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Não, esta foto não mostra uma mulher francesa cristã sendo espancada por imigrantes
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- Publicado em 27 de dezembro de 2018 às 12:50
- Atualizado em 27 de dezembro de 2018 às 16:10
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil, AFP Canadá
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“Uma mulher francesa, branca, certa e, provavelmente, também, cristã sendo covarde e, brutalmente, espancada por imigrantes muçulmanos, todos homens, de maioria negra, em pleno centro da capital, Paris. A ONU chama isso de caridade, direito humano e apoio a diversidade cultural”, diz a postagem que foi compartilhada mais de 5.000 vezes no Facebook desde que foi publicada no dia 16 de dezembro.
“O preocupante não é ser em Paris e, sim, emigrante querendo impor suas aberrações nos países que eles invadiram sem serem queridos”, diz um internauta. Outra usuária escreveu: “Muito triste uma chacina com platéia, pobre mulher, o mundo está ficando muito feio!”.
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Checamos a informação. A partir dos metadados da foto original, verificamos que a imagem foi realizada às 18:46 (hora local), no dia 14 de novembro de 2009, em Paris, nos arredores da Escola Militar, na altura do número 39 da Avenida de La Motte-Picquet, próximo à Torre Eiffel.
A imagem que ilustra a postagem com a informação fora de contexto é do fotógrafo Lucas Dolega, a serviço da agência EPA. Dolega morreu no dia 17 de janeiro de 2011 depois de ser gravemente ferido em confrontos ocorridos dias antes em Túnis, capital da Tunísia.
Naquele dia de 2009, cerca de 7.000 pessoas foram às imediações do emblemático monumento parisiense devido a uma promessa da companhia belga Rentabiliweb de distribuir dinheiro ao público, como parte de uma campanha de promoção do serviço de descontos on-line “Mailorama”.
A anulação do evento por parte de seus organizadores provocou a indignação de muitos dos que compareceram. Um veículo foi vandalizado, projéteis foram lançados contra policiais e ao menos dois jornalistas foram hostilizados.
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A foto em questão, na verdade mostra um cinegrafista homem sendo agredido. Contatado pela AFP, o fotógrafo Olivier Coret, que estava na cena e fotografou o incidente, esclareceu: “Ele não foi atacado por causa de sua cor de pele, mas porque ele estava filmando os jovens afrontando a polícia”.
Sobre os autores do ato, Coret afirmou que “se tratam de jovens do subúrbio de Paris”. O fotógrafo também declarou que “é preciso notar que eles saíram sem ferimentos graves pois pessoas do grupo acalmaram a coisa”.
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No dia, a então prefeita do bairro (a sétima circunscrição de Paris), Rachida Dati, considerou a campanha da empresa belga uma “provocação irresponsável e inaceitável”.
Diversas versões falsas ou enganosas sobre atos de violência por parte de imigrantes e manifestantes na França se espalham pelas redes sociais desde que as manifestações dos “Coletes Amarelos” começaram em novembro. Várias (1, 2) delas foram desmentidas pela equipe de checagem da AFP.