
Ponte sobre o Rio Araguaia não teve obra paralisada no governo Lula; impasse judicial atrasa entrega
- Publicado em 25 de julho de 2025 às 20:19
- 5 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Lula se recusa a terminar ponte que Bolsonaro deixou quase pronta”, diz uma das publicações que compartilham o vídeo no Facebook, no Instagram, no X, no TikTok, no Telegram e no Kwai.

Na gravação viral, um homem filma uma fila de pessoas esperando para atravessar um rio em uma balsa que transporta motos, carros e caminhões. Na filmagem, ele também mostra uma ponte inacabada que diz ter sido construída durante o governo Bolsonaro para melhorar a travessia da população e que supostamente estaria abandonada há três anos, desde a chegada de Lula à Presidência.
“Este é o resultado de ter um governo incompetente. Um governo que não quer ver o desenvolvimento do Brasil”, diz ele no trecho final da gravação.
A equipe de checagem do Comprova, projeto de verificação colaborativo do qual o AFP Checamos faz parte, realizou uma busca por palavras-chave no Google com os termos “ponte” e “São Geraldo do Araguaia”, local em que o homem diz ter filmado o vídeo. A busca levou a informações publicadas pelo governo federal sobre a construção de uma ponte sobre o Rio Araguaia, entre os municípios de Xambioá (PA) e São Geraldo do Araguaia (TO).
Uma delas, publicada em 8 de agosto de 2022, ainda no governo Bolsonaro, afirmava que as obras estavam 70% concluídas, mostrando uma imagem da parte central da ponte somente com os pilares de sustentação, sem a pista. Já outra, de dezembro de 2022, mencionava um avanço nas obras, com 100% da infraestrutura em lâmina d’água - estrutura que fica abaixo do nível da água - concluída, além de 93,93% dos pilares e travessas, e 84,73% do trecho convencional executados. A matéria não informou, porém, o percentual do empreendimento executado no total.
A mesma pesquisa indicou que em 2024 (já no governo Lula), o DNIT anunciou que a estrutura da ponte estava 99,16% construída, mas que as obras dos acessos estavam em fase de finalização de projetos para que as desapropriações pudessem ser iniciadas.
O Comprova também buscou imagens de 2022 e 2025 no Google Street View e registros de satélite no navegador Copernicus, plataforma da União Europeia que monitora o planeta por meio de imagens de satélites e sensores, para identificar mudanças ocorridas na ponte durante o período.
Uma consulta ao Portal da Transparência mostrou que o governo federal manteve o repasse de recursos públicos para a construção da ponte a partir de 2023, primeiro ano do atual mandato petista.
O empreendimento também constava no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) lançado pelo governo Lula em agosto de 2023, em uma lista de projetos em continuidade anunciados pela administração federal.
Ao Comprova, o DNIT informou que um dos entraves para a construção dos acessos que faltam na ponte é o processo de desapropriação e indenização dos indivíduos que moram próximos ao local. O órgão afirmou que contratou os serviços de encabeçamento da ponte em 2023 e, desde então, “estão em curso os processos de desapropriação necessários, conduzidos por meio de conciliações judiciais”.
Na parte do Tocantins, o processo de conciliação foi concluído no primeiro semestre deste ano. Para a resolução dos entraves do lado paraense, estão marcadas as primeiras audiências para 6 e 7 de agosto. “O DNIT reforça que está empenhado na conclusão das obras e trabalha para garantir a funcionalidade da ponte ainda em 2025”.
Demanda antiga
A construção da ponte sobre o Rio Araguaia é uma demanda antiga por parte dos dois estados, sobretudo para melhorar o escoamento da produção agrícola no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, região chamada Matopiba. Sem a ponte, a travessia de automóveis é feita por meio de balsas operadas pela empresa Pipes.
O contrato para a construção da ponte foi assinado em 2017, no governo de Michel Temer (MDB). As obras, no entanto, só começaram em 2020, no governo Bolsonaro. Na época, a previsão de entrega era em setembro de 2022, prazo que não foi cumprido.
O empreendimento, que teve um custo inicial estimado de R$ 132 milhões, foi reavaliado em R$ 157 milhões após uma ordem de serviço posterior e, em julho de 2025, já tem seu custo final estimado em mais de R$ 200 milhões.
O AFP Checamos já verificou outras alegações semelhantes sobre a mesma ponte entre os estados do Tocantins e do Pará (1, 2).
Este texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas do Correio Braziliense e do Jornal do Commercio. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.
Referências:
- Matérias do governo federal sobre a construção da ponte sobre o Rio Araguaia (1, 2, 3, 4)
- Informações sobre a construção da ponte no Portal da Transparência
- Publicação do governo federal com a lista de projetos em andamento no PAC