O Reino Unido não tem um plano de “confinamento permanente” a partir de 15 de julho de 2021
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- Publicado em 8 de julho de 2021 às 21:50
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- Por Taylor THOMPSON-FULLER, AFP Nova Zelândia e Ilhas do Pacífico, AFP Brasil
“O ‘médico inglês Fauci’, Neil Ferguson, avisa aos colegas que vão lançar um novo lockdown no Reino Unido neste verão, inventando a existência de uma ‘cepa nepalesa’, num plano aterrorizante até 2025”, diz uma das publicações, que compartilha a captura de tela de uma suposta carta em inglês intitulada: “Próximos passos - Confinamento permanente do Reino Unido (Privado e confidencial)”.
A captura de tela circula amplamente no Facebook (1, 2, 3) e Twitter (1, 2, 3), assim como em publicações em espanhol, francês e inglês.
A imagem que acompanha as publicações mostra uma suposta carta de “Neil M Ferguson” que teria sido enviada a médicos e epidemiologistas britânicos em 14 de junho de 2021. Alguns usuários chamam Ferguson de “Fauci inglês”, em uma referência ao imunologista norte-americano que também foi alvo de peças de desinformação, algumas já verificadas pela AFP (1, 2).
O professor Neil Ferguson é um epidemiologista da universidade britânica Imperial College London. Ele foi assessor do governo do Reino Unido e ajudava a coordenar a resposta à pandemia, mas em maio de 2020 renunciou ao cargo após a imprensa noticiar que ele havia desrespeitado o isolamento social, recebendo a visita de uma mulher em sua casa. “Eu aceito que cometi um erro de julgamento e tomei a decisão equivocada”, disse.
A carta assegura que o Reino Unido “se moverá em direção a um confinamento permanente” a partir de 15 de julho. “A razão para fazê-lo é um aumento nas novas ‘variantes’ indiana e nepalesa do ‘vírus’ (que, como já sabemos, é apenas uma reformulação da rinite alérgica)”, diz o documento. A variante indiana, também conhecida como Delta, é uma das mais contagiosas de covid-19.
A variante nepalesa é, por sua vez, uma mutação da Delta, como aponta este artigo do veículo australiano The Conversation.
Em algumas das publicações em inglês, a captura de tela do documento é acompanhada pela descrição: “E-mails vazados Imperial College London, por favor, compartilhem em todos os lugares”.
Até 8 de julho de 2021, o Departamento de Saúde e Assistência Social (DHSC) do governo do Reino Unido não havia feito nenhum anúncio sobre um “confinamento permanente” no país.
Em resposta às publicações viralizadas, o Imperial College London emitiu um comunicado em 18 de junho de 2021, explicando que a imagem compartilhada nas redes é “falsa”.
“Esse memorando falso intitulado ‘Próximos passos - Confinamento permanente do Reino Unido (Privado e confidencial)’ não foi escrito por Neil Ferguson. Essa peça de desinformação totalmente falsa foi construída e difundida por extremistas e não tem nenhuma associação com o Imperial College London, com o governo do Reino Unido ou com seus assessores científicos.”
Na verdade, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou no último dia 5 de julho que não será mais obrigatório usar máscaras ou respeitar o distanciamento social no país a partir de 19 de julho. Johnson estimulou os cidadãos a “aprenderem a viver” com o novo coronavírus, sendo prudentes.
Embora o número de novos casos tenha disparado para cerca de 25.000 por dia no início de julho devido à variante Delta, graças às vacinas isso não se traduziu em um aumento acentuado de hospitalizações e mortes, disse Johnson, ao justificar sua decisão de acabar com todas as imposições legais.
Diferentes níveis de restrições foram aplicados no País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte mas, até 8 de julho, nenhum anúncio indicava planos para um “confinamento permanente no Reino Unido”, como asseguram as publicações viralizadas.
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