Não há nenhum indício de que Haddad tenha dito que depois dos 5 anos as crianças pertencem ao Estado

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  • Publicado em 26 de setembro de 2018 às 19:17
  • Atualizado em 26 de setembro de 2018 às 21:42
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  • Por AFP Brasil
Uma imagem mostrando o que supostamente seria uma frase de Fernando Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), foi disseminada por diversas contas nas redes sociais. A citação afirma, entre outras coisas, que crianças depois dos 5 anos passam a fazer parte do Estado. Não há qualquer indício de que o candidato petista tenha feito tal declaração.

“Ao completar 5 anos de idade, a criança passa a ser propriedade do Estado! Cabe a nós decidir se menino será menina e vice-versa! Aos pais cabe acatar nossa decisão respeitosamente! Sabemos o que é melhor para as crianças!”, diz o meme que foi compartilhado mais de 150 mil vezes no Facebook desde que foi publicado no último domingo, dia 23 de setembro de 2018

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Captura de tela de uma publicação no Facebook disseminando a informação sem indícios, feita 26 de setembro de 2018
 

Registros de Haddad dizendo tal coisa não foram encontrados em motores de busca ou redes sociais, como Google, Youtube, Facebook e Twitter.  Tampouco em portais de notícia. O programa de governo do PT para as próximas eleições de outubro tampouco menciona nada parecido.

Contatada pelo Projeto Comprova, a assessoria do presidenciável negou que Haddad tenha feito esta declaração.

Na última terça-feira dia 25 de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ordenou ao Facebook no Brasil retirar a imagem dentro de 48 horas. A decisão se refere somente a “Cacilda”, uma das páginas que veiculou o material. Até a publicação desta história, o meme continuava disponível através de outros perfis.

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Candidato à presidência do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores (PT) Fernando Haddad segura um bebê durante um comício em São Paulo, 25 de setembro de 2018 (AFP / Miguel Schincariol)

Desde março de 2017, uma declaração de Deborah Duprat, procuradora federal dos Direitos do Cidadão, foi tirada de contexto para dar a ideia de que as crianças são propriedade do Estado. Na ocasião, Duprat defendeu a inconstitucionalidade do projeto Escola Sem Partido. Ela afirmou ser “equivocada” a percepção de que a família tem “poder absoluto sobre a criança” e que “a Constituição diz que a criança é um problema da família, da sociedade e do Estado”.

Ex-ministro da Educação, Haddad também é contra o Escola Sem Partido. Foi na gestão do petista à frente do ministério que surgiu, em 2011, a polêmica sobre o material “Escola sem homofobia”.  Vetado pelo governo federal antes de ser lançado, críticos até hoje se referem ao mesmo como “kit gay”.

O presidenciável do PT está em segundo lugar (22%) nas pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno das eleições de 7 de outubro e ganharia no segundo turno contra o candidato de extrema direita Jair Bolsonaro (28%), segundo uma pesquisa do Ibope nesta segunda-feira 24 de setembro.

Esta investigação foi realizada com apoio do Projeto Comprova. Participaram jornalistas do Estadão, UOL, Nexo e AFP.

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