Netanyahu cita urânio em entrevista à Fox News, mas não diz que país ocidental forneceu o minério para o Irã

  • Publicado em 23 de junho de 2025 às 17:56
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Sob a justificativa de frear o desenvolvimento de uma arma nuclear, Israel lançou um ataque sem precedentes contra o Irã em 13 de junho de 2025, dando início a uma nova ofensiva entre os países. Nesse contexto, circula nas redes sociais a alegação de que o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, teria dito à Fox News que um país ocidental forneceu urânio ao Irã. Isso é falso. As postagens, visualizadas mais de 18 mil vezes, se baseiam no trecho de uma entrevista na qual Netanyahu acusa o Irã de enriquecer urânio para fins militares, mas não diz que o Ocidente teria fornecido o minério ao país. 

“Segundo informações, algum país do ocidente forneceu urânio para nutrir armas nucleares no Irã”, diz o trecho de legenda que circula com um vídeo no Instagram, no Facebook, no X e no Telegram

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Captura de tela feita em 18 de junho de 2025 de uma publicação no X (.)

No vídeo, Netanyahu concede uma entrevista exclusiva à Fox News sobre a nova onda de ataques cruzados entre Israel e Irã, iniciada no último dia 13 de junho após uma ofensiva israelense que mirou instalações nucleares e militares iranianas, sob a justificativa de que Teerã estava prestes a desenvolver uma arma nuclear.

Os ataques deixaram mais de 400 mortos do lado iraniano, segundo um balanço oficial, enquanto a resposta do Irã, iniciada no mesmo dia, matou ao menos 25 pessoas em território israelense.

Mas, diferentemente do que alega o conteúdo viral, Netanyahu não disse nesta entrevista que um país do Ocidente forneceu urânio para o Irã. 

Entrevista dias após o início dos ataques 

Uma pesquisa no Google com os termos “Netanyahu” e “Fox News” levou a uma entrevista publicada pelo veículo de comunicação em seu canal no YouTube em 15 de junho de 2025, dois dias após o início dos ataques.  

No vídeo, é possível ver Netanyahu no mesmo cenário e com a mesma vestimenta vista nas peças de desinformação. 

Durante a entrevista para o jornalista Bret Baier, o primeiro-ministro respondeu perguntas sobre os motivos para a ofensiva isralense no território iraniano e um possível cessar-fogo, sobre a reação dos Estados Unidos com o novo conflito e sobre a guerra contra o movimento islamista Hamas, iniciada em 7 de outubro de 2023. 

De fato, houve citações ao urânio durante a entrevista. Ao ser questionado sobre o motivo que levou ao ataque, o premiê respondeu que a Inteligência do país identificou duas ameaças iranianas: 

“Primeiro, a ameaça do Irã apressar-se para transformar seu urânio enriquecido em armas atômicas com um propósito específico e declarado de nos destruir. Em segundo lugar, uma corrida para aumentar o arsenal de mísseis balísticos de forma que eles teriam 3.600 novas armas por ano, dentro de três anos, 10.000 mísseis balísticos, cada um pesando uma tonelada”, diz Netanyahu, em inglês, no início de sua fala. 

Segundo o premiê, o ataque visava evitar um holocausto nuclear. Ele cita em outras oportunidades (1, 2, 3) que o Irã estaria enriquecendo urânio para fabricar armas nucleares e que a capacidade seria para a produção de nove bombas atômicas. 

O trecho compartilhado nas peças de desinformação foi retirado a partir de 7 minutos e 8 segundos da entrevista, quando Netanyahu afirma que a Inteligência isralense identificou que o Irã pretendia fornecer armas nucleares aos rebeldes huthis do Iêmen. 

Mas ele não cita, nesse trecho e em nenhum outro momento da entrevista, que algum país do Ocidente tenha fornecido urânio ao Irã. 

As autoridades iranianas, por sua vez, negam as acusações de Israel sobre o desenvolvimento de uma arma nuclear.  

O Checamos já verificou outros conteúdos sobre a nova escalada no conflito entre Israel e Irã (1, 2, 3). 

Esse conteúdo também foi checado pelo Estadão Verifica

Referência

Entrevista do Netanyahu para a Fox News de 15 de junho de 2025 

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