Não, o livro mostrado por Bolsonaro no Jornal Nacional não faz parte do “Kit Gay”
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 30 de agosto de 2018 às 15:56
- Atualizado em 30 de agosto de 2018 às 20:36
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
O volume apresentado pelo presidenciável na televisão, “Aparelho sexual e cia”, é a tradução de um livro francês (“Guide du Zizi sexuel”), lançado no Brasil em 2007 pelo selo juvenil da Companhia das Letras. A obra utiliza o protagonista de quadrinhos “Titeuf”, personagem famoso na França, e seu conteúdo está destinado à orientação sexual para crianças e adolescentes. A assessoria de imprensa da editora confirmou que o interior do exemplar mostrado por Bolsonaro realmente faz parte do livro. No mesmo dia, ele o mostrou em uma publicação no Facebook, afirmando que é ensinado nas escolas.
O Movimento Brasil Livre (MBL) afirmou no Twitter, também no dia 28, que o candidato pelo PSL expôs o “Kit Gay” na entrevista organizada pela Rede Globo. Outros usuários disseminaram a informação de que crianças nas escolas recebem a obra.
Mas, segundo a assessoria de imprensa da editora brasileira, o livro “nunca foi comprado pelo Ministério de Educação e Ciência (MEC), como tampouco fez parte de nenhum suposto ‘kit gay’”. A Companhia das Letras indicou, no entanto, que “o Ministério da Cultura comprou 28 exemplares em 2011, destinados a bibliotecas públicas”.
O livro, explicou a editora, conta “com uma seção chamada ‘Fique esperto’, que alerta os adolescentes para situações de abuso, explica o que é pedofilia — mostrando como tal ato é crime —, o que é incesto e até fornece o contato do Disque-denúncia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos”.
A obra foi publicada em dez línguas e vendeu mais de 1,5 milhões de exemplares e inspirou uma exposição apresentada por duas vezes na Cité des Sciences et de l’Industrie em Paris.
Em 2004, durante a primeira presidência de Lula, o governo federal lançou um projeto destinado ao combate à violência e o preconceito contra pessoas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis). Setores conservadores, alegando que o programa estimulava o homossexualismo e a promiscuidade, fizeram ferrenha oposição ao projeto e, em 2011, a campanha, realizada através de um convênio com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), foi suspendida antes mesmo de ser lançada.
Segundo um informe publicado pela organização Grupo Gay Bahia, em 2017 um total de 445 LGBT morreram no Brasil vítimas de homotransfobia. De acordo com o observatório, "nunca antes na história desse país regitraram-se tantas mortes".
Depois do cancelamento do programa, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), que participou na elaboração dos conteúdos do projeto, decidiu divulgar o “Caderno com instruções ao professores”. Boletins informativos e vídeos também são parte do material da campanha.
A informação de que o livro da francesa Hélène Bruller e do suíço Philippe Chappuis, conhecido como Zep, seria distribuído e difundido em escolas públicas começou a ser difundida por Bolsonaro no dia 10 de janeiro de 2016 através de um vídeo no Facebook. Dois dias depois, o MEC afirmou em um comunicado que “não produziu e nem adquiriu ou distribuiu o livro ‘Aparelho Sexual e Cia’”. A instituição também declarou que “não há qualquer vinculação entre o ministério e o livro, já que a obra tampouco consta nos programas de distribuição de materiais didáticos levados a cabo pela pasta”.