o evento astronômico que ocorreu em 21 de dezembro de 2020.
Eclipse total do Sol em 2019
Uma busca pela sequência viralizada usando a ferramenta InVid-WeVerify* levou ao vídeo original, postado no YouTube em 3 de julho de 2019 e que até 12 de fevereiro de 2021 acumulava mais de 13 mil visualizações.
Na plataforma há outros vídeos similares (1, 2, 3), todos registrados na praia de La Serena (norte do Chile) durante o eclipse total do Sol que foi visto de várias regiões do país e também da Argentina em 2 de julho de 2019.
O eclipse total do Sol é descrito como “um grande evento astronômico” (1, 2) e se trata de algo pouco frequente no qual a Lua fica entre a Terra e o Sol, cobrindo este último, fazendo com que o céu fique escuro.
Em 14 de dezembro de 2020 houve outro eclipse total do Sol visível no Chile e na Argentina, que deverão aguardar até 5 de dezembro de 2048 para testemunhar um fenômeno semelhante.
A grande conjunção
O que se vê no vídeo viralizado não tem relação com o fenômeno astronômico entre Júpiter e Saturno registrado no dia 21 de dezembro de 2020.
Como explica a Nasa, o evento é conhecido como uma “grande conjunção” e ocorre a cada 20 anos, quando as órbitas de Júpiter, Saturno e da Terra se alinham.
Armando Arellano, doutor em Astronomia e pesquisador do Instituto de Astronomia da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), explicou que a conjunção é a aproximação dos planetas “no plano do céu”, e que não se trata de uma aproximação física. Inclusive, pode acontecer que durante esse tipo de fenômeno os planetas encubram um ao outro, embora seja pouco provável, acrescentou.
O astrônomo Daniel Flores, mestre em Física na UNAM e membro do Instituto de Astronomia dessa universidade, assinalou à equipe de checagem da AFP que “é um acontecimento relacionado com o movimento aparente dos planetas” e destacou que o fato de uma conjunção ser visível depende da “projeção da luz que provém dos planetas e que parecem estar juntos em um ponto da abóbada celeste”.
Embora a aproximação máxima dos planetas tenha ocorrido em 21 de dezembro, os dois se aproximavam há meses, como se pode observar em uma recriação nesta página.
A estrela de Belém?
Na tradição cristã, a chamada “estrela de Belém” guiou os sábios Melchior, Gaspar e Baltasar, também conhecidos como “reis magos”, até Maria, José e o recém-nascido Jesus.
Várias publicações viralizadas sustentam que a conjunção entre Júpiter e Saturno forma “a estrela de Belém”. Essa teoria foi proposta pela primeira vez pelo matemático e astrônomo alemão Johannes Kepler (1) no século XVII.
Outras teorias se referiam a um cometa e até a uma supernova.
A Universidade Rice explica as diferentes hipóteses sobre a suposição de que a grande conjunção se relacione com o nascimento de Jesus: “Talvez porque esse evento ocorra próximo ao Natal muitas pessoas parecem estar dizendo que essa conjunção é a famosa ‘estrela de Belém’. [...] Sempre existe um risco óbvio em relação a buscar eventos celestiais incomuns em um intervalo específico de tempo, pois você irá encontrar”.
Além disso, acrescenta que as conjunções “geralmente não aparecem como uma ‘estrela’ brilhante. São vistas como dois planetas próximos”, ainda que “estejam tão próximos que para algumas pessoas seja difícil separá-los sem uma ajuda óptica”.
*Uma vez instalada a extensão InVid-WeVerify no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisa da mesma em vários buscadores.