Não, as frutas não transmitem o vírus do HIV

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  • Publicado em 20 de maio de 2019 às 21:08
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  • Por AFP México, AFP Brasil
Um boato que circula na Internet há anos difunde, em diferentes versões, uma mesma mentira: que pessoas que comem frutas com sangue contaminado são contagiadas com o vírus do HIV. A desinformação, que somente em português foi compartilhada mais de 200 mil vezes em diferentes versões ao menos desde 2014, ressurgiu em uma publicação no final de abril deste ano. Entretanto, a doença não pode ser transmitida por essa via.

“Bananas infectadas com AIDS foram encontradas no Brasil! Até que ponto chega a crueldade do ser humano, bananas distribuídas em todos o Brasil e já foram encontradas em alguns estados”, diz uma das publicações, compartilhada mais de 100 vezes desde 11 de janeiro de 2016. “Se você perceber que a fruta contém uma cor vermelha anormal, não coma. Muitas frutas estão sendo injetadas [com] sangue contendo o vírus HIV”, diz outra publicação do mesmo ano.

A versão também circulou em espanhol, inglês e francês.

“Quem faz isso não deve ser chamado de ser humano”, “Que horror”, afirmam alguns usuários que acreditam na afirmação. Entretanto, outros a questionam: “A informação não tem qualquer fundamentação biológica! Isso porque o HIV é altamente sensível ao meio externo”

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Captura de tela feita em 17 de maio de 2019 mostra uma das publicações falsas no Facebook

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPS) descartou a possibilidade de que esses casos ocorram. “A informação sobre frutas que transmitem HIV é falsa. O vírus do HIV morre rapidamente fora do corpo [humano]. Não é possível se infectar por contatos cotidianos como beijos, abraços, nem por compartilhar objetos pessoais, água ou alimentos”, afirmou à equipe de checagem da AFP uma porta-voz da organização.

Além disso, relembrou que o HIV só pode ser transmitido das seguintes maneiras:

  • Através de relações sexuais sem proteção (vaginal, anal ou oral) com uma pessoa infectada.

  • Através de uma transfusão de sangue contaminado ou pelo uso de agulhas, seringas ou outros instrumentos afiados contaminados.

  • Entre uma mãe e seu bebê durante a gravidez, o parto ou a amamentação.

Por outro lado, técnicos do Comitê Estatal de Saúde Vegetal da Cidade do México disseram a AFP que a coloração poderia ser resultado de um fungo pouco comum nos frutos, chamado fusarium. “Às vezes entra [no fruto] por uma ferida física, transmitido por um inseto, já que às vezes são vetores”, acrescentaram os especialistas após analisarem as imagens da suposta fruta contaminada.

A Agência de Inspeção Alimentar canadense também explicou em seu site que há uma variedade de doenças que podem fazer com que o interior, neste caso das bananas, adquira uma coloração vermelha.

O boato da banana não é novo. Em novembro de 2015, o jornal The Washington Post desmentiu a publicação viral de uma mulher norte-americana que garantia que alguém estava injetando sangue com HIV nas bananas do Nebraska e que, inclusive, havia exames de hospital que comprovavam tal afirmação.

Em 2016, outra versão ganhou força. Um usuário garantiu que as bananas vendidas em uma loja do Walmart no estado norte-americano de Oklahoma haviam testado positivas para HIV. O texto afirma que uma criança faleceu após comer uma das bananas infectadas e que outros oito foram diagnosticados com o vírus. A história foi desmentida por sites norte-americanos de verificação (1, 2 e 3) e por outros especializados em HIV.

O boato do abacaxi

Uma história parecida afirma que um menino foi diagnosticado com Aids 15 dias após comer um abacaxi na rua.

Acharam o vendedor do abacaxi e ele tinha uma corte em seu dedo, e que havia cortado enquanto cortava o mesmo abacaxi que serviu ao garoto (...) Quando lhe pediram um exame de sangue, o sujeito tinha Aids, e nem sabia disso”, diz o texto da publicação que circula no Facebook desde 23 de abril deste ano, compartilhada mais de 300 vezes. 

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Captura de tela feita em 17 de maio de 2019 mostra uma das publicações falsas no Facebook

Entretanto, pelas mesmas razões que o vírus não pode ser transmitido por bananas, tampouco esse menino pode ter se contaminado com HIV por ter comido um abacaxi.

Em novembro de 2015, o site de verificação norte-americano Snopes se referiu a esse rumor.

O conto das laranjas

O rumor também circula nas redes sociais desde o final de 2014 com versões sobre laranjas infectadas com HIV em português, espanhol (1, 2), inglês (1, 2, 3, 4), francês (1) e árabe.

“Emergência!!! Foi recuperada uma grande quantidade de laranjas que vinham da Líbia, estas Laranjas estão injetadas [com] sangue contaminado por HIV SIDA, por favor compartilhe essa mensagem”, diz uma das publicações em português sobre o rumor, compartilhada mais de 218 mil vezes.

Os especialistas em saúde vegetal consultados pela AFP especificaram que, no caso das laranjas, além de bactérias ou fungos, a coloração poderia indicar que se tratam de laranjas sanguíneas, uma variação da fruta cuja cor avermelhada se deve à presença de um pigmento bastante comum em algumas flores. 

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Captura de tela feita em 17 de maio de 2019 mostra uma das publicações falsas no Facebook

Em resumo, segundo os especialistas consultados, é falso que o vírus do HIV possa ser transmitido através de frutas supostamente injetadas com sangue infectado, já que o vírus não sobrevive fora do corpo humano. Por sua vez, a coloração avermelhada que pode aparecer em diversas frutas pode ser causada por bactérias ou fungos durante o processo de cultivo.

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