Míriam Leitão não publicou artigo dizendo que “rombo no INSS” é “luz no fim do túnel” para economia

  • Publicado em 21 de maio de 2025 às 21:34
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Em abril de 2025, foi revelado um esquema de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) envolvendo descontos ilegais e desvios de benefícios previdenciários para associações e sindicatos. Nesse contexto, publicações que acumulam dezenas de milhares de interações nas redes sociais desde 14 de maio de 2025 afirmam que a jornalista Míriam Leitão teria publicado, no jornal O Globo, um artigo sob o título: “Rombo no INSS é a luz no fim do túnel para a salvação da economia e controle da inflação”. Isso é falso: não há nenhum texto desse teor na coluna da jornalista e ela negou a autoria. 

“Rombo no INSS é a luz no fim do túnel para a salvação da economia e controle da inflação” é o suposto título de uma coluna da jornalista Míriam Leitão no jornal O Globo, compartilhada no Facebook, no Instagram, no YouTube e no X.

A imagem apresenta elementos visuais que se assemelham aos do jornal do Grupo Globo. Abaixo do título, o texto diz: “Descontos nos benefícios deixam o aposentado com menos recursos, o que o faz gastar menos. Diminuindo a circulação de dinheiro na economia, a inflação recua.”

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Captura de tela feita em 21 de maio de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

O conteúdo circula em meio à investigação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) que revelou um suposto esquema de descontos ilegais de aposentados e pensionistas do INSS, realizados por sindicatos e associações. 

O caso tem sido alvo de uma disputa de narrativas entre apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a oposição, que vivem uma queda de braço para atribuir a responsabilidade pela fraude que, segundo estimativa da PF, levou ao desconto indevido de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024

Ao insinuar que a colunista Míriam Leitão estaria minimizando o caso, as publicações viralizadas se inserem em uma onda de desinformação que atinge jornalistas, inventando falas e distorcendo acontecimentos para sugerir que há uma parcialidade geral da imprensa a favor do atual presidente Lula. O AFP Checamos já verificou outros conteúdos que seguem esse mesmo formato.

Mas não é verdade que a jornalista tenha publicado o texto viralizado.   

Uma pesquisa pelos textos publicados na coluna de Míriam Leitão no jornal O Globo não exibiu nenhum artigo com o teor compartilhado nas redes. Tampouco há registros sobre isso na imprensa ou em uma busca no Google com palavras-chave.

Em 13 de maio, data em que supostamente o texto teria sido publicado, segundo a imagem viral, a coluna da jornalista tratou da valorização do real, tarifas entre Estados Unidos e China, privatização das estatais, parceria comercial entre o Brasil e a China, Banco Central e a alta de juros, crescimento do comércio em abril e a retomada das negociações entre os Estados Unidos e China. O único artigo mencionando a fraude do INSS informa sobre o ressarcimento das vítimas.

Além disso, a captura de tela viralizada apresenta inconsistências quando comparada a textos efetivamente publicados na coluna de Leitão. 

A peça de desinformação mostra, por exemplo, um ponto final no título, padrão que não é usado pelo jornal. Outro erro aparece na parte de cima da coluna: na página verdadeira do veículo é exibido o numeral “100”, em referência ao centenário do Grupo Globo, ao lado do logo do jornal –, o que não é visto na imagem viral. Os textos autênticos da coluna exibem também a assinatura do jornalista que escreveu a matéria acima da data, o que tampouco consta na imagem compartilhada nas redes.

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Comparação feita em 19 de maio de 2025 entre capturas de tela de uma publicação no X (E) e de uma reportagem publicada na coluna de Míriam Leitão no jornal O Globo (.)

Em seu perfil no X, a jornalista negou a autoria do texto e compartilhou uma checagem do Fato ao Fake, na qual declarou: “Eu nunca escrevi isso, nem escreveria. Tenho defendido o oposto: que o governo precisa ser eficiente e rápido em devolver o dinheiro às pessoas lesadas por esse roubo”

“Esse raciocínio é tosco, e eu evidentemente jamais o formularia. Está claro que é falsificado por quem tenta tirar a credibilidade de quem está dizendo, como eu, que é preciso investigar tudo nesse roubo que começou no governo Bolsonaro”, complementou Leitão.

Referências

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