Jornalista interrompeu leitura de manchete por ser repetida, e não por ser negativa ao governo

  • Publicado em 2 de fevereiro de 2024 às 18:43
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
A imprensa brasileira informou em 29 de janeiro de 2024 que o déficit das contas públicas no primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi de R$ 230,5 bilhões. Após isso, publicações visualizadas mais de 330 mil vezes nas redes sociais desde o dia 31 desse mês compartilham um vídeo em que um jornalista interrompe a leitura de uma manchete sobre o assunto, alegando que ele se recusou a dar a notícia. Mas, na verdade, a capa de jornal exibida no vídeo era repetida e já havia sido lida pelo apresentador em 30 de janeiro, como confirmou a RBS TV, responsável pelo programa. 

“MILITÂNCIA JORNALÍSTICA Jornalista trava e se recusa a ler notícia sobre rombo de 230 BILHÕES nas contas do Governo Lula. A única forma de se informar hoje é pelas redes sociais. Compartilhe!”, lê-se na legenda que acompanha o vídeo no X, no Facebook, no Instagram, no Kwai e no TikTok

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Captura de tela feita em 1º de fevereiro de 2024 de uma publicação no X (.)

No início da sequência viral é possível identificar que se trata do jornal Bom Dia Rio Grande, apresentado por Josmar Leite. No recorte compartilhado, ele avisa que vai ler as capas de jornais do dia 31 de janeiro, mas interrompe a leitura da primeira manchete dizendo: “A gente já volta com as capas dos jornais que a gente está apresentando agora, as capas não estão certas. A gente vai retificar e em seguida a gente traz as capas certinhas dos jornais de hoje”

O vídeo viral começou a ser compartilhado após a imprensa brasileira noticiar (1, 2, 3), em 29 de janeiro de 2024, que o déficit das contas públicas no primeiro ano do governo Lula foi de R$ 230,5 bilhões. 

A notícia repercutiu nas redes sociais, principalmente entre opositores ao governo, ficando entre os assuntos mais comentados do X em 31 de janeiro com os termos “230 bilhões”

A alegação que acompanha o vídeo viral ganhou diferentes versões que também apontam para uma suposta proibição da Rede Globo e que o apresentador “travou ao vivo” ao noticiar o rombo, afirmação compartilhada (1, 2, 3), por exemplo, pelo deputado federal e pré-candidato à Prefeitura de Niterói, Carlos Jordy (PL).

Mas a interrupção da leitura pelo jornalista se deu porque a capa era do dia anterior, e não de 31 de janeiro, data da exibição do telejornal viralizado. 

Manchete do dia anterior 

Ao buscar “Bom Dia Rio Grande 31 de janeiro” no Google, é possível ver a edição na íntegra do programa. Assim como mostra o recorte viral, o apresentador afirma, aos 10 minutos e 50 segundos, que as capas “não estão certas”. Depois de interromper a leitura, o apresentador lê três manchetes diferentes aos 17 minutos e 20 segundos. 

Uma nova busca no Google pelas palavras-chave “capa jornal ZH janeiro de 2024” levou à imagem que aparece no trecho viral. Nela, é possível identificar que se trata de uma manchete do dia 30 de janeiro de 2024 do jornal Zero Hora, pertencente ao grupo RBS

Uma consulta à edição desse dia do programa mostrou que a mesma manchete do vídeo viral sobre o déficit nas contas públicas foi lida normalmente pelo apresentador na ocasião. 

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Comparação feita em 1º de fevereiro de 2024 entre capturas de tela de uma publicação no X (E) e a íntegra do Bom Dia Rio Grande de 30 de janeiro de 2024 no Globoplay (.)

Outra consulta, dessa vez pela capa do jornal de 31 de janeiro de 2024, permitiu confirmar se tratar da mesma lida posteriormente pelo jornalista na edição do programa desse dia, após a correção das imagens na tela. 

A leitura das manchetes do dia, de jornais impressos, acontece diariamente no programa ao vivo. A escolha das capas é feita considerando a mesma data em que o programa está sendo exibido, como é possível confirmar em outras edições. 

Após a repercussão do vídeo, a RBS TV, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul, se pronunciou em seu perfil no X confirmando que o jornalista interrompeu a leitura devido à repetição da capa do dia anterior e compartilhou os trechos dos dois programas para comprovar o ocorrido. 

Essa alegação também foi verificada pelo Fato ou Fake

Referências 

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