Empresa investigada por repasses a Michelle Bolsonaro não está entre as citadas por fraude no INSS

  • Publicado em 21 de maio de 2025 às 21:35
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Em meio à repercussão da investigação sobre descontos não autorizados em benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), publicações nas redes sociais circulam desde 8 de maio de 2025 com a alegação de que uma empresa que supostamente desviou R$ 32 milhões do órgão pagou despesas do cartão de crédito da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Mas os conteúdos são embasados em uma notícia de 2023 sobre uma investigação contra a Cedro do Líbano Comércio de Madeira e Materiais para Construção, empresa que não está envolvida na operação antifraude de 2025.  

“Empresa investigada por roubar 32 milhões dos aposentados do INSS pagava cartão de crédito de Michelle Bolsonaro”, dizem publicações que acumulam mais de 34 mil interações no Instagram, no Threads, no Facebook, no X e no TikTok

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Captura de tela feita em 19 de maio de 2025 de uma publicação no X (.)

O conteúdo circula após a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) divulgarem em 23 abril de 2025 a Operação Sem Desconto, que investiga descontos associativos não autorizados em benefícios do INSS. 

A operação investiga o movimento de R$ 6,3 bilhões descontados entre 2019 e 2024, sendo que parte ainda indefinida seria ilícita.  

As peças de desinformação são compartilhadas com um link ou com a captura de tela de uma reportagem da Mídia Ninja, publicada em 29 de julho de 2023 com o título “Empresa suspeita de pagar despesas de Michelle Bolsonaro moveu R$ 32 milhões; ‘incompatível’, diz Coaf”. 

Mas, diferentemente do que alega o conteúdo viralizado, a empresa citada na notícia não está entre as entidades associativas investigadas por fraude em 2025. 

Investigação diferente 

O texto da Mídia Ninja, com informações do jornal O Estado de S. Paulo, informa que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou que a empresa Cedro do Líbano Comércio de Madeira e Materiais para Construção movimentou R$ 32 milhões de 2020 a 2023. 

O Coaf considerou o montante incompatível com o porte e a atividade financeira da empresa, que estava sob investigação da Polícia Federal por contratos suspeitos com a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro e por repassar valores a Luis Marcos dos Reis, um militar da equipe de Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. 

O militar teria recebido valores da companhia e, posteriormente, pago despesas de um cartão de crédito usado pela então primeira-dama Michelle, além de ter repassado valores para outras pessoas ligadas a ela. 

Em maio de 2024, a CGU instaurou um processo administrativo de responsabilização (PAR) contra a empresa por “pagamento de vantagens indevidas a servidor público”

Empresa não consta na lista de investigados em 2025 

Uma consulta no Google com os termos “entidades” e “fraudes INSS” levou a diferentes notícias da imprensa nacional com a lista das 12 entidades que estão, até então, sendo investigadas pelos descontos não autorizados em benefícios da previdência social (1, 2, 3). Todas são entidades associativas ou sindicatos ligados a aposentados e pensionistas. Um total de 31 entidades estão sob suspeita.

A Cedro do Líbano, que tem atuação no ramo madeireiro, não consta em nenhuma das listas. 

As entidades investigadas por fraudes no INSS em 2025 supostamente ofereciam serviços como planos de saúde. 

No entanto, as investigações mostram que algumas dessas associações tampouco tinham estrutura para isso e que, em muitos dos casos, as assinaturas dos beneficiários eram falsificadas. 

A CGU confirmou ao Checamos, em 20 de maio de 2025, que a Cedro do Líbano não está entre as empresas investigadas pelas fraudes no INSS: “As entidades atualmente sob investigação são aquelas cujos Processos Administrativos de Responsabilização (PAR) foram instaurados pelo INSS, por meio de portaria, e posteriormente avocados pela Controladoria-Geral da União (CGU)”

A nota enviada por e-mail relembra, ainda, o processo instaurado em 2024 contra a empresa, que segue em andamento. 

“A investigação da CGU teve início a partir de denúncia de que a empresa Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais para Construção Ltda, com sede no município de Goiânia (GO), teria efetuado transferências financeiras ao então auxiliar da Ajudância de Ordens da Presidência da República, sargento Luis Marcos dos Reis”, informou o órgão. 

O Checamos já verificou outros conteúdos sobre a investigação de fraudes no INSS em 2025 (1, 2). 

Referências

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