Vídeo de porta-voz da Casa Branca mencionando possível uso de poder militar dos EUA é anterior à prisão de Bolsonaro

  • Publicado em 26 de novembro de 2025 às 15:57
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil

Considerado sob risco de fuga, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi preso preventivamente em 22 de novembro de 2025. Neste contexto, um vídeo soma mais de 10 mil interações nas redes sociais ao supostamente mostrar a porta-voz da Casa Branca anunciando “uma resposta militar” dos Estados Unidos à prisão do ex-mandatário brasileiro. Mas a gravação é de setembro de 2025, quando a representante afirmou que Trump “não teria medo de usar o poder econômico e militar” do país para proteger a liberdade de expressão no mundo, no contexto do julgamento de Bolsonaro.

“Presidente americano dos Estados Unidos, Donald Trump anuncia o uso de resposta militar em relação ao caso da prisão de Bolsonaro”, dizem as postagens que circulam no X, no Instagram e no Facebook.

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Captura de tela feita em 24 de novembro de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

Na gravação, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, responde a uma pergunta sobre o Brasil em uma coletiva de imprensa. No trecho viral, em inglês, ela diz: “A liberdade de expressão é a questão mais importante da nossa época (...) Por isso, tomamos medidas significativas em relação ao Brasil, tanto com sanções quanto no uso de tarifas, para garantir que países ao redor do mundo não punam seus cidadãos dessa forma”.

Em seguida, ela comenta uma eventual postura que poderia ser adotada pelo governo norte-americano. “Não tenho ações adicionais para anunciar hoje, mas posso dizer que essa é uma prioridade e o presidente não tem medo de usar o poder econômico e militar dos EUA para proteger a liberdade de expressão no mundo”.

Em 22 de novembro de 2025, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso preventivamente pela Polícia Federal (PF) por violar sua tornozeleira eletrônica e representar “elevado risco de fuga”, de acordo com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. 

No dia anterior, o senador e filho do ex-presidente, Flávio Bolsonaro (PL), havia convocado apoiadores para “uma vigília pela saúde de Bolsonaro e pela liberdade do Brasil” em frente ao condomínio onde o pai cumpria prisão domiciliar, em Brasília.

No entendimento do ministro, o ato configuraria “risco à ordem pública” e poderia criar um “ambiente propício” para uma possível fuga do ex-presidente em meio à multidão concentrada nas imediações de sua residência. 

Na ocasião, a Primeira Turma do STF corroborou a decisão de Moraes e manteve a prisão preventiva do ex-mandatário até se esgotarem os prazos dos recursos de sua defesa contra a condenação pela trama golpista. 

Com o fim do prazo, Moraes determinou o início de cumprimento da pena do ex-presidente Jair Bolsonaro em 25 de novembro de 2025.

Mas a gravação viral não mostra um anúncio da porta-voz norte-americana após a prisão do ex-mandatário.

Pronunciamento durante julgamento no STF

Uma busca reversa por fragmentos da sequência levou a registros da mesma fala em artigos de imprensa datados de 9 de setembro de 2025 (1, 2), durante o julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal.

Os portais informaram que, naquele momento, a porta-voz respondia a uma pergunta do jornalista Michael Shellenberger sobre a possibilidade de novas sanções contra o Brasil em caso de condenação do ex-presidente. Na mesma data, o STF havia retomado o julgamento de Bolsonaro e outros sete réus pela tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023. 

Na época, o governo dos Estados Unidos havia imposto tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e aplicado a Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes em represália ao julgamento do ex-presidente.

Não foi encontrado qualquer registro de declaração do tipo após a recente prisão preventiva de Bolsonaro. Conforme reportaram meios de comunicação do país, após ser informado sobre a detenção, Donald Trump afirmou que a notícia era “uma pena”.

Nos últimos meses, o presidente norte-americano se reaproximou do governo brasileiro, após meses de tensões entre os países. Em 26 de outubro de 2025, Trump se reuniu com Lula em uma reunião que classificou como “muito boa”, em Kuala Lumpur, capital da Malásia.

Em 20 de novembro, os Estados Unidos também anunciaram uma redução de 40% nas tarifas sobre carne, café e outros produtos brasileiros.

O AFP Checamos já verificou outras alegações sobre a prisão de Jair Bolsonaro (1, 2).

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